Tópicos | Mercado de Areias

De portas abertas para receber moradores do próprio bairro e proximidades, os mercados públicos procuram oferecer à população desde alimentos a vestimentas e outros serviços. Porém, em meio a tanta diversidade, há também a falta de organização e resistência pela renovação. O LeiaJá visitou cinco mercados do Recife e pôde constatar bons exemplos, porém ainda persistem casos onde a situação é crítica. 

No mercado de Afogados, Zona Oeste do Recife, a realidade é dura. Inaugurado em 1934, o local esbanja precariedade, desde a pintura da fachada até a caixa d’água com estrutura ruindo. Em meio aos estreitos corredores, complicado inclusive para cadeirantes, lixo e mercadorias arremessados pelos comerciantes impedem a passagem dos transeuntes. Olhando para cima, poeira e teias de aranha podem ser vistas claramente. Como forma de controlar o lixo desprezado, a administração colocou lixeiras em meio aos corredores como forma de chamar atenção para o uso delas. 

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“Nós tentamos manter o mercado limpo, mas basta o funcionário dar as costas e o lixo já é jogado. A equipe também é pequena. Temos seis funcionários para cada um dos dois turnos”, explicou Osório Peixoto, gestor de feiras. Já o administrador, Alziberto Macedo, acrescentou ainda que uma enzima captadora de odor foi adquirida e está sendo utilizada nos banheiros. Ele aponta para a existência de vandalismo dentro dos banheiros e, por isso, destina dois funcionários da equipe para ficar exclusivamente na porta do local, tanto feminino quanto masculino.

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Tráfico e prostituição

Testemunhas ainda relataram haver ponto de comercialização de drogas e prostituição dentro do mercado de Afogados. “Aqui inicia na tarde da sexta e vai até o sábado. Rola de tudo, prostituição, drogas. É um verdadeiro inferno quase na porta da delegacia e ninguém faz nada. Pra piorar, eles ainda ficam aí até depois que o mercado fecha, nem respeitam”, relatou um cliente que não quis se identificar. 

Procurada pelo LeiaJá, a Secretaria de Desenvolvimento Social, Juventude, Políticas sobre Drogas e Direitos Humanos da Prefeitura do Recife informou que “até o fim desta semana será enviada ao Mercado de Afogados uma equipe do Programa Acolhe Vida, que oferece aos usuários de drogas e seus familiares escuta qualificada e encaminhamentos para as redes de saúde, assistência social e complementar, além de terapias individuais e em grupo”.

Outras questão encontrada foram boxes fechados utilizados como depósito para outros comerciantes. De acordo com Macedo, diante de tantos problemas, o maior desafio é conscientizar os profissionais. “É preciso ter jogo de cintura para conseguir avançar e alcançar a conscientização, pois, em muitos casos, os permissionários estão aqui há anos e a resistência para aceitar mudanças é enorme”. 

Durante a visita da nossa equipe, até um motociclista tentou entrar nas dependências do mercado na moto, colocando em risco os transeuntes. Macedo afirmou que essas tentativas são recorrentes também de bicicleta, porém, informou já ter sofrido ameaça caso não permitisse a passagem.

Em contato com a Autarquia de Serviços Urbanos do Recife (Csurb), o órgão esclarece que “existe a manutenção corretiva periódica, que identifica as necessidades dos locais e realiza os reparos necessários. Há também a manutenção emergencial diária, na qual os serviços são realizados a partir de visitas de técnicos especializados”.

“No caso do Mercado de Afogados, já foi realizada a reforma dos banheiros, a colocação dos expositores refrigerados nos boxes que vendem alimentos perecíveis, além da pintura do equipamento. Inclusive, uma reforma teve início em agosto para conclusão do processo de individualização elétrica dos boxes do mercado, além de parte do telhado. Além disso, está sendo realizado o levantamento de custos para recuperação da caixa d'água”. A Csurb informa ainda que desde o mês de agosto vem realizando reuniões constantes com os permissionários como forma de coscientiação. 

Mercado de Areias

Com estrutura em ruínas e sem telhado, o mercado de Areias se reorganizou nos arredores do antigo galpão. O espaço foi desativado em 2006, após parte do telhado desabar. A verdureira Cristina Rodrigues explicou que após o problema no teto, todo o mercado foi desativado, mas os feirantes arrumaram um jeito de manter suas bancas do lado de fora. 

Este é um exemplo de mercado privado; os mais antigos dos comerciantes não sabem sobre a propriedade do terreno, porém fazem uso da estrutura desativada como depósito ou abatedouro de animais. De acordo com a Prefeitura do Recife, a área se trata de um espaço particular e, por isso, a PCR não responde pelo espaço. 

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Há quase sete anos, os comerciantes do Mercado de Areias, na Zona Oeste do Recife, sofrem com a desolação do espaço. O local em que antes até as vagas para estacionar bicicletas eram concorridas, atualmente, vive em um cenário de perguntas sem respostas, segundo o senhor Severino José, conhecidas como Biu, de 69 anos, que ocupa um box no Mercado há 50.

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Em 2006, o teto da parte interna do mercado caiu, impossibilitando os locatários de trabalhar no interior do local. Apenas no lado de fora alguns boxes continuam funcionando. “A gente derramou o suor da gente todinho aqui, trabalhou com intenção de ver melhorar as coisas”, lamentou Sr. Biu. “Era um movimento muito bom e agora as pessoas ficam perguntando: ‘quando é que vai ajeitar?’ Esse mercado tá precisando que homens lembrem da gente. Eu pago meus impostos”, desabafou.

De acordo com o atual administrador do espaço, Valmiro da Paixão, o Jeremias, 40, desde que o teto do lugar desabou várias promessas foram feitas, mas nenhuma se concretizou. “O prefeito João da Costa veio aqui assinou um decreto de desapropriação, ele disse que ia fazer o mercado, mas não teve andamento do serviço. Muita gente não acredita pelas promessas que foram feitas pelo anterior prefeito. A gente vai levando na paciência”, explicou Jeremias afirmando que acredita na revitalização do espaço pela atual gestão.

A dona de um dos boxes do Mercado, Andrea Monteiro, 47, comprou o espaço há 10 anos. O local estava alugado, mas segundo ela, o locatário estava com dificuldade de pagar o valor de R$ 100 por conta do movimento fraco. “Quem é que vem aqui nessa esculhambação? Eu não acredito que ninguém vai ajeitar, porque faz anos que disseram que iam fazer alguma coisa e não fizeram nada”, esclareceu.

De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano, todos os projetos da gestão anterior ainda estão em fase de análise e não existe previsão para a reforma do espaço. Ainda de acordo com a assessoria, apesar do ex-prefeito João da Costa ter assinado o decreto de desapropriação, o estabelecimento ainda é privado.

Mercado de Areias - O espaço pertencia à iniciativa privada. Segundo o administrador do Mercado, Valmiro da Paixão, desde a falência da Incorporadora Vitória os locatários aguardam que o lugar torne-se público. Construído em 1959, o Mercado de Areias possui 229 boxes na área interna e outros 21 na parte externa. Atualmente, cerca de 169 comerciantes atuam em diversos ramos, a exemplo de bar, açougue e venda de cereais, frutas e frios. Mesmo que de forma limitada, o mercado atualmente ainda atende aos moradores dos bairros de Areias, Estância, Jardim São Paulo, Barro e Vila Cardeal.

 

 

 

 

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