O jornalista Marcelo Mário de Melo foi um dos militantes comunistas mais procurados pelo militares no período ditatorial. Depois de escapar várias vezes da prisão, ele foi preso ainda em Natal e depois levado ao Departamento de Ordem e Política Social do Estado (DOPS-PE).
“Odijas (Carvalho – líder estudantil assassinado pela Ditadura) foi preso em Paulista e eu fugi. Em Natal, acabei demorando por bastante tempo na praia do Pirangi, numa zona de caça e pesca. Naquele tempo as forças armadas tinham um acordo com o prefeitos do interior que as pessoas estranhas no local deveriam ser comunicadas aos policiais. Eu fui tratado como estranho”, lembrou o jornalista.
##RECOMENDA##“Me lembro que fui cercado por um batalhão cheio de metralhadora e acabei sendo torturado no esquadrão da Aeronáutica (de Natal). Depois fui levado para o Hospital Geral do Exército”, completou.
Com a prisão da Casa da Cultura desativada em 1973, o ex-militante foi levado para a Penitenciária Professor Barreto Campelo, em Itamaracá. No local, segundo ele, os presos viveram uma espécie de "Ato Institucional nº 5" das prisões. “O sargento (Siqueira) dizia que éramos reeducandos,que não éramos presos políticos e sim presos comuns. Voltamos a estaca zero. Não tínhamos o direito de ver televisão. De preparar comida na cela. Não podíamos andar na fila conversando. Se a gente conversasse levantava o cassetete”, relatou Melo.
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De acordo com o jornalista, os presos políticos acabaram entrando em conflito várias vezes com os policiais. “Não admitíamos ser tratados como reeducandos. Foi uma luta séria para ter o mínimo de direito. Tinha uma estabilidade e tivemos que lutar de novo. A gente chamava aquilo de o AI5 em Itamaracá”, ressaltou.
Segundo Melo, houve uma tentativa de transferir os presos políticos em vários locais do Estado, o que acabou fortalecendo ainda mais o movimento. “As denúncias dos presos políticos começaram a aparecer. Jarbas Vasconcelos (atualmente senador pelo PMDB) e Roberto Freire (hoje é deputado federal pelo PPS) subiram na Tribuna para nos ajudar. Além disso, as greves de fome fizeram que fosse impedida a fragmentação da comunidade dos presos políticos”, detalhou o jornalista.
Atualmente Marcelo Melo participa de várias palestras sobre o período e tem de porte um material bastante vasto sobre o seu período na prisão. “Tenho várias documentações, várias fotos. Muitas pessoas que foram contra nós. Que ajudaram a nos torturar estão ai soltos”, lamentou.
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