Fernando Braga

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Direto do Planalto

Perfil: Fernando Braga é comunicólogo e professor universitário em Brasília. Mestre em Memória Social, especialista em Marketing e em Metodologia do Ensino Superior é titular de colunas em jornais de Brasília e Flórida (EUA)

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Aos ditadores tudo, ao povo as dívidas

Fernando Braga, | qua, 07/08/2013 - 11:29
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Apesar dos altos índices de analfabetismo, dos bolsões de miséria absoluta, dos deficientes serviços públicos de saúde, segurança, educação, transportes, das reivindicações populares não atendidas, o governo brasileiro está empenhado em perdoar quase dois bilhões de reais em dívidas contraídas por governos de sete países africanos. Alguns deles produtores de petróleo e gás e com índices de crescimento econômico superior ao brasileiro, esses países têm diferenças sociais ainda mais graves do que as do Brasil e são governados por líderes que, qualquer que sejam as posições políticas de quem os observa, são flagrantemente ditadores que oprimem seus povos.

Já foram premiados com o perdão das dívidas, apesar de responderem a processos em foros internacionais por corrupção, roubo, enriquecimento ilícito, lavagem de dinheiro e, muitas vezes, crimes contra a humanidade, como genocídio de suas populações, dirigentes de países como o Gabão, que ganhou 24 milhões de dólares dos brasileiros, Sudão, outros 43 milhões, e Congo, 352 milhões de dólares (este último, em parte, dado que uma parcela talvez seja paga no futuro, dependendo do refinanciamento brasileiro desse resto de dívida).

Agora, estão na lista de perdão enviada pela presidente Dilma Rousseff os governos da Zâmbia, Tanzânia, Costa do Marfim e República do Congo. Com maioria no Senado, a primeira mensagem presidencial já foi aprovada. Agora é a vez da segunda remessa. A legislação brasileira impede que o governo conceda benesses a devedores, não a devedores perdoados. Se um brasileiro não pagar qualquer imposto está frito, mas se representar milhares de trabalhadores africanos explorados e oprimidos, tudo bem.

“Esses perdões são uma agressão ao sentimento da sociedade. Aos brasileiros que foram às ruas protestar. Está na hora de a presidente retirar a mensagem que enviou ao Senado para que esses novos perdões sejam aprovados”, considerou o senador José Agripino (DEM-RN). “São países comandados por ditadores corruptos. Com isso, o governo quer conceder novos financiamentos do BNDES”, completou o senador Álvaro Dias (PSDB-PR).

Pragmaticamente, o líder do governo no Senado, Eduardo Braga (PMDB-AM) alega que o governo tem interesses econômicos nesses países. “Se ditadores praticaram crimes contra a humanidade ou corrupção, mecanismos e instituições que tratam desses assuntos que façam sua parte. São coisas distintas...”

O dinheiro que recolhemos em impostos, que poderia ter sido aplicado na transposição do Rio São Francisco (cuja inauguração estava prevista para 2010), na redução da taxa de analfabetismo, em projetos econômicos nos bolsões de miséria que persistem no Brasil, foram transferidos para o bolso, por exemplo, do companheiro Omar al-Bashir, governante há 24 anos do Sudão. Condenado pelo Tribunal Penal Internacional da ONU por genocídio, ele agora recebe esse apoio internacional do Brasil para manter a censura à imprensa, o Parlamento fechado e os partidos políticos na ilegalidade.

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