O procurador Diogo Castor de Mattos pagou por um outdoor, que foi instalado na saída do aeroporto de Curitiba, enaltecendo a Lava Jato e chegou a confessar a atitude para o corregedor-geral do Ministério Público, Oswaldo Barbosa, mas este omitiu a informação do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) evitando assim uma punição ao procurador.
As informações são do site The Intercept Brasil que publicou, nesta segunda-feira (26), novas trocas de mensagens de membros da força-tarefa da Lava Jato e, inclusive, áudios de conversas entre eles.
##RECOMENDA##De acordo com a reportagem, as mensagens apontam que o coordenador da força-tarefa, Deltan Dallagnol, intermediou conversas com Oswaldo Barbosa visando proteger o colega procurador e o corregedor disse a Dallagnol que iria suspender apurações e manter o caso em segredo. É papel do corregedor-geral enviar informações suspeitas para o CNMP que fiscaliza promotores e procuradores de todo o país.
O outdoor mostrava nove procuradores da Lava Jato e dizia: “Bem-vindo à República de Curitiba. Terra da Operação Lava Jato, a investigação que mudou o país. Aqui a lei se cumpre. 17 de março – 5 anos de Operação Lava Jato — O Brasil Agradece”. Na época, advogados acionaram o CNMP questionando o princípio da impessoalidade e a autoria da peça.
Apesar de ter confessado ter pago a propaganda, Castor de Mattos pediu afastamento da força-tarefa em 5 de abril, sob a justificativa de doença, e como a confissão não foi apresentada ao CNMP, o questionamento dos advogados foi arquivado.
Em conversa privada no dia 28 de março deste ano, Oswaldo Barbosa pede para que Deltan verifique a autoria do outdoor porque está “repercutindo muito”. O chefe do grupo diz que acredita ser questionável que eles apurem e pontua: “fique à vontade aí para buscar a informação”. Dallagnol também pede que seja publicizada qualquer apuração para desmentir notícias que atribuem a Lava Jato o outdoor.
De acordo com o site, os dois chegaram a se falar depois e, desta vez, houve um detalhamento sobre a confissão de Diogo Castor de Mattos.
Depois, em 5 de abril, Deltan envia a íntegra de um ofício que ele encaminhou para o corregedor-geral com o afastamento e a confissão de Diogo para os demais procuradores da força-tarefa no grupo Filhos de Januário 1.
“Senhor Corregedor, Cumprimentando-o, dirijo-me a V. Exa. para informar, em nome dos colegas que integram a força-tarefa da operação Lava Jato, que o procurador Diogo Castor de Mattos, afastado nesta data por razão psiquiátrica, comunicou aos procuradores que custeou com recursos próprios, por iniciativa de um amigo do seu relacionamento particular, a publicação de outdoor com imagem e mensagem de reconhecimento dos trabalhos da Lava Jato, nesta cidade, em março deste ano…”
Depois disso, segundo a reportagem, Deltan pede que o assunto seja abafado e surgem os áudios.
O primeiro a falar, em 7 de abril de 2019, é o procurador Orlando Martello: “Ele pediu para sair, mas se ele não pedisse, teria a nossa decisão de que ele deveria sair. O que ele fez foi uma certa traição. Falando para nós aqui. Ele traiu o grupo ao fazer uma coisa sem comunicar a todos. Então ele sairia de qualquer forma... Agora depende da repercussão que isso tiver, Se não tiver repercussão nenhuma nada obsta que lá na frente ele retorne. Agora se ele não saísse espontaneamente, ele seria obrigado a sair. Ou então eu sairia”.
Em outra gravação, o procurador Paulo Galvão diz que Castor de Mattos prestou as informações “espontaneamente” à corregedoria. Já o procurador Julio Noronha, pondera que, se a força-tarefa justificasse a saída de Castor de Mattos apenas pela questão de saúde, estaria sendo “conivente além do necessário com a situação”.