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A distância, de sua prisão domiciliar na China, o artista Ai Weiwei foi dando as coordenadas de como queria que sua escultura, Very Yao, torre feita de 46 bicicletas, fosse montada na Oca, no Ibirapuera. A obra já esteve ano passado na Bienal de Curitiba, mas agora tinha de ser "mais claustrofóbica", conta a curadora Tereza de Arruda. "É um monumento sobre as transformações em seu país, sobre o que era popular e agora está em desuso", afirma Tereza, emendando que as bicicletas chinesas da marca "Forever" já não são fabricadas. Ai Weiwei é o artista mais famoso da exposição ChinaArteBrasil, mas o visitante ainda encontrará mais de 100 obras de outros 61 chineses abrigadas nos três andares do pavilhão desenhado por Niemeyer.

É possível passar ao largo de Ai Weiwei quando se mostra arte contemporânea chinesa? É claro que não, mas para o artista e crítico Wang Nanming, de 50 anos, há outros criadores em seu país até mais políticos que Ai Weiwei. "Lá, estamos todos sob controle, muitos são perseguidos, presos", conta Wang Nanming com a ajuda da curadora chinesa Ma Lin, que traduz suas falas para o inglês. "Acho que demorará mil anos para que a sociedade da China se torne realmente democrática", continua o artista, que participa da exposição com o vídeo Western-Eastern Divan Orchestra Performance, baseado em gravação do maestro Daniel Barenboim regendo a orquestra criada por ele e pelo teórico literário Edward Said para promover o encontro de músicos do Oriente Médio. "Não basta apenas falar de tradição e cultura, mas também sobre a influência do Ocidente sobre nossa produção. Temos ensinamento sobre arte ocidental na China", continua o crítico.

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A exposição, com obras realizadas nos últimos 30 anos, tem segmentos com curadoria de Tereza de Arruda e da chinesa Ma Lin. "No começo, os artistas chineses estavam muito manipulados pela questão mercadológica, mas, desde 2008, quando estourou a crise econômica mundial, tornaram-se mais autônomos, maduros", diz a brasileira, que vive em Berlim, mas está em contato com a arte contemporânea da China há mais de dez anos. Já Ma Lin, da Universidade de Xangai, preparou um núcleo de trabalhos expostos no segundo andar da Oca. "São 21 criadores não orientados pelo mercado, que refletem sobre problemas sociais."

Como ela conta, uma das mais conhecidas artistas apresentadas em seu segmento curatorial por meio de fotografias e vídeo é a performer He Chengyao, que espeta agulhas em si mesma no seu projeto de "política do corpo". A obra de Wang Nanming também está nessa parte da exposição, mas é possível ainda encontrar um grande quadro realista "muito chinês" de Xu Weixin, representando em fortes pinceladas um trabalhador de minas de carvão, um pouco de (rara) arte abstrata, e uma tela em que o pintor Wu Song mistura referência à tradicional pintura de ação da paisagem chinesa com delicadas figuras eróticas. É nesse andar que se vê também o processo de desgarramento da pop art dos anos 1990 na produção do país.

"Os artistas chineses não tentam mais se aproximar do outro se vestindo como ele", afirma Tereza de Arruda. De seu núcleo, no subsolo da Oca, vale destacar os belos trabalhos do casal Rong Rong & Inri, sequências de fotografias em preto e branco impressas em tecido e que se despendem do teto. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

Logo ao entrar na exposição Da Cartografia do Poder aos Itinerários do Saber, aberta a partir desta quinta-feira, 22, na Oca, o visitante vê a figura imponente de Luís Antonio de Sousa Botelho Mourão na tela que ocupa o centro da mostra.

Conhecido por Morgado de Mateus, ele virou nome de rua em São Paulo, mas poucos conhecem a história do nobre português que foi governador da cidade por dez anos (de 1765 a 1775). Entre outros feitos, Mateus elevou vinte povoados à categoria de vilas, defendendo as fronteiras contra o Império espanhol. A exposição, no entanto, está longe de ser uma elegia ao heroísmo. Os curadores da Universidade de Coimbra mostram como o ideário iluminista de traçar mapas de territórios conquistados mascarou uma visão utilitarista dos colonizadores. E mais: como esses mapas, pretensamente rigorosos, estavam mais próximos da pintura, técnica da qual os portugueses nunca foram mestres, ao contrário dos espanhóis.

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Criada para comemorar os dez anos do Museu Afro Brasil e o centenário da Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra, a mostra é, segundo seus curadores, Paulo Amaral e Catarina Pires, da instituição portuguesa, uma "metáfora do mundo", em que o visitante pode traçar o próprio itinerário segundo seu gosto. Nela, ele poderá ver objetos curiosos como 32 tampas de panela da tribo Woyo, do Congo, esculpidas com figuras que substituíam o diálogo entre marido e mulher quando o casal brigava. Ou a escultura de um hermafrodita da tribo Dogon, do Mali, notável por seu conhecimento avançado, especialmente sobre o sistema estelar de Sirius.

As descobertas que o colonizador português fez na África e no Brasil levaram à Universidade de Coimbra peças como essas, além de documentos históricos como os mapas do engenheiro italiano Miguel Ciera no século 18, entre eles os dos povoados que Morgado de Mateus elevou à condição de vilas. Além dos mapas geográficos, interessavam aos curadores os mapas humanos, as cosmovisões pragmáticas que levaram à impressionante coleção de bustos reproduzida na foto maior desta página. Ladeada por imagens de detidos pela polícia, essa coleção conduz à sala vizinha onde se destaca um trabalho crítico de interpretação sobre a antropologia criminal do médico Cesare Lombroso, hoje uma ciência desacreditada.

A essa altura, o visitante já notou que as viagens científicas do colonizador português levavam mais a equívocos do que à construção do conhecimento. Os atlas humanos do colonizador são demonstrações de poder sobre o antípoda, seja ele o negro africano ou o desajustado social branco e pobre. "Um mapa é o território, dado de presente aos nobres, mas é sempre uma proposta singular de reinterpretação do mundo", justifica o curador Paulo Amaral. Era preciso ousar mais para mostrar que o conhecimento, na visão do colonizador português, estava intimamente ligado a um ato de dominação. A curadoria, então, convidou artistas contemporâneos para dar a própria interpretação dessas descobertas.

Algumas são engraçadas, como a série da performática Orlan em que a francesa, hoje com 66 anos, aparece maquiada como uma figura pré-colombiana. Orlan, conhecida por suas operações plásticas filmadas como performances, em que assume a aparência de obras de arte, começou a construir a série de "auto-hibridizações" (a das máscaras primitivas) em 1994. Ela já foi uma índia americana e uma negra africana, como aparece na foto da galeria abaixo.

Entre os contemporâneos brasileiros convidados estão José Resende e Tunga. Entre os portugueses destaca-se o fotógrafo José Luís Neto, de 48 anos, que desenvolve um original trabalho de apropriação de imagens. No da mostra, ele reinterpreta as fotos de prisioneiros quando a Penitenciária de Lisboa resolveu abolir, em 1913, o uso de capuzes que confinavam seus usuários em seus próprios corpos. Metáfora maior sobre a incomunicabilidade, impossível.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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