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Oito pessoas foram mortas em linchamentos em uma semana em Bangladesh por causa de boatos sobre sacrifícios humanos destinados a permitir a construção de uma grande ponte, informou a polícia nesta quarta-feira (24).

Os boatos, que se espalharam pelo Facebook, alegavam que havia sequestradores de crianças tentando obter cabeças humanas para entregar como oferenda para a construção de uma enorme ponte de 3 bilhões de dólares que está sendo construída no Padma, uma extensão do rio Ganges em Bangladesh.

"Investigamos cada uma dessas oito mortes. De todos os mortos por uma multidão de linchadores, nenhum era sequestrador de crianças", declarou o chefe da Polícia Nacional, Javed Patwary, em uma entrevista coletiva na capital Daca.

Mais de 30 pessoas foram atacadas em incidentes relacionados aos boatos. Delegacias de polícia em todo o país foram ordenadas a tomar medidas contra esta informação falsa. Assim, pelo menos 25 contas do YouTube, 60 páginas do Facebook e 10 sites foram fechados.

No entanto, a AFP identificou várias mensagens que continuam a propagar o rumor no Facebook. Os linchamentos são frequentes em Bangladesh, mas essa nova onda é particularmente brutal.

Entre as vítimas há uma mãe solteira de dois filhos, Taslima Begum, que foi espancada até a morte no sábado em frente a uma escola de Daca por um grupo que suspeitava que ela fosse uma sequestradora de crianças. Um homem surdo foi linchado nos arredores da capital no mesmo dia quando visitava sua filha.

No dia 13 de abril de 2017, Cristiano Severino dos Santos foi assassinado no bairro de Afogados, Zona Oste do Recife, após ser confundido com o autor de furtos na localidade. Cristiano foi espancado até a morte, com pauladas, pedradas, socos e golpes de facão. Seu corpo foi atirado em uma vala. Ele era alcoólatra e estava perdido na comunidade, onde alguns de seus familiares residem. Segundo a investigação, não houve chances de reagir ou de se explicar.

O delegado Igor Leite, responsável pelo caso, indiciou cinco pessoas por homicídio qualificado. Os acusados foram presos em junho. Três deles não tinham passagem pela polícia. “Notamos um aumento de ocorrências desse tipo, não necessariamente de casos que resultam em mortes, mas de atos violentos antes da chegada da PM”, conta o delegado. O vídeo a seguir mostra uma ação de populares em março deste ano, no bairro de Santo Antônio, Centro do Recife, contra um acusado de assalto.

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Uma consequência corriqueira dessas atitudes é quando um inocente é atacado por engano, como aconteceu com Cristiano. No livro Linchamentos - A justiça Popular no Brasil, o sociólogo José de Souza Martins analisou 2.028 casos no país. Na publicação, consta que, em 2015, tínhamos uma média de um linchamento por dia, o que nos colocava nas cabeças do ranking mundial.

Em Pernambuco não há um número preciso de tentativas ou de linchamentos de fato (quando a vítima vem a falecer). Nos boletins de ocorrência das delegacias do Estado, esse tipo de crime é registrado como agressão, o que engloba uma infinidade de situações. Porém, em uma rápida pesquisa na internet sobre casos dessa natureza, é possível encontrar ao menos dez exemplos, somente este ano, em cidades da Região Metropolitana do Recife e do interior, como Caruaru, Barreiros e Belo Jardim.

Todos os casos foram registrados em localidades carentes. “Essas incidências acontecem em comunidades que sofrem com a ausência do Estado. São pessoas revoltadas pela impunidade tentando suprir a lei”, explica Igor Leite. Ainda de acordo com ele, muitas vezes o reconhecimento dos agressores não ocorre devido ao silêncio dos outros moradores. “Nosso papel é evitar o linchamento e responsabilizar quem agrediu. O problema é que ninguém aponta”, lamenta.

“Bandido bom é bandido morto”

Segundo Isaac Luna, professor de Criminologia e Direito Penal e mestre em Sociologia Jurídica com especialização em Segurança Pública, outros fatores, além dos econômicos, precisam ser levados em consideração. “Não há dúvida de que a barbárie ocupa com muito mais facilidade campos ou áreas sociais abandonadas pelo Estado, porém, não só. O discurso do 'bandido bom é bandido morto' está disseminado em parte da opinião pública, independentemente do endereço ou condição socioeconômica”, afirma. “A maior incidência dos linchamentos em comunidades mais suburbanas pode ser apenas uma consequência da maior dificuldade de acesso e atendimento imediato da ocorrência pela força policial”, completa.

Luna diz ainda que, mesmo que quase nenhum caso de agressão a acusados de crimes aconteça em áreas abastadas, há uma conivência das classes mais altas, sobretudo em situações onde o agredido seja estereotipado. “Quando se pensa em linchamento como prática aceitável está a se pensar em um tipo social muito específico, etiquetado como perigoso, criminoso: negro, favelado, tatuado, analfabeto, drogado, etecetera. A ideia de linchamento está relacionada a de que há vidas que não merecem ser vividas e, portanto, podem ser descartadas”, alerta.

Redes sociais

Receber vídeos violentos em celulares, sobretudo pelo Whatsapp, é rotineiro para muitas pessoas que utilizam o aplicativo. É consenso entre os especialistas da área, que a ideia de disseminar essas imagens parte do princípio de que existirá a aprovação de quem irá recebê-la. “Essa atitude de filmar e compartilhar está relacionada a compreensão de que o que está ocorrendo é ética e valorativamente desejável e, portanto, justo e correto”, diz Luna.

O ato, porém, não é tratado como agravante. “Hoje muitas pessoas têm câmera no celular. Filma-se tudo o que se vê, inclusive a violência. Tem gente que acha bonito, tem outra parte que aplaude, então eles compartilham”, diz o delegado Igor Leite. “Filmar somente não configura crime, tem que ver qual foi a intenção de quem filmou e qual sua participação no ato”, esclarece.

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