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O Brasil viveu um verdadeiro apagão cultural nos últimos anos em que o governo Bolsonaro esteve no comando. Além da extinção do Ministério da Cultura (MinC), rebaixado para secretaria em 2019, a pasta sofreu com grandes cortes de orçamento; paralisação de projetos e editais; e a constante mudança de titulares, cujas escolhas - seis ao total -,  foram de Regina Duarte - que chegou a dar entrevistas minimizando a tortura durante a Ditadura Militar e relativizando os milhares de mortos decorrentes da pandemia -, a Mario Frias, que mais apareceu posando com armas, durante seu período como secretário, do que efetivamente trabalhando pelo segmento. 

Já em 2023, a pasta volta a ser ministério, por determinação do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, e terá no comando uma mulher preta e nordestina: a cantora e compositora baiana Margareth Menezes. Ao aceitar o convite, a artista disse que o encarava como uma verdadeira “missão”. "O presidente me disse que quer fazer um Ministério da Cultura forte. Conversamos e eu aceitei a missão. E recebo isso como uma missão mesmo, até porque foi uma surpresa para mim também, até para eu entender o lugar desta minha representação e a necessidade de a gente fazer uma força-tarefa para levantar o Ministério da Cultura”, disse à imprensa na última terça (13), quando foi anunciada como futura ministra. 

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Margareth Menezes tem 60 anos, é cantora e compositora, uma das precursoras da Axé Music e uma das vozes mais potentes da música brasileira. Com uma carreira ativa desde os anos 1980, iniciada no teatro, ela fez parte de um expressivo movimento de valorização da cultura negra desenvolvido na Bahia à época. Margareth, desde então, chamou atenção do mercado internacional e chegou a ser considerada uma das artistas mais relevantes da música baiana então. 

O primeiro disco homônimo da cantora saiu em 1988. De lá para cá, foram 16 álbuns e mais de duas dezenas de turnês internacionais. A futura ministra também já foi descrita inúmeras vezes, pela crítica de fora, como a “Aretha Franklin Brasileira”, e é apontada como a principal representante do movimento afropop nacional, que visa preservar e promover a cultura negra no país.

Além de uma expressiva carreira artística, Margareth também tem um largo currículo atuando em prol de políticas culturais. Em 2004, ela fundou a Fábrica Cultural, uma organização não-governamental com a finalidade de desenvolver projetos nas áreas de educação, cultura e produção sustentável na Península de Itapagipe, em Salvador. A partir de 2014, a ONG passou a abrigar o centro cultural Mercado Iaô, que promove música, artes visuais e gastronomia.

A futura ministra também é embaixadora do Folclore e da Cultura Popular do Brasil pela IOV/Unesco, desde 2020. Já no ano seguinte, ela foi reconhecida como uma das 100 personalidades negras mais influentes do mundo pela Most Influential People of African Descent (MIPAD), instituição reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Representatividade

Como se não bastasse o currículo farto e vasta experiência, nos palcos e fora deles,  Margareth Menezes ainda traz em sua bagagem o peso da representatividade. Ela será a primeira mulher negra a comandar a Cultura no país, fato que já vem sendo celebrado país afora. 

No Recife (PE), a cantora Dani Carmesim comemorou a indicação da colega de profissão para o MinC. ”É um avanço de milhões. Uma coisa que demorou muito pra gente ver acontecer, mas dessa vez, vai. Eu me sinto representada e contemplada como mulher preta, nordestina, periférica e artista vendo outra mulher assim como eu à frente do MinC, espero que ela tenha esse olhar mais voltado para essas políticas públicas culturais que contemplem as pessoas pretas e que mais necessitam, que têm menos recursos. A expectativa é boa: a gente sair desse poço fundo sem fim que era o governo Bolsonaro para entrar num governo onde vai ter o Ministério da Cultura de volta e ainda assumido por uma mulher preta, é muito avanço”, disse em entrevista ao LeiaJá. 

Dani Carmesim, cantora e compositora pernambucana - Foto: Reprodução/Instagram

Já o produtor cultural Du Lopes, citou o currículo de Margareth enquanto artista e gestora de Cultura demonstrando confiança em sua indicação. Ele também acredita que o poder da própria figura da futura ministra em si agrega extrema relevância ao papel que ela vai desempenhar. “Uma escolha de representatividade que certamente buscará realizar  uma boa gestão para toda a classe artística". 

Du Lopes, ator, diretor de palco, cineasta e produtor cultural - Foto: Reprodução/Instagram




 

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