Gustavo Krause

Gustavo Krause

Livre Pensar

Perfil: Professor Titular da Cadeira de Legislação Tributaria, é ex-ministro de Estado do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, no Governo Fernando Henrique, e da fazenda no Governo Itamar Franco, além de já ter ocupado diversos cargos públicos em Pernambuco, onde já foi prefeito da Capital e Governador do Estado.

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Civilização e Barbárie

Gustavo Krause, | qua, 08/06/2016 - 17:51
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Acompanhar o noticiário nacional e internacional produz a sensação de um pesadelo. Pesadelo distinto do sono agitado e assustador que se apaga quando a gente acorda. Na vida real, repetem-se, ao vivo e em cores, cenas chocantes: a fria decapitação de pessoas, hordas famintas de refugiados, sangrentas "limpezas étnicas", maus tratos infligidos às criaturas vulneráveis (pobres, crianças, mulheres, idosos) e, para culminar, eis que surge a crudelíssima modalidade do estupro coletivo. Para completar o cenário de horror, recorrentes e escandalosas imagens expõem a monumental crise brasileira.

O impacto me leva à seguinte indagação: onde começam e onde terminam  civilização e barbárie? Segundo Freud, a civilização humana significa tudo aquilo em que a vida humana se elevou acima de sua condição animal e difere da vida dos animais, e exemplifica: o primeiro humano que insultou seu inimigo, em vez de atirar-lhe uma pedra, inaugurou a civilização.

Percebo que não hádicotomia entre civilização e barbárie: a barbárie habita o interior da civilização o que impõe uma luta constante para vencê-la. São polos de um mesmo processo. E neste sentido, invoco o grande historiadorToynbee: uma civilização éum movimento. Não uma condição; uma viagem, não um porto. Para Ortega Y Gasset; civilização é, antes de tudo, vontade de convivência.

Ao se mover, a civilização produz um tecido valioso, de complexa conceituação, a cultura, que revela a dinâmica de valores e contravalores agregando ou dilacerando  o seu destino. Percebê-la, vale mais do que a discussão sobre a existência ou extinção de um ministério.

No ponto em que chegou a política brasileira, o padrão dos valores republicanos decência no trato da coisa pública em contexto democrático parece ameaçado pela força de uma contracultura que se desdobra em duas vertentes: a cultura da transgressão e a cultura da razão cínica.

Apesar da profundidade das crises, emerge a esperança que não se esgota na discussão sobre a extensão da operação Lava-Jato. O cidadão brasileiro anseia pelo permanente combate àdelinquência dos agentes públicos e que, do episódio, seja extraída a institucionalidade capaz de aperfeiçoar o sistema político e deitar raízes de uma civilização democrática.

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