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Provavelmente Hilton Lacerda, diretor do filme Tatuagem e roteirista de uma série de filmes pernambucanos, já perdeu as contas de quantos prêmios já recebeu com seu último trabalho. A coleção de canecos ficou ainda maior com os seis prêmios recebidos durante a sétima edição do Festival de Cinema de Triunfo, realizado no Sertão de Pernambuco, todos dedicados ao filme inspirado no grupo recifense Vivencial Diversiones, que fez sucesso na década de 70. Recentemente, Tatuagem também foi indicado ao Grande Prêmio da Academia Brasileira de Cinema em várias categorias, incluindo melhor longa de ficção, ao lado do também pernambucano 'O Som ao Redor', de Kleber Mendonça Filho. Tanta repercussão sobre o filme ainda impressiona Hilton, sem dúvidas um dos nomes mais importantes do atual cinema de Pernambuco, um cinéfilo cheio de projetos em curso. Um deles é o papel de roteirista no filme Big Jato, de Cláudio Assis, cujas gravações começaram nesta quinta-feira (8). Há também um projeto aprovado no Funcultura, intitulado Contos que Vejo, série televisiva que terá participação de outros cinco diretores conterrâneos, além da opinião do cineasta sobre o legado deixado por Fernando Spencer. O LeiaJá conversou com Lacerda em Triunfo, durante o festival, encerrado neste sábado (9).

Tatuagem foi o filme mais premiado do 7° Festival de Cinema de Triunfo, com seis troféus. Como você recebe essa honraria?

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É a primeira vez que apresento um filme no festival de Triunfo e ser recebido dessa forma, dentro de casa, é muito especial. É bastante excitante na verdade, na minha cabeça. Eu não sou uma pessoa muito preocupada se vai ganhar prêmio ou não, mas quando ganho fico muito contente. Tem uma coisa de vaidade que fica satisfeita e o ego ser massageado de vez em quando não faz mal a ninguém.

Na conversa que o LeiaJá teve contigo na Fundaj, em novembro do ano passado, você falou da surpresa que estava tendo com a repercussão do filme, mas de lá pra cá essa repercussão positiva tem se repetido a cada festival. Como é lidar com essa situação de sempre encontrar as salas lotadas?

Eu fico muito impressionado com isso de mesmo depois de um ano o filme estar vivo ainda. A experiência do (Cinema) São Luiz é muito engraçada, porque Tatuagem está em exibição por lá há oito meses. A gente fica seguindo como as pessoas acompanham o trabalho, mas também realimentamos o público.  Recentemente lançamos numa edição do Som na Rural o CD da trilha sonora do filme, feita pelo DJ Dolores. Seria bom que os filmes tivessem essa repercussão, principalmente os de Pernambuco. A gente não faz nosso trabalho pra agradar o público, mas é sensacional quando você consegue manter um diálogo.

Tatuagem foi recentemente indicado ao prêmio de melhor longa-metragem de ficção pela Academia Brasileira de Cinema, além de outras categorias, ao lado do também pernambucano O Som ao Redor, de Kleber Mendonça Filho. Como foi que você recebeu essa notícia e com que expectativa você vai lidar com ela?

Desde que saiu esse resultado que eu estou em viagem. Estava no Sertão com o Cláudio (Assis) dando uma revisão geral no roteiro de Big Jato, conversando com os atores. Mas essa notícia é muito bacana e mostra o impacto que o cinema pernambucano vem tendo. Sou muito feliz de estar o tempo inteiro ao lado de O Som ao Redor, e isso tem se repetido direto. Teve um prêmio que eu gosto bastante, chamado Carlão, feito pelas pessoas que escrevem críticas em blogs de cinema, cineastas bem bacanas, e de todas as categorias que tinha por lá O Som ao Redor e Tatuagem só não levaram o de melhor atriz e alguma outra que não me lembro. Toda as outras foram pra gente. E isso é bom porque dá uma revigorada. A gente teve muita pouca janela de exibição e essas coisas são muito importantes pra gente ir enchendo o papo de grão em grão. 

'Tatuagem' marcada na pele do cinema de Triunfo

Você falou das gravações de Big Jato, novo longa de Cláudio Assis. Como está a produção do filme?

Eles começaram a filmar nesta última quinta-feira (7). Eu adoro ficar em set, mas dessa vez só fui pra conversar com os atores, ver o texto com eles, as locações, tudo com base no roteiro que fiz com Renata Pinheiros. E é um filme de Cláudio Assis, o que o torna incrível e vai marcar uma nova fase no cinema feito por ele. Uma coisa engraçada que ocorreu foi essa junção entre eu, Cláudio e Xico Sá. Faz tempo que a gente queria se juntar pra trabalhar e tivemos um ensaio no Febre (do Rato). Será o maior prazer estar ao lado desse pessoal de novo.

Como é estar num set de filmagens com Cláudio Assis? E a relação entre vocês?

Minha relação com ele é muito longa. Cláudio se desenha uma pessoa, mas na verdade ele é muito diferente. Os sets de Cláudio são incríveis e muito divertidos, não é aquela coisa pesada e carregada. Cada diretor tem sua forma de trabalhar, algumas pessoas são imperiosa, outras carrascas, mas Cláudio é muito engraçado. Recentemente eu estava com o Matheus Nachtergaele lá em Pesqueira lembrando-se de quando Cláudio era produtor do Amarelo Manga e, diante de uma cena, falou ‘Matheus, você desce aquela escada, faz a sua ‘munganga’ e sai’. A gente ficou rindo daquela situação. É mais ou menos por ai a energia de trabalhar com ele.

Triunfo propicia networking espontâneo entre cinéfilos

Falando em parceria, como é trabalhar com o DJ Dolores, que há um tempo tem se especializado cada vez mais em trilhas para cinema?

Eu escrevi o roteiro e eu indicava todas as músicas, dizia o que gostaria de ter em cada cena. Mas depois o Dolores pegou o roteiro e refez as músicas em cima dele. Então eu costumo dizer que ele é quase um roteirista também. Se fosse dar um gênero pra Tatuagem, provavelmente seria um ‘melodrama musical’, porque a ideia foi muito pautada nesse sentido.

As marcas deixadas pelo Festival de Cinema de Triunfo 

Tem um projeto seu aprovado no Funcultura Audiovisual que vai ter a participação dele e de outros diretores, chamado Contos que Vejo. Você pode falar mais sobre essa proposta?

Esse projeto pega cinco contos nordestinos e um que eu escrevi pra amarrar. A gente vai narrar toda história a partir de uma linha que a gente vai dar, e a unidade da série será onde se passa a narrativa, que é na cidade de Desterro, estamos pensando seriamente também em fazer aqui em Triunfo. A ideia é que cada episódio seja dirigido por um diretor diferente. Já tem Cláudio (Assis), Lírio (Ferreira), Marcelo Gomes, Paulo Caldas. A gente está vendo ainda alguns nomes e pode ser que role também Adelina Pontual, mas é um projeto que estamos apostando muito. Uma coisa que discutimos entre nós é o porquê de não conseguirmos levar para a televisão a realidade do cinema que Pernambuco faz. Não falo de qualidade técnica, mas de impacto e informação. Acho que está na hora de ocupar esses espaços, senão vamos perder de vez.

Feedbacks constantes no Festival de Cinema de Triunfo

No que diz respeito aos espaços de exibição de filmes em Pernambuco, O LeiaJá publicou no mês passado uma matéria que explica como o Recife vai mais que duplicar sua quantidade de cinemas não comerciais até o final de 2015, com a chegada dos Cinemas da UFPE, Cinema do Museu (Fundaj) e Cinema do Porto (Porto Digital). Como você enxerga esse novo cenário?

Eu acho que isso é meio urgente, porque as janelas que são oficiais estão fechadas pra produção da gente. Não é justo que você tenha uma produção tão interessante como a que temos em Pernambucano e não ter quórum. E as janelas daqui são comandadas por um grupo só que estão interessados em resultados imediatos. Quando você trabalha num cinema que é mais alternativo e menos dependente dessa situação, o resultado é ótimo. Um exemplo foi uma sessão de Amarelo Manga que fizemos na Fundaj Derby e que deu muita gente. Não é o mesmo resultado que você tem quando exibe num cinema comercial. E tem muita coisa por traz disso, é como se existisse uma guerra surda de amantes do cinema que não querem ir pra shopping pra ver filme. Eu mesmo acho chato e desgastante essa condição. Acho que isso deve fazer parte da política do Estado. Do mesmo jeito que tem política pra fazer filme, tem que ter pro olhar, e isso é bem urgente.

A sétima edição do Festival de Cinema de Triunfo fez uma homenagem a Fernando Spencer, cineasta pernambucano que faleceu recentemente e que marcou a história da sétima arte no Estado. Fala um pouco sobre a influência e o legado que esse personagem deixou para as próximas gerações de cineastas.

Na minha fala de abertura da sessão de Tatuagem durante o festival eu devia ter falado sobre o Spencer, mas eu sou muito tímido e na hora travo e esqueço tudo. Mas Spencer tem uma coisa muito engraçada. Eu fiquei amigo dele principalmente durante as gravações de Baile Perfumado, de Lírio (Ferreira e Paulo Caldas). Ele era muito apaixonado pelo o que fazia, mas ao mesmo tempo ele tinha ideias de umas coisas que eram muito bacanas. Eu me lembro que ele tinha a sacada de fazer um encontro entre John Wayne (ator americano que fez vários filmes de faroeste) e Lampião. Era uma pessoa adorável e conversar com ele sobre cinema era dividir uma grande aula. Acho essa homenagem mais que justa. A perda dele só não é maior do que o legado que ele deixou aqui.

Como parte da programação do Janeiro de Grandes Espetáculos, cuja abertura oficial está marcada para esta quarta-feira (8), os grupos teatrais Dzi Croquettes (RJ) e Vivencial Diversiones (PE) participaram nesta terça-feira (7) de um encontro inédito entre as duas companhias. Ambas surgidas na década de 70, elas ganharam notoriedade por se portarem como a contracultura irreverente das artes cênicas do Brasil. O encontro aconteceu na Galeria Café Castro Alves, no bairro de Santo Amaro, e contou com a participação de vários profissionais ligados ao segmento artístico. 

Lúcia Machado, atriz e produtora cultural homenageada pelo Janeiro de Grandes Espetáculos ao lado de Jomard Muniz de Britto, ressaltou o valor histórico deste encontro que não tinha acontecido até então. “Essa é uma reunião mais do que memorável. É algo histórico porque temos aqui dois grupos que se espelham um no outro, desde a década de 70, e que pela primeira vez se encontram”, disse Lúcia ao LeiaJá

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Para Guilherme Coelho, diretor do Vivencial Diversiones, o grupo começou com a proposta de reinvenção da linguagem e também de transgredir a cena e os costumes, algo muito forte em 1970 quando o Tropicalismo estava no auge. “A gente percebia esse sinal dos tempos e dava uma resposta não só em cena, mas também em vivência na rua justamente para que a linguagem teatral não se encerrasse nas plateias, mas que tivesse uma resposta mudando o social”, revela Guilherme. 

É incrível como ambos são muito atuais, já que hoje a gente discute a questão de gênero e sustentabilidade. Os Dzi Croquettes tinham uma postura bem arrebatadora e que interagia conosco neste sentido. “Tanto que várias pessoas naquela época já associavam uma coisa a outra”, comenta Coelho, que montou seu primeiro espetáculo com o Vivencial há 40 anos e cujo grupo teatral inspirou o filme Tatuagem, de Hilton Lacerda.

O próprio Hilton, presente no encontro, falou do valor artístico de uma troca de experiências entre estes grupos tão renomados. “Se tem uma coisa que está acontecendo aqui é a junção. Juntar dois grupos tão importantes como o Dzi Croquettes e o Vivencial Diversiones é algo extremamente louvável. Acho que as discussões aqui hoje não serão sobre o passado, mas com as pessoas criticando o presente dentro da ideia de um teatro possível de ser realizado e excitante para a imaginação”, opina Hilton. 

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