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A juíza federal substituta Carolina Moura Lebbos, da Justiça Federal de Curitiba, decretou a prisão preventiva de Valdemir Garreta, marqueteiro ligado ao PT, e outros dois detidos no âmbito da Operação Sem Fundos, 56ª fase da Lava Jato, e prorrogou em cinco dias a prisão temporária de Marice Correa, cunhada do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto.

A Operação Sem Fundos foi deflagrada na sexta-feira (23) pela juíza Gabriela Hardt, sucessora de Sérgio Moro na Lava Jato. Ela mandou prender 22 investigados, alguns em regime temporário e outros, preventivamente.

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Entre os alvos da Sem Fundos está o empreiteiro César Mata Pires Filho, ligado à OAS, contra quem a juíza expediu ordem de prisão temporária por cinco dias. Ele se entregou à Polícia Federal na noite de domingo (25).

A investigação mira superfaturamento de R$ 1 bilhão e pagamento de propinas de R$ 68 milhões das empreiteiras OAS e Odebrecht para PT, ex-dirigentes da Petrobras e do Fundo Petros na construção da Torre Pituba, sede da estatal em Salvador.

Valdemir Garreta é apontado pelo Ministério Público como marqueteiro e operador de propinas da Odebrecht ao PT durante a construção da Torre Pituba. As investigações indicam que o publicitário teria recebido ao menos R$ 973 mil pagos por meio do Setor de Operações Estruturadas, o departamento de propinas da empreiteira.

O marqueteiro também teria recebido vantagens indevidas pagas pela Área de Projetos Estruturados da OAS a Luís Carlos Fernandes Afonso, então diretor de investimentos do Fundo Petros. O dinheiro teria sido repassado por meio de oito transferências feitas por empresas offshores, totalizando US$ 1,8 milhão (cerca de R$ 3,2 milhões). Parte das propinas teriam sido pagas em espécie em seis entregas. Ao todo, o publicitário é acusado de operar o pagamento de R$ 6,5 milhões a Luís Carlos Afonso.

A Procuradoria alega que Garreta mantinha "contato bastante intenso" com Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, apontando quebra de sigilo telefônico, que indica até troca de mensagens entre os dois sobre a sucessão da presidência da Petros.

Os argumentos foram suficientes para convencer a juíza Carolina Lebbos, que afirma ter encontrado na denúncia "a relevância da participação de Valdemir Garreta no esquema criminoso" e, por isso, decretar a conversão de sua prisão temporária em preventiva.

"Para preservar a ordem pública, em um quadro de corrupção sistêmica e reiteração delitiva com assombrosos valores envolvidos no prejuízo da estatal e do fundo de pensão, bem como para garantir a integridade da instrução, diante de um histórico de falsidades, e para prevenir a aplicação da lei penal, evitando fuga e em especial dissipação de ativos criminosos ainda fora do alcance da Justiça brasileira, justifica-se, excepcionalmente, a prisão preventiva de Valdemir Flávio Pereira Garreta", afirma a magistrada.

Cunhada de Vaccari

Carolina Lebbos prorrogou a prisão temporária de Marice Correa Lima, cunhada do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, acusada de arrecadar vantagens indevidas das empreiteiras para o partido.

Segundo denúncia apresentada à Justiça, Marice teria se reunido com executivos da OAS para definir os pagamentos feitos ao PT pela construção da Torre Pituba. Os repasses teriam sido realizados por meio de cinco doações partidárias (R$ 1,7 milhão) e quatro entregas em espécie (R$ 1,1 milhão), recebidas pela própria Marice, via doleiro Alberto Youssef. Ao todo, foram R$ 2,8 milhão em propinas.

Apesar de o Ministério Público pedir a conversão em prisão preventiva, a juíza entendeu que "diante da complexidade dos fatos, dos elementos e de prova envolvidos" é preciso "uma avaliação mais robusta do efetivo grau de participação" da cunhada de Vaccari no esquema.

"Nesse contexto, no momento, e a fim de não prodigalizar o instituto da prisão preventiva, afigura-se adequada a prorrogação da prisão temporária por mais cinco dias, para que sua situação processual seja reavaliada sob um quadro probatório mais bem delineado", decretou Carolina Lebbos.

Outros envolvidos

Além de Valdemir Garreta, marqueteiro e suposto operador de propinas, a juíza Carolina Lebbos decretou a prisão preventiva de William Ali Chaim, suposto auxiliar do publicitário no esquema, segundo o Ministério Público, e Rodrigo Barreto, da Chibasa Projetos de Engenharia, empresa responsável pelo projeto executivo da Torre Pituba.

Barreto é acusado de fazer a interlocução com empregados da OAS para fraudar o procedimento seletivo da construtora nas obras da sede da Petrobras em Salvador.

Defesas

Em nota, o criminalista Cláudio Pimentel, que defende Marice Correa, afirmou: "Os Procuradores requereram a decretação da prisão preventiva da Marice, alegando questão de ordem pública e regular andamento da instrução criminal, sem, entretanto, indicar um só fato a justificar as abstratas hipóteses. Apesar de desnecessária a prorrogação, no meu entendimento, teve a Magistrada a cautela de não deferir o pedido dos Procuradores. Minha cliente está, como sempre esteve, à disposição da Justiça, sem ter cometido qualquer ato ensejador da extremada decretação de prisão preventiva, sobre fatos, se verdadeiros, ocorridos há 6 anos."

A reportagem está buscando contato com a defesa de todos os citados. O espaço está aberto para manifestações.

A Operação Lava Jato afirma que as empreiteiras OAS e a Odebrecht distribuíram propina de pelo menos R$ 68.295.866,00 ao PT e a ex-dirigentes da Petrobras e da Petros no esquema de corrupção ligado à construção da Torre Pituba, a sede da estatal na Bahia. O Ministério Público Federal aponta que os "valores históricos" representam quase 10% do valor da obra.

A construção da Torre Pituba é alvo da Operação Sem Fundos, 56ª fase da Lava Jato deflagrada nesta sexta-feira (23). A sede foi concebida, segundo a Procuradoria da República, no Paraná, por dirigentes da Petrobras e da Petros, para abrigar a sede da estatal em Salvador. O fundo de pensão teria se comprometido a realizar a obra e a Petrobras, a alugar o edifício por 30 anos (construção na modalidade "built to suit").

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O ex-presidente da Petros Wagner Pinheiro e empresas ligadas a ele foram alvo de buscas. Marice Correa, cunhada do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, e o marqueteiro ligado ao PT Valdemir Garreta são alvo de mandados de prisão temporária.

Segundo delatores da operação, a propina era embutida no valor da construção. Para os procuradores, as vantagens indevidas causaram "prejuízo expressivo à Petrobras, já que o montante de aluguel pelo qual se comprometeu e vem pagando é calculado sobre o valor total do empreendimento".

A Polícia Federal cumpre 22 mandados de prisão - oito de preventiva e 14 de temporária - e 68 ordens de busca e apreensão em São Paulo, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais e na Bahia. O objetivo é aprofundar as investigações sobre corrupção, lavagem de dinheiro, gestão fraudulenta e organização criminosa em esquema ligado à construção da Torre Pituba.

O esquema de contratações fraudulentas e pagamentos de vantagens indevidas, segundo o Ministério Público Federal, ocorreu entre 2009 e 2016.

Os alvos das medidas são os executivos das empresas que se envolveram na construção do empreendimento, além de intermediadores, agentes públicos da Petrobras e então dirigentes do fundo de pensão Petros, que teriam se beneficiado das vantagens indevidas.

De acordo com as investigações, Petrobras e Petros "formaram grupos de trabalho nos quais seus integrantes (estão) em conluio com outros dirigentes da estatal e do fundo de pensão". A Procuradoria da República aponta que, "em troca de vantagens indevidas", inclusive para o PT, os procedimentos de contratação da empresa gerenciadora da obra (Mendes Pinto Engenharia), da responsável pelo projeto executivo (Chibasa Projetos de Engenharia) e das empreiteiras que ficaram responsáveis pela obra (OAS e Odebrecht), que participaram por meio da Edificações Itaigara, foram fraudados.

A Procuradoria relata que a OAS detinha 50,1% e a Odebrecht, 49,9% de participação no empreendimento. A investigação identificou que, para a contratação das empreiteiras, foram acionadas outras duas empresas (Carioca e Engeform) integrantes do cartel que atuava na Petrobras para apresentar propostas-cobertura no procedimento seletivo.

Pagamentos

A Lava Jato identificou dois esquemas simultâneos de pagamentos de propinas - que também foram relatados por colaboradores -, realizados pelas empreiteiras OAS e Odebrecht entre 2011 e 2016.

De um lado, afirmam os investigadores, os executivos da OAS acertaram e distribuíram vantagens indevidas em percentuais de 7% a 9% do valor da obra. Os montantes foram pagos, em espécie e por meio de contrato fictício, aos dirigentes da empresa gerenciadora Mendes Pinto para que fossem repassados aos agentes públicos da Petrobras e aos dirigentes da Petros.

Segundo a Procuradoria, os pagamentos ocorriam em hotéis em São Paulo, na sede da OAS e em outros endereços já identificados e eram organizados pelos integrantes da "área de propinas" da OAS, por ordem dos principais dirigentes da empreiteira.

Além do montante de 7%, de acordo com a Lava Jato, mais 1% do valor da obra da Torre Pituba foi destinado ao PT em repasses organizados pelo "setor de propinas" da empreiteira OAS e entregues, em espécie, por meio de pessoa interposta pelo tesoureiro do partido, João Vaccari, ou diretamente ao PT, por meio de doações partidárias ao Diretório Nacional.

O Ministério Público Federal afirma que, além desses percentuais, outros "valores expressivos" foram destinados ao ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque, por meio de contrato simulado com sua empresa, a D3TM.

A Lava Jato destaca que "valores significativos" foram repassados ao então presidente da Petros, mediante entregas em espécie realizadas por operador financeiro que atuava para o marqueteiro do PT, bem como por meio de depósitos no exterior em conta de empresa offshore controlada por esse dirigente do fundo de pensão, com a intermediação do mesmo publicitário do partido, além de outros repasses a serem ainda identificados.

Em paralelo, afirma a Lava Jato, os executivos da Odebrecht se comprometeram "a distribuir vantagens indevidas" no percentual de 7% do valor da obra. Os montantes, segundo a investigação, foram repassados por meio de contratos fictícios com duas empresas controladas por dirigentes da gerenciadora Mendes Pinto, para o atendimento de "compromissos institucionais" com os agentes públicos da Petrobras e dirigentes da Petros.

A Lava Jato aponta que pagamentos em espécie foram dirigidos ao PT por meio de marqueteiro do partido e operacionalizados pelo "Setor de Operações Estruturadas" da Odebrecht, a área da empreiteira responsável pela distribuição de caixa 2 para o pagamento de vantagens indevidas.

Assim como a OAS, a Odebrecht também pagou propinas a Renato Duque por meio de transferências para conta no exterior de offshore controlada por operador que atuava para a empreiteira e que podia ser movimentada por executivo dela em benefício do ex-diretor, além de outros repasses a serem ainda rastreados.

A Operação Lava Jato afirma que a OAS e a Odebrecht distribuíram propina de ao menos R$ 68.295.866,00, "em valores históricos", e que representam quase 10% do valor da obra.

A investigação aponta que, para obterem ainda maior volume de vantagens indevidas, os envolvidos no esquema ilícito atuaram para que fossem celebrados aditivos ao contrato de gerenciamento, em favor da Mendes Pinto e ao contrato da obra, em favor da OAS e da Odebrecht (Edificações Itaigara), além de novo contrato de projeto executivo celebrado com a Chibasa.

"Isso implicou estrondoso aumento do valor do empreendimento, acarretando prejuízo adicional à Petrobras. Com os aditivos contratuais e novas contratações, o valor do empreendimento da Torre Pituba atingiu o montante de R$ 1.317.063.675,10, em valores corrigidos até novembro de 2018", informou a Procuradoria em nota.

Para embasar as medidas requeridas, foram obtidas evidências de quebra de sigilo de dados bancários, fiscais, telemáticos e telefônicos que comprovaram as afirmações dos colaboradores, além de documentos oriundos de cooperação jurídica internacional.

Além disso, diligências realizadas evidenciam a utilização de dinheiro em espécie por parte dos beneficiários finais do esquema, mediante depósitos estruturados e compra de bens valiosos, alguns em espécie, e não declarados à Receita Federal.

"É estarrecedor ver um golpe dessa magnitude aplicado não apenas contra a tão vilipendiada Petrobras, mas também contra todos aqueles que confiaram destinar suas economias de uma vida ao fundo de pensão, buscando, destacadamente, amparo na velhice por meio das aposentadorias. Atos de gestão fraudulenta como os revelados no caso da Petros são afrontosos à higidez do sistema de previdência complementar e comprometem gravemente a confiabilidade de seus investimentos", afirma Isabel Groba Vieira, procuradora regional da República.

Defesas

A reportagem está tentando contato com os citados. O espaço está aberto para manifestação.

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