A "Marcha de Washington", comemorada esta semana nos Estados Unidos, terá seu ponto alto nesta quarta-feira, quando o presidente Barack Obama fará um discurso no local onde, há 50 anos, Martin Luther King pronunciou a histórica frase "Eu tenho um sonho".
Obama, ocupado nos últimos dias com questões relacionadas ao suposto ataque químico contra civis sírios (que, ao que tudo indica, provocará uma intervenção militar contra o regime de Bashar al-Assad), deve falar às 15h05 na escadaria do "Memorial a Lincoln", no centro de Washington, onde são esperadas milhares de pessoas.
Seguindo os passos do defensor dos direitos civis - uma de suas referências pessoais -, o primeiro presidente negro dos Estados Unidos pretende "celebrar o que todas essas pessoas pelas quais estamos aqui hoje conseguiram", disse Obama em uma rádio na terça-feira.
Mas, diante da vastidão do "Mall", no outro extremo de onde Obama foi empossado presidente, o líder também vai lembrar que "há muito a ser feito."
O discurso de Luther King, em 28 de agosto de 1963, reuniu cerca de 250 mil pessoas e sua famosa frase "I have a dream" ("Eu tenho um sonho") expressava seu desejo de ver as diferentes comunidades reconciliadas.
Estas palavras estão gravadas no lugar exato da escadaria em que King fez o seu discurso, antes da promulgação da legislação de direitos civis, em 1964 e 1965.
Nesta entrevista concedida ao programa de rádio apresentado por Tom Joyner, Obama avisou que seu discurso "não será tão bom" quanto o pastor de Atlanta.
O texto de Luther King talvez seja "um dos cinco maiores discursos da história americana. As palavras que ele disse naquele momento - quando os desafios eram enormes -, a forma como ele alimentou as esperanças e os sonhos de uma geração inteira, na minha opinião, são incomparáveis ", argumentou o presidente.
Desigualdades persistem
Martin Luther King, assassinado por um branco em 1968, aos 39 anos, "ficaria maravilhado com o progresso que alcançamos" desde a época da segregação, afirmou Obama, referindo-se à "igualdade perante a lei, ao acesso ao serviço judicial e aos milhares de representantes negros em todo o país".
Porém, o presidente também reconheceu que importantes desigualdades econômicas entre as minorias raciais e a maioria branca persistem. A taxa de desemprego entre os negros, por exemplo, é de 12,6%, quase o dobro da média.
King "diria que nós não avançamos muito neste aspecto e que ter um presidente negro não é o suficiente", disse Obama, que, desde a sua campanha eleitoral em 2008, é cauteloso sobre a espinhosa questão das relações interraciais.
A reação do presidente no caso Trayvon Martin, um adolescente negro morto em fevereiro de 2012 na Flórida por um segurança branco que foi absolvido, ganhou destaque. "Há 35 anos, eu poderia ter sido Trayvon Martin", disse Obama há algumas semanas. Comovido, o presidente falou de uma "história não esclarecida" e disse que, no passado, havia sido discriminado e estigmatizado por causa da sua cor de pele.
Dezenas de milhares de pessoas já participaram no sábado dos eventos que comemoraram a "Marcha de Washington", nos quais o filho de Luther King e a mãe de Trayvon Martin falaram. "O trabalho não acabou, a viagem não está encerrada", disse Martin Luther King III há alguns dias.
Os ex-presidentes democratas Jimmy Carter e Bill Clinton também devem discursar nesta quarta-feira.