Lixa, furadeira, martelo: o armeiro da seleção francesa de tiro esportivo viajou ao Rio com sua caixa de ferramentas, 40 kg de material indispensável para o sucesso dos atletas.
"Sou o médico das armas", brinca Patrick Biebuyck, que exerce a função desde 2000 e participará da sua quinta Olimpíada.
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Como médico, ele pode ser considerado um clínico geral, capaz de cuidar tanto da pistola de Céline Goberville, medalhista de prata em Londres, do rifle de Anthony Terras, especialista da fossa olímpica, quanto das carabinas de Valérian Sauveplane.
Cada atirador traz consigo ao menos duas armas: a predileta, que usa na competição, e a "mula", em caso de problema.
O trabalho do armeiro pode levar poucos minutos, se tiver que lixar o cabo de uma pistola ou de uma carabina, por exemplo. "Com a umidade, a madeira pode ser alterada e até o menor inchaço pode modificar a pegada do atirador", explica Biebuyck, que já foi atirador de alto nível no passado.
- Quinze minutos cravados -
Em outros casos, porém, o trabalho pode ser cirúrgico. Quando a bala não é ejetada corretamente, é preciso mexer na parte interna do cano com uma broca, como um dentista. "Isso pode levar oito horas", avisa Biebuyck.
O armeiro também precisa checar as munições, para ter certeza que balas e cartuchos não vieram com defeito de fábrica.
"Fazemos o que chamamos de testes de agrupamento, ao deixar a arma presa em uma morsa, verificando em dezenas de balas do mesmo lote se estão perfeitamente centradas no alvo. Às vezes, temos que jogar fora lotes inteiros", ressalta o armeiro francês.
O mais difícil, porém, é intervir no meio da competição. "O regulamento nos dá quinze minutos para tentar consertar o problema. Se não conseguirmos, o atirador precisa usar a 'mula'. Ao mesmo tempo que trabalhamos em cima da arma, temos que conversar com o atleta, para que não fique tão nervoso", completa Biebuyck. Ou seja, o médico também precisa se transformar em psicólogo.