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O 20º Janeiro de Grandes Espetáculos (JGE) chegou ao fim na noite deste domingo (26) com a apresentação da Companhia Teatro de Serafim, que levou ao palco do Teatro Barreto Júnior, no Pina, a montagem As Confrarias - inspirada na obra de Jorge Andrade. O espetáculo, aprovado no Funcultura 2012, conta no elenco com a presença da atriz Lúcia Machado, uma das homenageadas do festival de artes cênicas deste ano. 

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A Companhia Teatro de Seraphim atua na cena pernambucana desde 1990 e levou ao público uma história que se passa no Brasil do século XVIII, mais precisamente na cidade de Vila Rica (atual Ouro Preto). Um período de forte agitação popular por conta da Inconfidência Mineira e da decadência do ouro. 

Durante a apresentação é narrada a trajetória de uma senhora chamada Marte, interpretada por Lúcia Machado. A personagem visita quatro confrarias da cidade carregando o filho morto, José, com o intuito de enterrá-lo num destes solos sagrados, pois não havia cemitérios públicos disponíveis na cidade. 

Com este gancho, Jorge Andrade ressalta no texto dramaturgo a hipocrisia da sociedade colonial diante de temas como o racismo, o sexo e até a ocupação profissional das pessoas daquela épca – no texto, José é ator e por este motivo é tratado como um ser inferior, bem como os negros no Brasil da escravidão. Um debate que continua a acontecer ainda nos dias atuais.

Destaque para a cenografia da peça, feita por Doris Rollemberg, com estruturas em forma de coxias que revelam e ocultam cortes do cenário. Outro detalhe são as cenas de nudez, que seguem a linha do combate às opressões e dão um tom libertino à montagem diante da religiosidade das confrarias, representadas na obra pela Irmandade do Carmo (dos brancos), a Irmandade do Rosário (dos negros puros), a Irmandade de São José (dos pardos, que aceita artistas) e a Ordem Terceira das Mercês (mistura de negros, brancos e mulatos). 

A personagem Marta, por outro lado, parece não apenas ter a intenção de enterrar o filho, mas sim também expor, através de um jogo cheio de drama, os interesses econômicos e os preconceitos de cada confraria. Toda a história se passa em apenas um dia, mas com o uso intenso do recurso do ‘flashback’ há uma noção de passeio entre o presente e o passado dos personagens principais.

“A gente escolheu As Confrarias pra fechar o festival porque este é um espetáculo grande da Seraphim, uma companhia local de muitos anos bastante respeitada e com um elenco talentoso. Ficamos muito contentes em encerrar com uma produção da terra e com a casa lotada”, disse Paula de Renor, uma das produtoras do JGE, ao LeiaJá. Na próxima quarta-feira (29), às 22h, a produção do festival realiza uma avaliação do evento na Caixa Cultural Recife, no Bairro do Recife. 

Paula de Renor: "Legado do JGE são ações de continuidade"

Além da Lúcia Machado, o elenco da montagem é formado por atores e atrizes como Alexsandro Marcos, Brenda Ligia, Calos Lira, Gilson Paz, Ivo Barreto, Marcelino Dias, Marinho Falcão, Mauro Monezi, Nilza Lisboa, Ricardo Angeiras, Roberto Brandão, Rudimar Constâncio e Taveira Júnior. O espetáculo teve a direção de Antonio Cadengue. 

A irreverência e o bom humor tomaram conta do Teatro de Santa Isabel, nesta última quarta-feira (8), durante a apresentação do grupo Dzi Croquettes, do Rio de Janeiro, na abertura do 20° Janeiro de Grandes Espetáculos – Festival Internacional de Artes Cênicas de Pernambuco. Com um teatro lotado e repleto de profissionais da área, o dia de abertura contou também com a presença dos homenageados Jomard Muniz de Britto e Lúcia Machado. 

“Quando a categoria artística comparece em peso a um festival é sinal de que ele está no caminho certo”, comentou Carla Valença, uma das produtoras do festival, um pouco antes do espetáculo começar. O forte calor que fez no teatro, uma falta de energia momentânea e o atraso para que a peça tivesse início – mais de 30 minutos, não foram suficientes para fazer com que o público desistisse da estreia. “Teatro é ao vivo e hoje todos os imprevistos inventaram de acontecer”, disse Carla aos risos.

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A performance do Dzi Croquettes no palco, intitulada Dzi Croquettes em Bandália - 40 anos de história é repleta de dança e música, acompanhada sempre de pitadas de deboche e irônia. Ao todo, 11 atores fazem parte do elenco que tem como diretor o renomado artista Ciro Barcellos - um dos fundadores do grupo. Numa das danças até a tradicional sombrinha de frevo fez parte da coreografia. 

A apresentação também não seria a mesma se não fosse a interação que os personagens fazem com a plateia. Em vários momentos eles desceram do palco e conversaram com o público, que reagiu às brincadeiras de forma saudável e divertida. Durante a encenação várias personalidades, como Carmen Miranda, Chacrinha e Charlie Charplin, recebem performances inusitadas do grupo, que bate forte nas teclas da diversidade sexual, da liberdade artística e tece em vários momentos críticas ao sistema político brasileiro. A montagem encerra ao som de Pra não dizer que não falei das flores, de Geraldo Vandré, composta em plena ditadura militar – que chegou a convidar o Dzi Croquettes a se retirar do Brasil nos anos 70. 

Para João Denys, professor e ator, o Dzi Croquettes caiu no gosto da plateia. "É um espetáculo que encanta, sobretudo o público recifense que gosta muito deste tipo de espetáculo. Basta você lembrar, numa outra dimensão, de Cinderela, que foi um sucesso teatral e que permaneceu no topo durante uns 10 anos. O Janeiro de Grandes Espetáculos nunca começou tão bem como começou hoje. Espero que feche também com muita alegria", opinou João.

O público presente no teatro foi bastante elogiado pelo elenco durante a apresentação e depois. “Achei que o público do Recife foi muito hospitaleiro. Desde a chegada no aeroporto até o hotel. É um povo bem cativo, bem alegre. Eu sou baiano então tem essa coisa do Nordeste. Achei bem bacana porque me senti em casa”, revelou ao LeiaJá Ricardo Burgos, um dos integrantes do grupo.  

A montagem carioca segue em exibição no Teatro de Santa Isabel até esta quinta (9), ao custo de R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia), mas há ainda a possibilidade do grupo realizar uma apresentação extra na sexta-feira (10), quando o Dzi Croquettes também fará uma encenação na Metrópole, a convite dos responsáveis pela boate. 

Como parte da programação do Janeiro de Grandes Espetáculos, cuja abertura oficial está marcada para esta quarta-feira (8), os grupos teatrais Dzi Croquettes (RJ) e Vivencial Diversiones (PE) participaram nesta terça-feira (7) de um encontro inédito entre as duas companhias. Ambas surgidas na década de 70, elas ganharam notoriedade por se portarem como a contracultura irreverente das artes cênicas do Brasil. O encontro aconteceu na Galeria Café Castro Alves, no bairro de Santo Amaro, e contou com a participação de vários profissionais ligados ao segmento artístico. 

Lúcia Machado, atriz e produtora cultural homenageada pelo Janeiro de Grandes Espetáculos ao lado de Jomard Muniz de Britto, ressaltou o valor histórico deste encontro que não tinha acontecido até então. “Essa é uma reunião mais do que memorável. É algo histórico porque temos aqui dois grupos que se espelham um no outro, desde a década de 70, e que pela primeira vez se encontram”, disse Lúcia ao LeiaJá

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Para Guilherme Coelho, diretor do Vivencial Diversiones, o grupo começou com a proposta de reinvenção da linguagem e também de transgredir a cena e os costumes, algo muito forte em 1970 quando o Tropicalismo estava no auge. “A gente percebia esse sinal dos tempos e dava uma resposta não só em cena, mas também em vivência na rua justamente para que a linguagem teatral não se encerrasse nas plateias, mas que tivesse uma resposta mudando o social”, revela Guilherme. 

É incrível como ambos são muito atuais, já que hoje a gente discute a questão de gênero e sustentabilidade. Os Dzi Croquettes tinham uma postura bem arrebatadora e que interagia conosco neste sentido. “Tanto que várias pessoas naquela época já associavam uma coisa a outra”, comenta Coelho, que montou seu primeiro espetáculo com o Vivencial há 40 anos e cujo grupo teatral inspirou o filme Tatuagem, de Hilton Lacerda.

O próprio Hilton, presente no encontro, falou do valor artístico de uma troca de experiências entre estes grupos tão renomados. “Se tem uma coisa que está acontecendo aqui é a junção. Juntar dois grupos tão importantes como o Dzi Croquettes e o Vivencial Diversiones é algo extremamente louvável. Acho que as discussões aqui hoje não serão sobre o passado, mas com as pessoas criticando o presente dentro da ideia de um teatro possível de ser realizado e excitante para a imaginação”, opina Hilton. 

Já tem data marcada a realização do 20º Janeiro de Grandes Espetáculos – Festival Internacional de Artes Cênicas de Pernambuco. De 8 a 26 de janeiro de 2014 as cidades do Recife, Olinda, Caruaru, Arcoverde e Goiana recebem uma programação que reúne peças para adultos e crianças, montagens de rua, espetáculos de dança, shows musicais, além de lançamento de livro, oficinas, palestras e debates. As entradas variam de R$ 10 a R$ 40 e há também sessões gratuitas.

Em breve toda a programação de 2014 estará disponível no site do evento, que conta com quase 80 atrações diferentes, além da entrega do Prêmio Apacepe de Teatro e Dança aos melhores da programação local. Neste ano, o evento homenageia a atriz, diretora teatral e produtora cultural Lúcia Machado e o agitador cultural Jomard Muniz de Britto.

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O festival conta com o patrocínio da Prefeitura do Recife, Governo do Estado de Pernambuco, Caixa Econômica Federal, Funarte e Sesc Pernambuco.

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