Tópicos | Operação Trem Pagador

A terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 1ª Região, sediada em Brasília, declarou na terça-feira nulas as interceptações telefônicas da Operação Trem Pagador, da Polícia Federal, que levou à prisão o ex-presidente da Valec Engenharia José Francisco das Neves, o Juquinha, acusado de corrupção e desvio de dinheiro público na construção da ferrovia Norte-Sul. Com isso, ficam nulas as provas derivadas dos grampos e a investigação volta praticamente à estaca zero.

Por unanimidade, a turma acompanhou o voto do relator, desembargador Tourinho Neto, autor de decisão favorável à invalidação das interceptações contra a quadrilha comandada pelo bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. O Ministério Público, responsável pela denúncia, vai recorrer da decisão no próprio TRF1. A PF alegou que só cumpre ordens judiciais e não vai comentar o caso.

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O julgamento foi realizado na terça e a decisão comunicada na quarta à 11ª Vara da Justiça Federal, de Goiás, onde corre o processo. Em julho passado, Juquinha foi preso junto com a mulher e o filho, além de outras pessoas, por suspeita de enriquecimento ilícito e desvio, recursos públicos e superfaturado de um trecho da ferrovia Norte-Sul em Goiás. Durante as investigações, o MP apurou que um patrimônio, avaliado em R$ 60 milhões, foi posto em nome do ex-dirigente, parentes e laranjas. A justiça bloqueou os bens dos envolvidos nas fraudes.

Em primeira instância, a justiça federal havia autorizado as interceptações telefônicas dos acusados por entender que, em investigações de fraude em licitações com indícios de apropriação de dinheiro público, o monitoramento das comunicações é de grande valia. Mas em recurso à Corte, a defesa dos réus alegou que, sendo o crime de "fraude em licitação" punido com pena de detenção, e não de reclusão, a interceptação seria ilegal.

Tourinho Neto entendeu que o argumento dos investigados "é procedente", nos termos do art. 2.º, inciso III, da Lei 9.296/96. Além disso, afirmou que há abuso da PF no uso de grampos telefônicos, medidas que a seu ver "só devem ser autorizadas quando absolutamente indispensáveis à apuração da infração penal". No caso de Juquinha, segundo o relator, as provas necessárias ao desvendamento dos crimes "poderiam ser obtidas por outros meios".

 

O ex-presidente da Valec José Francisco das Neves, o Juquinha, e seus familiares, souberam das investigações da Polícia Federal meses antes de ser deflagrada, na quinta-feira, a Operação Trem Pagador, que resultou na prisão do ex-servidor e de mais três pessoas por suspeita de corrupção, lavagem de dinheiro, ocultação e dissimulação de bens.

Os investigadores interceptaram em setembro uma mensagem de celular, na qual o advogado Aurelino Ivo Dias, de Goiás, avisava um dos filhos de Juquinha, Jader Ferreira das Neves, também preso, das apurações. O torpedo foi enviado um mês após o início das investigações. A partir daí, os acusados trocaram os telefones e ficaram mais cautelosos nas conversas para dificultar o trabalho dos policiais.

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A Polícia Federal deve abrir um inquérito específico para apurar como o advogado teve acesso aos dados. Segundo as investigações, ele não tinha relacionamento com Juquinha, que é presidente do PR em Goiás. Após o episódio, no entanto, passou a advogar para o partido. Na quinta-feira, Aurelino foi conduzido à Superintendência da PF em Goiás para prestar esclarecimentos. "Estamos levantando o nível de informações que ele passou. O fato é que ele tinha informações da existência das interceptações e passou isso para o Jader", diz um dos investigadores.

Autorizações.

As autorizações para a Operação Trem Pagador foram dadas pela 11.ª Vara da Justiça Federal em Goiânia, a mesma que conduz o processo na Monte Carlo. O juiz Alderico Rocha Santos assumiu o caso no mês passado, após seu antecessor, Paulo Moreira Lima, pedir afastamento em meio a uma crise com o titular da vara, Leão Aparecido Alves. Leão teria se queixado de que um telefone usado por seus familiares estava sendo monitorado. Ele se declarou suspeito para conduzir o processo. A Corregedoria do Tribunal Regional Federal da 1.º Região apura o vazamento de informações.

As investigações da Trem Pagador começaram quando a Procuradoria da República em Goiás fazia levantamento para pedir à Justiça a indisponibilidade de bens de Juquinha, investigado por inflar preços da obra da Ferrovia Norte-Sul quando presidente da Valec, beneficiando empreiteiras. O trabalho mostrou que um vasto patrimônio, avaliado em R$ 60 milhões, foi posto em nome do ex-dirigente, parentes e laranjas. Além de Jader, foram presos a mulher do ex-servidor, Marivone Ferreira das Neves, e um sócio, Marcelo Araújo Cascão, que foi solto nesta sexta-feira. Outros dois filhos dele estão envolvidos, sustenta a PF.

O ex-presidente da Valec José Francisco das Neves, a mulher dele, Marivone Ferreira das Neves, e o filho, Jader Ferreira, foram presos nesta quinta-feira em Goiânia, pela Polícia Federal, na operação "Trem Pagador" deflagrada em conjunto com o Ministério Público Federal. Além das ordens de prisão foram apreendidos cerca de R$ 60 milhões em bens.

As primeiras investigações eram sobre a suspeita de superfaturamento das obras da Ferrovia Norte-Sul, sob responsabilidade da Valec, motivo pelo qual José Francisco foi afastado da presidência da empresa, no ano passado.

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Durante o processo foi identificado o aumento do patrimônio imobiliário de José Francisco, incompatível com a sua atividade de empregado público. Foi então que em agosto do ano passado foram iniciadas as investigações para apurar crimes de lavagem de dinheiro, atribuídos a Jose Francisco à mulher e aos filhos Jader e Karen.

As suspeitas eram de que José Francisco estaria usando a mulher e os filhos como laranjas para proteger e ocultar o patrimônio "possivelmente obtido com o produto de crimes de peculato e de licitação que praticou no exercício do cargo de presidente da Valec", afirma o Ministério Público Federal.

Esses indícios, segundo o MPF, foram reforçados com o resultado de pesquisas em bancos de dados e com informações encaminhadas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf).

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