Muito é discutido sobre a educação no Brasil. Como resultados de todos os debates, é consenso que nunca atingiremos nosso total potencial de desenvolvimento se não melhorarmos nosso ensino público – fundamental e médio. Infelizmente, os resultados das avaliações internacionais continuam muito ruins e o Brasil segue entre os piores do mundo no ranking mundial de educação.
Sempre preguei que os países asiáticos deveriam servir de exemplo para nossa reforma educacional e desta vez não foi diferente. O ranking do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), trouxe Cingapura na liderança, enquanto o Brasil caiu nas três áreas do conhecimento que são avaliadas: matemática, leitura e ciências.
Foram 70 países avaliados e, em leitura o Brasil ficou na 59º posição. Em matemática na 65º. Em ciências, principal foco desta pesquisa, o Brasil está na 63º posição, a frente apenas de países como Peru, Líbano e República Dominicana. Isso significa dizer que mais da metade dos estudantes brasileiros têm desempenho em ciências considerado abaixo do básico pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Entretanto, não apenas o Brasil é um caso preocupante. Avaliando o ranking por completo é possível perceber que houve uma estagnação da educação em todo o mundo na última década. O resultado desse desempenho pode refletir a longo prazo no desenvolvimento socioeconômico dos países, apresentando um processo de recessão permanente.
Investir em educação é caro, sim. Porém, os benefícios de uma sociedade educada superam, de longe, os custos e investimentos em melhorias. A avaliação da OCDE é determinada por níveis e o nível 2 de aprendizagem em ciências é o mínimo necessário para se tornar um cidadão “crítico” e “informado”. Nesse nível, os estudantes começam a demonstrar as competências que vão permitir que eles participem “efetivamente e produtivamente” nas situações cotidianas relacionadas a ciência e tecnologia.
Não é a primeira vez que o Brasil passa vexame no ranking. Em 2013, os resultados do Pisa mostraram que apenas 8% dos alunos brasileiros terminam o ensino fundamental com conhecimentos adequados tanto em português quanto em matemática.
É fácil entender porque Cingapura lidera o ranking nas três áreas do conhecimento avaliadas: o país investe em avaliações regulares, promovendo acesso à formação contínua e uma educação de base muito desenvolvida. Claro que, mesmo melhores sistemas do mundo têm dificuldades, porque a mudança é limitada. A educação depende das pessoas para que as transformações aconteçam.
É possível mudar a situação do Brasil? Sim, claro. Muitas das medidas que poderiam causar grande transformação nas salas de aulas brasileiras não acarretariam em gasto algum. Usar de maneira eficiente o tempo em que alunos já estão na escola é uma delas. Isso porque, de acordo com um estudo do Banco Mundial, apenas 66% do tempo de sala de aula no Brasil é gasto efetivamente com o ensino. Os outros 34% são desperdiçados com atividades burocráticas, como chamada, a cópia de deveres de casa ou pedindo disciplina. A cota de “desperdício” em países da OCDE é de apenas 15%.
Também virou moda no Brasil pensar que os problemas da educação só serão resolvidos se houver muito mais dinheiro para o setor, para tanto, muitos pedem a destinação imediata de 10% do PIB para a educação. Entretanto, o país que mais investe em educação no mundo hoje é a Islândia, destinando 7,8% de suas riquezas para o setor.
É preciso garantir escolas com infraestrutura decente. Acabar com a desigualdade entre escolas públicas bem cuidadas e outras caindo aos pedaços é dar oportunidades equânimes aos brasileiros de todas as regiões. É preciso, ainda, ampliar educação técnica e profissional. De 15 a 19 anos, mais de 50% dos jovens alemães têm aulas de ensino profissionalizante com a educação regular. No Brasil, ficamos em 6,6%.
As taxas de repetência no Brasil ainda são altas na rede pública. Chegam a 14,1% no ensino médio e 10,6% no ensino fundamental. Significa dizer que de cada 100 alunos, 13 estão cursando a mesma série do ano anterior. A taxa está entre as maiores da América Latina e bem distante da de países desenvolvidos. Pesquisas comprovam que a repetência é um desestímulo que atinge as notas do estudante por toda a vida, além de um grande incentivo à evasão escolar.
Temos que melhorar a educação no Brasil para que possamos crescer mais, com mais produtividade e justiça social. Para isso, precisamos nos afastar das concepções equivocadas e focar na melhora da gestão, como foi feito em alguns municípios brasileiros e que apresentam resultados magníficos. É preciso expandir esses projetos e criar melhores práticas. Apenas assim poderemos nos orgulhar da educação brasileira.