Shirlande
Pereira
“A sociedade não está preparada para quebrar tabus”, conta Shirlande Pereira, morena, com estatura mediana, cabelos pretos, divorciada, e 31 anos de puro entusiasmo. Evangélica da Igreja Batista há 20 anos, trabalha como assistente financeira de uma empresa de caminhão e seu maior sonho é ter um filho e se formar em jornalismo.
Conheceu o ex-marido em um cursinho pré-vestibular, acabou se apaixonando, e namorou por dois anos. Ele é frequentador da Igreja Presbiteriana, lugar que ela começou também a frequentar, e logo após se casou. O relacionamento durou dois anos e sete meses. Com uma expressão de decepcionada, Shirlande demonstra que seu relacionamento não foi dos melhores. “Ele aprontava muito”.
Ela diz que não gosta de julgamentos precipitados e valoriza o que as pessoas são, independente de raça, religião ou opção sexual. “Tanto dentro da igreja quanto na sociedade em si, as pessoas não estão preparadas para quebrar tabus. Podem até afirmar não terem preconceito com drogados, homossexuais, divorciados, mas existe sim, as pessoas são muito fechadas. A minha mente hoje em dia é mais aberta por conviver com pessoas de todos os tipos”.
Qual é o maior defeito de Shirlande?
Ser sincera, sou muito sincera, chega até ser chato. Teve uma vez que o pastor disse que precisava de dois anos para se divorciar, e quem não seguisse, estaria fraudando a lei. Só que a lei mudou, fiquei revoltada. Esperei a reunião acabar e fui falar com ele e disse: preste atenção no que o senhor fala, porque isso magoa. A lei mudou. Eu poderia me divorciar no outro dia, porque a lei permite isso. Se eu acredito em uma coisa eu vou até o final.
Como você vê as igrejas atualmente?
Nem todo mundo que está dentro da igreja é devoto, se tornou mais ponto de encontro de amigos. Tem gente que não leva Deus a sério, eles na igreja se mostram santinhos, mas por trás faz um monte de coisa errada, pensando que escondendo da igreja está escondendo de Deus. Em muitas igrejas isso é moda (referindo-se aquelas que se tornam apenas ponto de encontro de amigos).
O que mudou na sua vida depois do divórcio?
Para algumas pessoas, mulher divorciada é sinônimo de fácil, pega qualquer um. As pessoas olham atravessado porque nunca é o homem quem erra. Quando eu me separei apareceram vários meninos querendo ficar comigo só pelo fato de não estar mais com o meu ex-marido. Odiei, não admito ser usada, posso até usar, mas ser usada, nunca.
Para você o machismo ainda está presente na sociedade?
O machismo reina, e não só em homens, em mulheres também, na própria igreja, por exemplo. Eu vejo os casais mais novos abraçados, e a menina me olha com uma cara feia, e eu nem olho pro lado, não me interessa.
O que é ser “mente aberta”?
Respeitar o próximo. Não importa o que você faz da sua vida íntima, e sim a pessoa que você é. Como você me trata. Se você me faz bem, eu vou lhe respeitar. Porque eu quero que a minha vida, minha religião, minha opção sexual seja respeitada, então eu respeito para ser respeitada.