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Com a demanda em queda livre por conta da inflação, as redes de supermercados têm trabalhado com estoques menores e buscado equilibrar pedidos, ao encomendar apenas a previsão do que o consumidor vai de fato comprar. Com essa maior seletividade, porém, tem aumentado a queda de braço entre lojistas e indústria, que tem sido mais criteriosa nos descontos para grandes encomendas.

Os mercados têm acertado em suas previsões. O índice geral de rupturas (produtos que faltam nas prateleiras) calculado pela Neogrid, empresa especializada em cadeias de suprimentos, teve ligeira queda em junho e ficou em 11%, comparado aos 11,5% de maio. Esse não é um indicador de desabastecimento, mas, sim, de faltas pontuais, que ocorrem em razão de estoques menores e entregas postergadas.

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Segundo Robson Munhoz, diretor da Neogrid, o varejo alimentar vem trabalhando com o menor índice de estoques em dois anos. "As varejistas não estão mais comprando por oportunidade, mas sim por necessidade. Diversas indústrias têm limitado os volumes e, por isso, os descontos concedidos têm sido mais criteriosos", afirma.

Para ele, as varejistas estão aprendendo a calcular a demanda do ponto de vista do consumidor. "É um ensaio mais apurado sobre o que de fato vende", diz. "Estão aprendendo a entender a demanda principalmente pelo uso de tecnologia."

Mais negociações

O vice-presidente institucional da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), Marcio Milan, afirmou na quinta-feira, 14, que a entidade tem estimulado os associados a negociar mais intensamente com a indústria. A lógica é entender os aumentos de preços e identificar determinadas altas injustificáveis. Ele diz que as negociações têm sido mais longas, exigido mais informações e que isso não tem causado desabastecimento nas lojas.

"Não identificamos falta de produtos em razão da maior negociação de supermercados com indústria", afirmou. Ainda assim, eventuais quebras no fornecimento podem acontecer de maneiras pontuais. "Ruptura é algo inerente à operação dos supermercados. Em momentos inflacionários, normalmente há uma tendência disso aumentar", diz.

Isso ocorre porque, na tentativa de melhorar o preço de compra da mercadoria, os estoques diminuem e faltam determinados itens nas gôndolas até que se chegue a um acordo com o fornecedor. Como a demanda está menos aquecida, porém, essas quebras estão menos frequentes. O consumo nos lares brasileiros subiu 0,39% em maio em relação ao mesmo mês de 2021. Na comparação com o mês imediatamente anterior, porém, houve queda de 3,47%, influenciada pela sazonalidade. Os dados são da pesquisa Consumo nos Lares Brasileiros da Abras.

Para Joelson Sampaio, professor de economia da FGV, o cenário de inflação eleva o desafio para indústria e varejo na mesa de negociações. "As varejistas têm de aumentar a pesquisa e comparação de preços e produtos para conseguir melhorar as negociações. O atual momento demanda mais estratégias para se obter um bom planejamento."

Mesmo com a perspectiva de melhora da crise do combustível, por conta da recente medida do governo envolvendo o ICMS, a continuidade da ruptura na cadeia produtiva deve seguir tendo impacto para o varejo e a indústria, afirma. "A falta de insumos e produtos na indústria acaba dificultando as negociações", diz.

O que falta

A indisponibilidade do leite longa vida nas gôndolas dos supermercados em junho atingiu o maior patamar em um ano, e o segundo maior desde janeiro de 2019. De acordo com dados da Neogrid, a falta do item nas prateleiras registrou índice de 19,4% em junho, ante 18,8% no mês anterior. Outro produto que também registrou alta de ruptura em junho, de 19,4% - a segunda maior no ano -, foram os ovos, que acabam substituindo a proteína animal em muitas mesas. Em maio, o índice foi de 17%.

No caso do leite, Munhoz afirma que a ruptura elevada deve se manter até o fim deste trimestre. Entre os motivos, estão estiagem, aumento no custo da ração do gado e do valor do leite no varejo. "Isso afeta também parte dos derivados, como leite condensado, iogurte, queijos, entre outros", afirma.

Já os ovos obedecem a outro fenômeno: "O dólar aumentando, a situação ainda de guerra na Ucrânia, a inflação elevada e o aumento nas tarifas de luz causam efeitos em toda a cadeia de abastecimento. A indústria não consegue sustentar aumentos e precisa repassar parte do custo - com supermercados registrando margens muito apertadas e também não conseguindo segurar o reajuste dos valores. Isso afeta o consumidor final - que passa a buscar mais ofertas, marcas mais baratas, troca proteínas pelas mais em conta", diz Munhoz.

Diferentemente do leite que, no mesmo período do ano passado estava em um patamar parecido de rupturas (em 19,2% frente os 19,4% de agora), os ovos estão 2,4 pontos porcentuais acima do registrado em junho de 2021.

Numa queda de braço com o Ministério da Economia, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) descumpriu o acordo fechado no início de 2021 que previa a devolução de R$ 100 bilhões dos empréstimos feitos pelo Tesouro ao banco estatal.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, contava com a devolução desses R$ 100 bilhões na sua estratégia para reduzir a dívida pública em 2021, depois dos gastos maiores com a estratégia de combate da pandemia da covid-19, a partir de março de 2020.

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Nas projeções para a dívida bruta, a equipe econômica contava com o cumprimento do cronograma de devolução de R$ 100 bilhões em 2021 e de mais R$ 54 bilhões em 2022. Para 2021, o governo projetava uma dívida de 80,6% do Produto Interno Bruto (PIB), com queda para 79,5% no ano seguinte. Esse cenário agora terá de ser alterado.

O BNDES fez esta semana o último pagamento do ano, no valor de R$ 3,5 bilhões, totalizando R$ 62, 6 bilhões de devolução antecipada em 2021. Outros R$ 4,6 bilhões foram pagos referentes às parcelas ordinárias.

 

ENTENDA O CASO

Os empréstimos do Tesouro ao BNDES marcaram a política econômica dos governos Lula e Dilma Rousseff e serviram para bancar o financiamento de empresas com juros mais baratos e taxas subsidiadas.

Após o Tribunal de Contas da União determinar a irregularidade das operações, há quase cinco anos, foi fechado um cronograma de devoluções, após certa resistência do BNDES, que chegou a ser cobrado pelo Ministério Público junto ao TCU no que se refere à realização dos pagamentos.

Em março deste ano, no entanto, o próprio banco de fomento havia confirmado que devolveria antecipadamente os valores em proposta encaminhada ao Tribunal de Contas da União (TCU).

O plenário do TCU considerou irregulares os contratos de empréstimos firmados entre a União e os bancos públicos realizados por meio da emissão direta de título do Tesouro, seja para a realização de políticas públicas setoriais ou para aumento de capital da instituição financeira.

O objetivo da devolução é viabilizar a redução do saldo da dívida pública mobiliária federal e do montante projetado de subsídios creditícios. Mas a operação sempre foi alvo de resistência do banco, que contava com parte dos títulos repassados pelo Tesouro no seu caixa para reforçar o seu lucro.

Questionado pelo Estadão, o banco alegou que o plano de devolução tinha dois cronogramas de antecipação distintos: um de compromisso firme, no qual as antecipações deveriam observar o ritmo do retorno dos recursos empregados em operações de crédito, e outro chamado de "melhores esforços", cuja efetiva execução está sujeita ao atendimento de "certas condições" precedentes que terminaram por não se realizar.

No comunicado, o BNDES não explicou que condições seriam essas. Mas reconheceu que o cronograma de melhores esforços é uma forma de acelerar a liquidação antecipada que está sujeita a determinados condicionantes que não levem "à perda financeira do banco".

PREJUÍZO

Como os empréstimos do Tesouro posteriormente considerados irregulares pelo TCU foram feitos em condições mais favoráveis, esse tipo de cronograma, na prática, abre brecha para que a antecipação não ocorra porque o banco sempre alegará que terá perdas com o repasse ao Tesouro.

A articulação do banco de usar esse tipo brecha gerou atrito com o Ministério da Economia, especialmente em um momento em que o compromisso do governo com a austeridade fiscal está sendo questionada pelo mercado.

De acordo com o banco de fomento, o saldo dos passivos considerados irregulares soma R$ 98 bilhões. O banco informou que a velocidade da liquidação dependerá do atendimento de condicionantes que levem a perdas.

Procurado pelo Estadão, o Ministério da Economia informou que o cronograma só estará cumprido no encerramento das devoluções.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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