Tópicos | Richard Bona & Sylvain Luc

O público que compareceu à primeira noite da Mostra Internacional de Música de Olinda (MIMO), que teve como palco a Igreja da Sé, pode sentir a dose do que vem por aí até o final da nona edição. Abrindo a programação, o filme Futuro do Pretérito: Tropicalismo Now!, de Ninho Moraes e Francisco César Filho, introduziu o público na atmosfera musical do festival com uma releitura moderna da Tropicália, tendo como mote um show idealizado por André Abujamra no Teatro Oficina, em São Paulo, que contou com vários artistas, entre eles Luiz Caldas.

Misturar documentário com ficção é a aposta do longa, que experimenta na linguagem audiovisual, mesclando entrevistas, discursos gravados, leitura de livros, depoimentos, performances teatrais, imagens de shows e programas de tv. O prêmio conquistado pelo filme no Festival de Gramado, na categoria trilha sonora, reforça os motivos de sua exibição no Festival MIMO de Cinema, uma vez que as produções selecionadas para a mostra se fazem valer pelas virtudes artísticas, tendo como fio condutor a temática musical. Apesar da ausência de Caetano Veloso, um dos líderes do movimento tropicalista que foi apenas citado e "substituído" pela leitura de seu livro Vereda Tropical, o filme cumpriu as expectativas de quem foi ao Alto da Sé em busca de uma referência didática no campo da música.

Atração pincipal da noite, o trio Richard Bona, Sylvain Luc e Marcos Suzano agradou em cheio o público que foi conferir a apresentação no palco montado na Igreja da Sé. Depois de se apresentarem juntos pela primeira vez na MIMO Ouro Preto, o trio demonstrou entusiasmo e abraçou a oportunidade de tocar em Olinda. Arriscando um português rasteiro, mas cheio de sintonia com a plateia, Bona encantou pela simpatia e sensibilidade que deixa transparecer só pela sua presença. O africano de Camarões é um dos baixistas mais requisitados da Europa e se apresenta, há um tempo, ao lado do talentoso violonista e guitarrista francês Sylvain Luc. A participação do percussionista carioca Marcos Suzano foi uma sugestão bem sucedida do festival. O gingado brasileiro do pandeiro de Suzano, que também fez uso do carron e já havia tocado com Bona em um show de Lenine, incrementou a dinâmica do duo europeu.

Bona roubou a cena ao emprestar sua voz de timbre assombroso a algumas músicas que remetem a canções de ninar e cantos africanos. Um dos momentos mais delicados do show foi, sem dúvida, quando o camaronês ficou sozinho no palco e mostrou toda a sua sensibilidade vocal, brincando com um suposto playback, que ecoava na igreja mesmo quando o músico se distanciava do microfone. Bona aproveitou o recurso proposital para contrapor estalos, sons e ruídos, emitindo vocalizações que fazem alusão ao som dos instrumentos e projetando uma aura ritualística que encantou o público olindense.

Optando por se comunicar em inglês com a plateia que lotou a Igreja da Sé, o músico africano disse que, para ter coragem de cantar em português, teve que experimentar a cachaça brasileira. A homenagem ao país tropical veio com a bossa de nova de Tom Jobim, A Felicidade, para alegria do público que não escondeu os sorrisos, acompanhando em coro o trio. Em seguida, Bona selou um dos momentos mais emocionantes do show, quando prestigiou o Rei do Baião cantando Assum Preto e Asa Branca em inglês e arriscando, mais uma vez, trechos em português. O artista ainda teceu elogios à cidade patrimônio histórico, dizendo que os melhores músicos do mundo podem ser encontrados em Olinda. O concerto pode ser acompanhado pelo telão na área externa da Igreja da Sé, espaço que também ficou lotado por quem não conseguiu senha para acompanhar o show dentro da Igreja.

O trio provou que não foi à toa o convite para participar da MIMO. Segundo o diretor artístico do evento, André Oliveira, a fama não é critério para a escolha dos artistas que integram a programação, e sim a coerência artística com a proposta do festival. "Nós viemos construindo uma confiança no público pelas atrações que selecionamos. Não temos interesse em trazer artistas que todos já conhecem. Prezamos pela surpresa na linguagem artística e, sobretudo, pela qualidade musical. Queremos sempre surpreender o público", refletiu em conversa com o LeiaJá.

Após dar início à estapa educativa, a Mostra Internacional de Música de Olinda - MIMO inicia, nesta quarta-feira (5), sua programação de concertos musicais. De hoje até domingo (9), o sítio histórico de Olinda e as cidades do Recife e de João Pessoa recebem artistas como Egberto Gismonti, Chucho Valdés (cuba), Arnaldo Baptista, Orquestra Contemporânea de Olinda e Calíope.

Quem inicia a série de apresentações é a dupla Richard Bona & Sylvain Luc, que se apresenta às 20h30 na Igreja da Sé, em Olinda. A MIMO dá início também ao Festival MIMO de cinema, que exibe ao todo 25 filmes. Não competitivo, o festival inclui longas, médias e curtas-metragens, todos com referências musicais. A programação traz filmes como Di Melo - o Imorrível, Marcelo Yuka no Caminho das Setas, Siba - Nos Balés da Tormenta e Tom Zé em A Lavagem das Calcinhas Voadoras

Em 2012, a MIMO chegou pela primeira vez a Ouro Preto, cidade histórica de estado de Minas Gerais, onde aconteceu entre os dias 30 de agosto e 2 de setembro. Confira a programação completa da MIMO aqui.

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