O coordenador nacional do Movimento dos Sem Terra (MST) João Pedro Stédile respondeu com ironia às hostilidades sofridas no aeroporto de Fortaleza (CE). Em palestra durante o Congresso dos Servidores Públicos do Ceará nesta quarta-feira, 23, o líder sem terra disse que o MST já está "há muito tempo em Cuba". Na véspera integrantes de um grupo antipetista o cercaram aos gritos de "MST, vai pra Cuba com o PT". "Eles não sabem mas já estamos em Cuba há muito tempo", disse Stédile.
Segundo ele, 78 integrantes do MST estão entre os 580 brasileiros formados na Escola Latino Americana de Medicina, sediada em Havana, nos últimos 10 anos. "Saí de lá convencido que mais médicos brasileiros negros foram formados em Cuba do que nas universidades brasileiras", disse ele. Segundo Stédile, as hostilidades praticadas na terça-feira à noite em Fortaleza fazem parte da "raiva" da burguesia. "Eles ainda não saíram da casa grande. Não conseguem conviver com a senzala", afirmou. O líder sem terra arrancou gargalhadas da plateia ao dizer que os manifestantes tentaram ofendê-lo chamando de "comunista".
##RECOMENDA##Stédile foi recebido com apitaço, vaias e xingamentos ao desembarcar no aeroporto de Fortaleza, por cerca de 40 pessoas do Instituto Democracia e Ética (IDE). Ligado à Aliança Nacional dos Movimentos Democráticos, o IDE encabeça, no Ceará, as manifestações que pedem o impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Aos gritos de "MST, vai pra Cuba com PT", os manifestantes seguiram Stédile e a professora Adelaide Gonçalves, do Curso de Ciência Sociais da Universidade Federal do Ceará, do desembarque até a área do estacionamento do aeroporto. A professora Adelaide, que foi recepcioná-lo até tentou conversar com os manifestantes, que respondiam com frases como "a nossa bandeira jamais será vermelha". Os mais exaltados aparecem no vídeo chamando o líder do MST de "comunista safado".
O episódio teve grande repercussão entre movimentos sociais, partidos e políticos de esquerda. A direção nacional do MST divulgou, nesta quarta-feira, 23, uma nota repudiando o ato por considerá-lo "agressivo e constrangedor". De acordo com a nota, o fato reflete o atual momento político pelo qual passa o País, "em que se vê crescer a cada dia o ódio contra os movimentos populares, migrantes e a população negra e pobre", e o comparou aos recentes acontecimentos no Rio de Janeiro.
"Em que a juventude das favelas está sendo impedida, com risco de sofrer agressão, de ir às praias da zona sul da capital fluminense". E prossegue: "Estes atos de violência e ódio propagados intensamente nas redes sociais, e que reverberam cada vez mais nas ruas, é mais uma demonstração da violência dos setores da elite brasileira dispostos a promover uma onda de violência e ódio contra os setores populares".
Outras 29 entidades, entre elas a Central Única dos Trabalhadores (CUT), União Nacional dos Estudantes (UNE), Central dos Trabalhadores Brasileiros (BTB), União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Movimento de Atingidos por Barragens (MAB), Marcha Mundial das Mulheres (MMM), Levante Popular da Juventude, Juntos, União da Juventude Socialista (UJS), Fora do Eixo, além do PT, PDC do B, PSOL, cerca de 20 parlamentares destes partidos e do assessor especial da Secretaria Geral da Presidência, Renato Simões, divulgaram uma nota na qual acusam o empresário Paulo Angelim, dono de uma imobiliária em Fortaleza, de ser o responsável pela ação.
"Temos convicção de que a agressão sofrida pelo companheiro Stédile não se limita a um ataque individual, ou somente ao MST. Esta agressão só pode ser compreendida como parte de uma ofensiva conservadora da direita na sociedade que busca criminalizar e intimidar todos/as aqueles/as que lutam por um Brasil justo e soberano", diz a nota.
Segundo as entidades, o organizador da ação, Paulo Angelim, empresário do setor imobiliário em Fortaleza, é militante do PSDB.
Nas redes sociais, Angelim, coordenador do IDE, disse que Stédile não teve sua integridade física ameaçada. "Para aqueles que estão sentindo peninha pela recepção que Stédile recebeu ontem em Fortaleza, tenho a dizer que aquilo foi um beijo comparado aos impropérios que esse fora-da-lei vocifera livremente pelos quatro cantos do Brasil, incitando o ódio, a violência, a luta de classes, o desrespeito ao patrimônio privado e público e, ainda, prometendo colocar exércitos nas ruas", afirmou Angelim.
"Parem de se esquivar da verdade. Esse elemento, da mais alta periculosidade, apenas está recebendo de volta do mundo o que tem plantado em sua vida: asco", completou. De acordo com ele, em nenhum momento Stédile ficou acuado. "Estava era achando tudo um saco. Ele sabia que não iríamos agredir, porque somos ordeiros, Desdenhou da gente", comentou o coordenador do IDE.
Angelim confirmou ao jornal O Estado de S.Paulo, por telefone, ser filiado ao PSDB mas disse que o IDE é um movimento suprapartidário. "Isso não tem nada a ver com o partido. Tinha gente de vários partidos na manifestação, inclusive do PMDB", disse ele.