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Em agosto deste ano, autoridades e médicos brasileiros depararam com o aumento inesperado do nascimento de crianças com microcefalia, uma malformação irreversível no cérebro. Até o final de novembro, quando o Ministério da Saúde confirmou a relação entre as ocorrências e a chegada do vírus Zika ao Brasil, não se sabia ao certo a origem dos casos, pois não se encaixavam nos diagnósticos já conhecidos pela literatura médica. Perguntado sobre uma situação comparável a essa, o presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva, Gastão Wagner Campos, relembrou as deformidades causadas pela talidomida nos anos 50 e 60.

Em 1959, médicos alemães começaram a relatar o aumento da incidência de nascimento de crianças com um tipo peculiar de malformação congênita, com deformidades no esqueleto, nas pernas e ausência de alguns ossos nos braços. Dois anos depois, pediatras começaram a relacionar os casos ao uso da talidomida (substância tranquilizante e anti-inflamatória, usada para controlar enjoos durante a gravidez) por gestantes. No Brasil, pelo menos 700 pessoas nasceram com malformação genética devido ao uso da talidomida. No mundo todo, foram cerca de 10 mil casos.

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Substância“Surgiu essa droga barata e muito efetiva, usada em larga escala pela indústria farmacêutica e começaram a nascer milhares de crianças com sequelas graves, sem braço, com deformidades. Demoraram a fazer essa relação”, lembrou Campos.

A talidomida circulou como produto livre de efeitos adversos no Brasil até 1962, quando foi banida no país. O remédio voltou a circular no país em 1966, quando começou a nascer a chamada “segunda geração talidomida”. Em 2006, ainda houve registro de uma gestante que teve filhas gêmeas com deformidades, depois de ter tomado o medicamento da mãe, sem indicação médica.

Atualmente, a prescrição de medicamentos à base de talidomida deve ser feita com receita específica e mediante assinatura de termo de responsabilidade e esclarecimento. O remédio é usado para tratamento de hanseníase, de lupus e da aids. “Não era um vírus, mas assim como a talidomida, a situação com a microcefalia também é inesperada e exige muita pesquisa e ação intensa do governo”, ressaltou Campos. 

Até o dia 5 deste mês, 1.761 casos suspeitos de microcefalia foram notificados em 422 municípios brasileiros. Os números foram divulgados hoje (8) pelo Ministério da Saúde. Até o momento, de acordo com o novo balanço, 14 unidades federativas registram casos suspeitos da malformação, que, na maior parte dos casos, causa comprometimento intelectual, que pode vir acompanhado de surdez, cegueira, entre outras alterações no organismo.

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Cinquenta anos depois de sua retirada do mercado, começou nesta segunda-feira (14), em Madri, o primeiro julgamento na Espanha contra a empresa alemã Grünenthal, que fabricava a talidomida, um medicamento que provocou malformações em milhares de crianças em todo o mundo.

"Com este julgamento histórico, os afetados espanhóis pela talidomida esperam que (...) depois de mais de meio século de espera infinita, as vítimas espanholas vejam recompensado seu sofrimento, que começou como fetos, antes de nascer, e se prolonga até os nossos dias, com a amputação de seus braços e pernas", declarou antes do julgamento a Associação de Vítimas da Talidomida na Espanha, Avite.

A Avite exige da empresa Grünenthal 204 milhões de euros para seus cerca de 180 membros em função da gravidade de suas malformações. Denunciando falta de reconhecimento público em seu país, onde "a mera existência oficial das vítimas espanholas não ocorreu até 2010", a Avite calcula que o número total das vítimas, muitas já falecidas, poderia alcançar pessoas.

"Com uma sentença favorável à nossa demanda, o laboratório alemão Grünenthal seria considerado oficialmente, pela primeira vez na história, responsável pelo ocorrido", explicou Avite.Grünenthal havia pedido publicamente perdão em setembro de 2012, ou seja, 50 anos depois dos primeiros casos de malformação, afirmando que "sentia muito" seu longo silêncio.

Este medicamento, que era prescrito às grávidas no final dos anos 50 e começo dos 60 para combater as náuseas, acabou causando danos irreversíveis no desenvolvimento dos fetos. Estima-se que entre 10.000 e 20.000 pessoas tenham nascido com má-formações, às vezes sem um dos membros, depois que as mães tomaram este medicamento.

A talidomida foi retirada do mercado no final de 1961 na Alemanha e na Grã-Bretanha. A Avite afirma que ainda foi preciso esperar meses para que o medicamento fosse proibido na Espanha.

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