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Antes da entrevista, um grupo de mães atípicas da cidade do Cabo de Santo Agostinho, localizada na Região Metropolitana do Recife (RMR), pede para que não sejam identificadas por medo de retaliação por parte da gestão municipal. “Tenho receio de perder o que já foi conquistado. Então, queria pedir para não aparecer”, justifica uma das mães. O grupo é apenas uma parte das cuidadoras de crianças com deficiência ou diagnosticadas com Transtorno de Espectro Autista (TEA) e Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDHA) que lutam pelo acesso dos filhos à educação pública e inclusiva na cidade.

Ao LeiaJá, Ana* relata que a filha, estudante do 5º ano na Escola Municipal Carmencita Ramos Cavalcanti, localizada na Vila Social Contra Mucambo, está sem professor de apoio desde o início do ano letivo, ou seja, fevereiro de 2022. A menina tem paralisia cerebral e necessita de acompanhamento especializado para auxiliar no processo de aprendizagem na instituição de ensino.

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À reportagem, Ana conta que a gestão da escola já solicitou, por meio de três ofícios, à Secretaria de Educação do Cabo de Santo Agostinho, um profissional de apoio. No entanto, não houve contratação. “A gestora faz a parte dela, que é solicitar esse professor de apoio, mas nunca chega. Eu também já procurei a Secretaria de Educação, mas, até agora, nada”, diz. De acordo com a assessoria da prefeitura da cidade, ao todo, há 89 escolas e 397 professores de apoio, quantitativo que é questionado pelas mães. Além disso, a comunicação afirma que 1186 alunos são assistidos por esses profissionais.

Ana* diz também que, além da filha, há outros alunos na mesma turma que necessitam desse profissional. “A gente já vem de um período complicado de pandemia, que os alunos ficaram apenas com aula online, e quando se tem o retorno não há professor de apoio. Em casa, eu consigo acompanhar, faço o que posso, mas eu não tenho conhecimento específico”, ressalta.

Com medo de retaliação, as mães preferem não revelar a identidade. Foto: Edgar Falcão/LeiaJáImagens

A ausência de professor de apoio não é a única problemática que, muitas vezes, inviabiliza a permanência dessas crianças nas escolas públicas da cidade. O filho de Marta*, de 7 anos, também com paralisia cerebral, tem profissional especializado dentro da sala de aula, no entanto, segundo a mãe, a Sala de Atendimento Educacional Especializado (AEE), dedicada ao acompanhamento com equipe multidisciplinar no contraturno escolar, não existe.

“A sala AEE deveria estar pronta desde 2021. Quando a escola voltou ao presencial ainda estava em reforma, mas os pedreiros foram tirados de lá para fazer serviço em outras escolas. Está tudo parado. Na sala, que não é só para crianças especiais, mas também para quem tem dificuldade de aprendizagem, só tem material [de construção]. Está tudo parado”, expõe Marta*.

Na escola do filho de Koriny Pessoa, única mãe que aceitou ser identificada, há uma Sala de Atendimento Educacional Especializado, porém não é utilizada por falta de profissionais. “Esses espaços necessitam de psicólogos, por exemplo, de uma equipe multidisciplinar para realizar o acompanhamento desses alunos”, frisa.

O transporte adaptado, responsável pela mobilidade de alunos atípicos e disponibilizado pela prefeitura, é insatisfatório, de acordo com Laís*. Por dificuldades em levar o filho autista até a escola, ela solicitou no início de 2022 o ônibus responsável pelo deslocamentos de crianças com deficiência. Segundo Laís, o serviço chegou a ser satisfatório em um primeiro momento, entretanto, as paralisações, justificadas por quebras no equipamento, tornaram-se constantes.

“No começo, tudo ‘ia’ bem. Mas uma vez o ônibus adaptado quebrou e passou um mês parado e, por conta disso, as crianças que usam tiveram que ficar em casa. Quando a gente preguntava quando iria ficar pronto respondiam que faltava uma peça, que demorou a chegar. Quando ficou pronto, depois de 15 dias, voltou a quebrar. Dizem que é o elevador. E, mais uma vez, as crianças [cerca de 30] estão sem frequentar a escola por causa do transporte."

Todas as problemáticas expostas pela mães atípicas foram levadas à assessoria de comunicação da Prefeitura do Cabo de Santo Agostinho. Em nota, a gestão municipal, por meio Secretaria de Educação, salienta que um edital está em processo de elaboração para "atender às vacâncias no quadro dos professores do AEE". Além disso, o processo seletivo será interno para priorizar os professores do quadro efetivo. 

"Em relação à Escola Municipal Carmencita Ramos Cavalcante, pontuamos que há salas de recursos prontas, aguardando a seleção para lotação de professores (...) Segundo a Gerência de Transporte Escolar, a educação dispõe de dois ônibus adaptados para nossas crianças portadoras de deficiência. Devido a uma falha mecânica, passamos um período com apenas um transporte em atividade, mas, a partir desta segunda-feira (22), retornamos com os dois ônibus".

Mães que Acolhem

Com menos de um ano de criação, o grupo ´Mães que Acolhem’ nasceu da luta de um grupo de cuidadoras de crianças atípicas por políticas públicas efetivas no Cabo de Santo Agostinho. “O Mães que Acolhem nasceu do sonho de quatro mulheres. A gente se reuniu e achou que precisávamos fazer esse grupo de apoio não só para as crianças, mas para as pessoas que são os cuidadores. Eu tenho esse dilema: quem cuida de quem cuida?”, explica Koriny Pessoa, que integra a direção da iniciativa.

Em 2021, ela precisou expor, nas redes sociais, a falta de profissionais de apoio na escola onde o filho estudava. Sem apoio governamental e funcionando com recursos próprios, o projeto, que tem pretensões de se tornar uma organização não governamental (ONG), direciona e auxilia outras mães na busca por serviços direcionados aos filhos com deficiência, como também chama atenção para o autocuidado.

Atualmente, o grupo assiste mais de 100 mulheres e projeta que esse número vai crescer. Koriny e as demais diretoras pretendem atuar onde, segundo elas, há omissão do poder público. “É uma luta diária. A gente sabe que dinheiro tem, porque vemos os gatos com outras coisas. Então, as nossas principais lutas são pela saúde e educação”, ressalta.

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