Tópicos | venda de lugar na fila

Centenas de pessoas e um princípio de tumulto marcaram a manhã de segunda-feira (22) em frente à sede da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), no bairro da Imbiribeira, Zona Sul do Recife. Além das cerca de cinquenta pessoas que estavam acampadas há dez dias na calçada do local, contratadas para guardar lugar na fila, vários outros interessados foram para o evento do Ministério das Comunicações que tem o intuito de receber requerimentos para a concessão de retransmissoras de TVs secundárias em Pernambuco, Paraíba, Alagoas e Sergipe. 

Para o atendimento de até quarta-feira (24), a Anatel liberou senhas exclusivamente nesta segunda. Logo no início da distribuição das fichas, houve confusão, pois representantes de emissoras de outros estados exigiram prioridade. Um integrante da TV Gazeta de Alagoas, de 79 anos, que pediu para não ser identificado, criticou a falta de compromisso ao Estatuto do Idoso (que dá preferência de atendimento às pessoas com mais de 60 anos). “É um absurdo, todas essas pessoas foram pagas. Não sei se conseguirei ver, mas espero que o Brasil um dia modifique panoramas como este”, comentou. 

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A prática de pagar pessoas para retirarem as senhas e repassarem aos profissionais das emissoras estava clara, nas calçadas das ruas Sargento Silvino Macedo e Joaquim Bandeira. Em diversos pontos, era possível ver a entrega das senhas. Após o fim da distribuição, mulheres e jovens se assemelhavam a cambistas: sutilmente, chegavam próximos de quem aguardava no local e oferecia a venda das senhas. “A menina da (senha) 96 conseguiu vender por R$ 300. Dizem que isso vale muito mais, mas qualquer dinheiro vale”, dizia um dos jovens que participou do “acampamento” na calçada da Anatel e ainda buscava compradores para outras senhas. 

Sem a transparência comum aos procedimentos lícitos, a contratação das quase 50 pessoas que ficaram acampadas em barracas na rua, à espera das senhas, permanece obscura, com poucas explicações e identificações. Apenas se sabe que um grupo de emissoras do Nordeste garantiu o pagamento de R$ 600 por cada senha. Após a entrega, o grupo de pessoas – a maioria desempregada e moradora do bairro de Afogados – sentou-se na calçada do Hotel Praia Sul, à espera do pagamento. Ao todo, 200 senhas foram disponibilizadas. 

Veículos da TV Pajuçara/Record, Asa Branca, Globo Nordeste Caruaru e Rede Livre de Comunicação podiam ser vistos estacionados perto da Anatel. Pouco se dizia, quando a reportagem do LeiaJá questionava sobre a ação do Ministério das Comunicações e sobre a batalha para adquirir as senhas. No edital publicado no Diário Oficial da União, há a especificação de que caso em uma mesma localidade haja mais de um requerimento, a prioridade será estabelecida por ordem cronológica. 

“Em todas as outras cidades foi assim, não está em choque com edital!”, disse em voz alta, para outra pessoa que reclamava na fila, um assessor do grupo de emissoras que contratou os populares. O representante deste grupo foi o primeiro a ser atendido pela Anatel e entrou com inúmeras senhas para apresentar os requerimentos dos projetos. As pessoas que acamparam durante dez dias esperava a saída dele para perguntar sobre o dinheiro. E a expectativa é de “novos trabalhos”. “Disseram que agora vai ser em São Paulo e querem levar o povo daqui. Eu mesmo é que não vou”, explicou uma das mulheres participantes do “acampamento”. A promessa, segundo ela, é de que lá é ainda mais senhas e, consequentemente, mais dinheiro. 

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