Tópicos | Operação Baixo Augusta

O delegado da Receita Federal Guilherme Bibiani, da Delegacia Especial de Administração Tributária, em São Paulo, afirmou nesta segunda-feira, 11, que o Fisco vai passar um "pente-fino" nos ressarcimentos pagos à JBS.

A Operação Baixo Augusta deflagrada pela manhã investiga um esquema de propina de R$ 160 milhões para agilizar a liberação de créditos tributários de R$ 2 bilhões do Fisco para a JBS. Um auditor da Receita, Clóvis da Costa, seria um dos beneficiários dos pagamentos ilícitos.

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"Nós estamos avaliando se os ressarcimentos que foram reconhecidos para o Grupo JBS de fato são devidos. A coordenação central em Brasília está criando um grupo que vai submeter a pente-fino todos os procedimentos de ressarcimento e análise de direito creditório do grupo JBS", disse Bibiani.

Segundo o delegado da Receita, o montante de R$ 2 bilhões "é o total de direito creditório que foi solicitado pelo Grupo JBS para Receita". "Não quer dizer que esse quantitativo seja indevido. A partir de um percentual que a Receita Federal costuma apurar em situações semelhantes, é possível fazer essa inferência de que haja uma fraude no valor de centenas de milhões de reais ao menos", declarou.

A investigação teve início após o envio, pelo Supremo Tribunal Federal, de trechos do acordo de colaboração premiada firmado entre executivos da JBS e o Ministério Público Federal para a Justiça Federal de São Paulo, para apurar criminalmente condutas de investigados que não têm foro privilegiado.

Guilherme Bibiani relatou que a Corregedoria da Receita abriu um procedimento de invetigação "tão logo teve notícia de supostos ilícitos" envolvendo o auditor. A apuração tem parceria com a Polícia Federal e com o Ministério Público Federal.

"A Portaria da Corregedoria da Receita Federal instaurando o procedimento data de 22 de maio de 2017", afirmou. "Esse servidor fazia, não em caráter exclusivo, mas em caráter prevalente, as análises de PER/DCOMP (Pedido Eletrônico de Restituição, Ressarcimento ou Reembolso e Declaração de Compensação) de uma maneira geral, e mais especificamente de ressarcimentos, pedidos de ressarcimentos vinculados ao Grupo JBS, e as investigações conjuntas apuraram que o servidor possuía um patrimônio completamente incompatível com a renda inerente ao cargo", explicou.

Os créditos pagos à JBS, segundo o delegado da Receita, estão relacionados com pedidos de ressarcimento de PIS/Cofins. "Em princípio, esses créditos podem até ser devidos, mas normalmente eles não são analisados com a rapidez que a empresa pretende que eles sejam reconhecidos. A linha de investigação principal é que a agilidade na análise desses créditos tenha sido completamente fora dos padrões normais com auferimento de vantagem indevida pelo servidor da Receita Federal", relatou.

"Normalmente são vários meses para fazer uma análise, é uma análise contábil bastante complexa. Cada caso é um caso, não dá para se falar em tempo médio. O que dá para se falar é um tempo menor do que o normal para se fazerem as análises", disse.

O auditor Clóvis da Costa, da Receita Federal, alvo da Operação Baixo Augusta, deflagrada nesta segunda-feira, 11, tentou "maquiar" seu patrimônio após a delação da JBS ter se tornado pública em maio. O fiscal é suspeito de ser beneficiário de um esquema de propina de R$ 160 milhões para agilizar a liberação de créditos tributários de R$ 2 bilhões do Fisco para a JBS.

Segundo o delegado da Polícia Federal Alberto Ferreira Neto, o auditor fez uma "maquiagem no patrimônio". O fiscal chegou a vender uma Ferrari. O delegado apontou também que o auditor pegou um empréstimo de R$ 500 mil com a empresa da mulher como forma de justificar o patrimônio.

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"Retificadora de imposto de renda, venda de imóveis, colocação de bens em nome de pessoas interpostas próximas a eles, empresas de terceiros com procuração. Ele colocou um nome do parente, o parente deu a procuração para ele", apontou o delegado. "Foi muito característico. Logo após ser tornada pública (a delação) começaram as retificadoras", afirmou.

De acordo com os investigadores, o nome da operação - Baixo Augusta - se deve ao fato de o local de trabalho de Clóvis da Costa ser exatamente em um prédio da Receita onde o próprio auditor trabalha, na Rua Augusta, região central de São Paulo.

A investigação é um desdobramento da Lava Jato. Os agentes cumprem 14 mandados de busca e apreensão na capital paulista e em outros quatro municípios - Caraguatatuba, Campos do Jordão, Cotia e Lins, todos no Estado de São Paulo.

Defesas

"Em relação à Operação Baixo Augusta, a JBS esclarece que a empresa não é alvo da operação e que, conforme mencionado pelo Ministério Público Federal em nota divulgada hoje, os valores recebidos referem-se a créditos tributários legitimamente devidos à empresa", disse a empresa por meio de nota.

A J&F também se manifestou informando que "não é alvo da Operação Baixo Augusta. A empresa não fará comentários sobre a ação que está sendo realizada hoje e que decorre do acordo de colaboração firmado com a Justiça. A J&F reitera ainda que, conforme nota divulgada pelo MPF, os créditos à JBS são recursos legítimos que a companhia teria a receber do Fisco", diz o texto.

O espaço esta aberto para manifestação de defesa do auditor Clóvis da Costa.

A Polícia Federal, o Ministério Público Federal e a Receita deflagraram na manhã desta segunda-feira (11) a Operação Baixo Augusta, desdobramento da Lava Jato em São Paulo. A ação apura a existência de um esquema de propina para acelerar a liberação de créditos tributários junto à Receita Federal.

Em nota, a PF informou que Policiais Federais e servidores da Receita Federal cumprem 14 mandados de busca e apreensão expedidos pela 10ª Vara Criminal Federal de São Paulo. Os mandados são cumpridos em residências e empresas em São Paulo, Caraguatatuba, Campos do Jordão, Cotia, Lins e Santana do Parnaíba.

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Um auditor fiscal da Receita Federal foi afastado judicialmente e oito pessoas físicas e jurídicas tiveram seus bens bloqueados.

A investigação teve início após o envio, pelo Supremo Tribunal Federal, de partes do acordo de colaboração premiada firmado entre executivos da JBS e o MPF para a Justiça Federal de São Paulo, com o fim de apurar criminalmente condutas de pessoas que não tinham foro privilegiado.

As provas colhidas até o momento apontam para um esquema de pagamento de propinas que funcionou de 2004 até este ano, pelo qual um auditor fiscal seria pago para agilizar, ilicitamente, a liberação de recursos que a companhia teria a receber do Fisco a título de créditos tributários.

Análises das movimentações financeiras entre os envolvidos indicam o recebimento de aproximadamente R$ 160 milhões em propinas nos últimos 13 anos. Há indícios de que as transações ocorriam por meio de empresas de fachada e a emissão de notas fiscais falsas.

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