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A dengue é uma realidade no Brasil, há décadas. Já sabemos quais são os sintomas da doença e como combater a reprodução do mosquito transmissor, o Aedes aegypti, mas muitas pessoas ainda confundem os pernilongos normais com os transmissores da dengue. As diferenças são muitas e fáceis de identificar.

Para começar, o mosquito da dengue e o pernilongo são mosquitos de famílias diferentes. Enquanto o primeiro é o Aedes aegypti, o pernilongo é o Culex quinquefasciatus. É possível identificá-los tanto durante o voo, “em ação”, quanto em repouso. As cores são diferentes. O pernilongo tem uma coloração uniforme marrom e o Aedes aegypti tem o corpo preto com listras brancas. O tamanho também: o primeiro mede de 3 a 4 milímetros enquanto o segundo tem de 5 a 7 milímetros.

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As características e o hábito do voo de ambos também são diferentes. Enquanto o pernilongo tem um voo mais lento e ruidoso (gerando um zumbido), o Aedes aegypti é mais veloz e silencioso e costuma atacar de 9h às 13h. Os pernilongos, por sua vez, agem à noite, a partir das 18h.

Outra diferença está na picada. O pernilongo deixa um pequeno calombo avermelhado e essa marca provoca coceira. Já o mosquito da dengue não deixa marcas e não provoca coceira na picada. Vale lembrar ainda que o Aedes aegypti também é o transmissor da febre chikungunya, da febre amarela e do zica vírus.

Ambos colocam ovos em água parada, mas o mosquito da dengue prefere água limpa e deposita os ovos em vários locais, individualmente. Já o pernilongo coloca seus ovos juntos, em forma de jangada, em água suja, poluída.

O surto do vírus zika no Brasil pode ter um novo vetor além do mosquito Aedes aegypti, segundo revelação feita ontem por pesquisadores do projeto de vetores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em Pernambuco. De acordo com a cientista Constância Ayres, o vírus foi encontrado ativo na glândula salivar e no intestino do mosquito Culex, o pernilongo comum.

"Isso significa que o atual vírus conseguiu escapar de algumas barreiras no mosquito e chegou à glândula salivar", explicou a pesquisadora durante o workshop A, B, C, D, E do vírus zika. No encontro, ela apresentou resultados preliminares da investigação que levaram à disseminação do vírus para a glândula salivar do mosquito, por onde aconteceria a transmissão da doença para humanos.

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A conclusão se deu após Constância realizar em laboratório três infecções em aproximadamente 200 mosquitos Culex criados em laboratório em dezembro e em fevereiro. No experimento, a pesquisadora alimentou por sete dias os pernilongos com sangue infectado pelo zika e a conclusão foi que o vírus se manteve ativo. Apesar de parcial, a pesquisa levanta forte hipótese de o Culex também transmitir o vírus da zika.

"Para concluir isso (em definitivo), só falta identificar em campo a espécie de mosquito infectada com o vírus da zika", ressaltou a bióloga que ingressará com a nova fase da pesquisa, partindo para análise do material de campo que está sendo coletado para chegar a uma conclusão - em seis a oito meses. "Nas casas e onde acontecem registros do vírus estão sendo coletados mosquitos das duas espécies. Trazemos esse material para o laboratório e fazemos os testes moleculares para detectar o vírus nessas espécies. Tendo realizada uma grande quantidade de amostras, poderemos ter uma ideia se o Aedes é o vetor exclusivo, se existem outros vetores e qual a importância de cada um na transmissão", afirma.

A presença do Culex em zonas urbanas do País supera em 20 vezes a incidência do Aedes, conforme os especialistas da Fiocruz. Ele também constituiria uma ameaça maior, por estar disseminado quase em todo o mundo, e por ter facilidade de reprodução em água suja - ao contrário do vetor comum de dengue, zika e chikungunya.

Cautela

Apesar do achado, especialistas dizem que o fato de o Culex ser "infectável" não indica obrigatoriamente que ele possa transmitir zika. "O experimento ainda é muito preliminar", disse Margareth Capurro, bióloga do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP).

O assunto também foi discutido ontem nos Estados Unidos. Em debate sobre o combate à zika realizado na sede da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), em Washington, o coordenador do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fiocruz, Paulo Buss, afirmou que será preciso pesquisar mais para descobrir se o vírus pode ser transmitido pelo Culex. "A possível transmissão não está descartada, mas ainda precisa ser provada. É uma das questões que ainda não sabemos responder", ressaltou. "Diversos estudos estão sendo levados adiante e as análises ainda estão sendo reunidas por entomologisatas e outros especialistas", afirmou Buss.

Balanço

No mesmo evento, a Opas informou que há 134 mil casos suspeitos de zika no continente e 2.765 confirmados. A organização destaca que, pelo fato de 80% das vítimas serem assintomáticas e ainda existir dificuldade de diagnóstico, esses números não representam o surto. (Colaboraram Fabiana Cambricoli e Fábio de Castro)

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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