Tópicos | vírus da aids

O vírus da aids (HIV) se propaga "rapidamente" em uma comunidade afastada do leste da Venezuela, especialmente por falta de tratamento, revelaram cientistas nesta segunda-feira (13).

"Observa-se uma prevalência de 10%, ou seja, 10 em cada 100 indivíduos estão infectados. O HIV progride muito rapidamente", disse Flor Pujol, durante um fórum em Caracas, organizado pela Anistia Internacional para abordar a crise sanitária no país.

Trata-se da etnia warao, assentada no estado Delta Amacuro, destacou a especialista do laboratório de Virologia Molecular do Instituto Venezuelano de Investigações Científicas (IVIC, estatal).

Segundo o censo de 2011, os warao tinham então 50.000 integrantes, o que os transformaria na segunda tribo mais numerosa da Venezuela depois dos wayuu, que habitam a Guajira colombo-venezuelana.

A situação "está tendo consequências devastadoras", afirmou a virologista, que destacou que os pacientes diagnosticados se complicaram devido à falta de anti-retrovirais.

A Venezuela enfrenta uma escassez de alimentos, que atinge 95% em pacientes crônicos, segundo a Federação Farmacêutica, em meio a uma profunda crise econômica.

Na avaliação da pesquisadora, o HIV na comunidade aborígine está "em um nível comparado ao da África no início da epidemia". O continente chegou a concentrar 70% das mortes pela pandemia.

A tuberculose, outros dos males que afeta a etnia, favorece a agressividade da cepa do HIV ali detectada, acrescentou.

"Os warao têm a maior incidência de tuberculose na Venezuela e esta mistura é particularmente nociva e daninha e faz com que a aids progrida mais rapidamente", advertiu.

Nesta população, a aids se desenvolve de cinco a sete anos depois do contágio. "A cada nove meses dobra o número de infectados", alertou Pujol, que falou em nome da equipe de cientistas.

Os primeiros casos entre os warao foram detectados em 2007 pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Em 2011 havia 37 diagnosticados, 21 faleceram, e o restante nunca foi encontrado por pessoal médico, segundo Pujol.

Os especialistas do IVIC avaliam que o HIV foi introduzido no começo deste século nesta comunidade, que vive às margens do rio Orinoco, um dos mais caudalosos da América do Sul.

Um medicamento usado para tratar o alcoolismo em combinação com outras substâncias poderão contribuir para a erradicação do vírus da aids nas pessoas soropositivas em tratamento - é o que aponta um estudo divulgado nesta terça-feira (17).

O medicamento, chamado disulfiram, acorda o vírus adormecido no organismo infectado, permitindo assim destruir tanto o vírus quanto as células que o abrigam - e isso sem efeitos colaterais, notam os autores da pesquisa, publicada na revista especializada The Lancet HIV.

Atualmente um tratamento antirretroviral (ART), um coquetel de medicamentos padrão chamado terapia tripla, permite manter o vírus (hiv) em controle nos pacientes soropositivos, mas sem deixá-los completamente livres.

O vírus permanece à espreita no organismo das pessoas tratadas, de forma latente (inativo). Este reservatório, difícil de alcançar, é um dos maiores obstáculos para o desenvolvimento de um tratamento para proporcionar alguma cura. "Acordar" o vírus latente é uma estratégia promissora para livrar o paciente do hiv.

Mas "despertar o vírus é apenas o primeiro passo para eliminá-lo", disse Julian Elliot, diretor de pesquisa clínica no departamento de doenças infecciosas no Hospital Alfred de Melbourne (Austrália), primeiro autor do estudo. "Agora, temos que trabalhar a maneira como nos livrarmos das células infectadas", acrescentou.

Outras drogas foram também testadas para atacar o reservatório de hiv, mas sem muito sucesso, ou que se mostraram tóxicas. No ensaio clínico liderado por Sharon Lewin, diretora do Instituto Doherty em Melbourne, 30 pessoas em tratamento antirretroviral receberam doses crescentes de disulfiram durante um período de três dias.

Na dose mais elevada, a estimulação do hiv adormecido sem reações adversas nos pacientes, foi obtida, de acordo com os autores. "Este teste mostra claramente que o dissulfiram não é tóxico e é seguro de usar, e que poderia muito provavelmente ser o único a mudar a história", disse Lewin em comunicado divulgado por seu instituto.

O próximo passo, segundo os pesquisadores, é testar esta droga em combinação com outras, tendo como alvo o próprio vírus. "O resultado obtido continua insuficiente", disse à AFP Brigitte Autran, especialista em imunologia e em aids da Universidade Pierre et Marie Curie/Inserm, em Paris, e co-autora de um comentário acompanhando o artigo.

"Ainda estamos muito longe de encontrarmos a solução para obtermos uma verdadeira cura dos pacientes soropositivos e até mesmo uma remissão que permitiria suspender o tratamento", afirmou a especialista.

Com mais de 34 milhões de mortes até hoje, o hiv continua sendo um grande problema de saúde pública, segundo a OMS. No final de 2014, registrava-se cerca de 36,9 milhões de pessoas vivendo com o hiv.

Leianas redes sociaisAcompanhe-nos!

Facebook

Carregando