Desconheço na Ciência Política brasileira a utilização do termo voto de estrutura. Barry Ames, autor do livro Os entraves da democracia no Brasil, fornece indícios do que seja o voto de estrutura. Embora ele não utilize no decorrer do livro tal termo.
Sou adepto da ideia de que a Ciência Política brasileira precisa ser criativa. No caso, construir novos problemas empíricos e se afastar do lugar comum. São variados os problemas empíricos que são exaustivamente pesquisados na Ciência Política nacional. Novos objetos empíricos não surgem costumeiramente. E quando surgem, sofrem discriminação.
A expressão “Eu tenho voto de estrutura” é costumeiramente utilizada por candidatos em disputas proporcionais e majoritárias. O candidato se dirige ao estrategista ou a outro político do seguinte modo: “Tenho voto de estrutura. Por isto, não preciso de estrategista e nem de pesquisa”. Outras vezes, ele afirma: “O voto de estrutura garantirá a minha vitória”.
De tanto ouvir a expressão “Tenho voto de estrutura”, passei a me interessar pelo voto de estrutura. O voto de estrutura é um objeto empírico presente na dinâmica eleitoral, e desconhecido dos cientistas políticos. O voto de estrutura é um novo objeto da Ciência Política.
Antes de analisar qualquer objeto, é necessário defini-lo. Deste modo, indago: o que é voto de estrutura? Através da intuição empírica e da concepção teórica do papel do estado na sociedade, afirmo: voto de estrutura é a utilização do Estado e de recursos financeiros na conquista do eleitor. Neste caso, os vetores que incentivam a escolha do eleitor são: Estado e recursos financeiros.
A utilização do estado ocorre por meio da oferta de benefícios, os quais são produzidos pelo poder estatal. Daí surge a relação clientelista entre candidato e eleitor. A utilização de recursos financeiros para a conquista do eleitor significa a compra do voto. Isto é: por um determinado valor ou benefício o eleitor vota em dado candidato.
O termo voto de estrutura pode ser também qualificado como a utilização da máquina pública em busca da conquista do eleitor. Mas este conceito não aborda o uso do poder econômico. Portanto, o voto de estrutura nada mais é do que a utilização do estado para fins privados e a compra de votos com recursos privados. Esta é a realidade, inclusive, de variadas disputas eleitorais no Brasil.
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