Tópicos | Ana Nogueira

Ao pesquisar a palavra “palhaços” na internet, o que muito se vê são imagens tiradas de produções de terror e notícias sobre as figuras que andavam amedrontando moradores dos Estados Unidos. Esses resultados, no entanto, não condizem com os profissionais que levam a sério a arte de fazer sorrir. Com suas roupas coloridas, acessórios engraçados e perucas espalhafatosas, os palhaços autênticos passam longe do que é visto nos resultados de busca. Eles são leves, divertidos e apaixonados pela sua profissão e estilo de vida.

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“É muito abrangente esse universo. Seja o palhaço com nariz, o sem nariz, tudo é palhaço. Jerry Lewis, por exemplo, a quem passei minha vida inteira assistindo e demorei a entender que ele era palhaço, ou que o Gordo e o Magro eram palhaços e até o próprio Renato Aragão. Cada um com a sua personalidade”, diz a palhaça Ana Nogueira.

“Ser palhaço para mim é poder rir de mim mesma, descobrir os meus erros e o meu ridículo, poder sorrir disso. Ser palhaço é andar na corda bamba, é ver o outro como um espaço de sorrisos, de troca, é jogar, é está aberto ao mundo. É ter o olhar ampliado, o olhar aberto, é ser ágil no pensamento e querer fazer o outro sorrir, mas um riso de qualidade, que vem a partir de um jogo e não de uma forçada de barra”, define Enne Marx, da Cia Animée. “Palhaço não é só para criança, é para alegrar o mundo, e ele está doente e precisando dessa linguagem, que é muito rica e que trata não só do riso, mas de questões profundas. É uma linguagem que faz sorrir e pensar”, completa.

 

Enne, que entrou nesse universo em 2003 através do ‘Doutores da Alegria’ - grupo que leva encenações e diversão para crianças em hospitais -, tem o prazer de viver dessa arte. “Isso para mim é um oficio, é minha profissão. Além de trabalhar a linguagem do palhaço, sou atriz e faço produção. Minha área é artística”, conta Enne, que é também fundadora da primeira banda de palhaças do Brasil, ‘As Levianas’.

Já Ana, que é a ‘Dona Pequena’ quando está nos palcos, por muito tempo se dividiu entre duas profissões: palhaça e jornalista, mas hoje foca mais na carreira artística. “Para mim a história do viver disso é recente. De dois anos para cá foi que passei a me dedicar mais a isso, mas não só como palhaça, também como atriz. Atualmente vivo com um complemento, mas acredito que dá sim para viver de ser palhaça”, afirma.

Giulia Cooper, fundadora do Caravana Tapioca, é a prova viva disso. Nascida em São Paulo, e atualmente morando no Recife, ela vive das apresentações que faz em parques, praças e outros espaços públicos. Segundo ela, a escolha da rua foi pela possibilidade de todas as pessoas, independente da classe social, terem acesso às apresentações, que em sua grande maioria são gratuitas. Alguns dos seus projetos recebem apoio do governo, mas ela ressalta que nem sempre é o bastante. “Não é suficiente ainda para cobrir tudo que a cidade necessita. Não falo nem pelos artistas somente, mas sim pelas pessoas que precisam do acesso a cultura”.

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Apesar das ‘palhaçadas’, a vida destes profissionais não é brincadeira, pois exige muito estudo e dedicação. Giulia explica como foi seu preparo até chegar onde está com a Palhaça Nina, sua personagem. “Estudei numa Escola de Circo, com diversas matérias e aulas de segunda a sexta-feira, e, além disso, fiz diversos cursos de palhaço. Neles a gente vai desenvolvendo esse lado do ridículo, de aceitar o erro, de incluir todos os improvisos dentro da cena”, afirma. “Durante o dia a gente estuda música, treina malabarismo, lê muito livro, assiste muito espetáculo, grava nossas apresentações pra assistir de novo, além de toda parte da produção também. Também tem que estar em cena pra aprender. Treinando, interagindo com as crianças...”, completa a Palhaça Nina.

“Caminhamos sempre rumo à formação, à reciclagem, nunca paramos. O trabalho do palhaço é uma pesquisa continuada, que nunca tem fim. Quanto mais velho e quanto mais você tem formação, você vai ser melhor”, explica Enne Marx. Sobre a renda de um palhaço profissional, as entrevistadas não definiram uma quantia concreta. Segundo elas, como os pagamentos variam bastante conforme o evento e o tipo de apresentação, é difícil mensurar os valores exatos recebidos pelos trabalhadores.

"A mulher palhaça" 

Reprodução/FacebookO mercado dos palhaços é um ambiente dominado pela presença masculina, e as mulheres muitas vezes acabam se tornando apenas coadjuvantes. No entanto, com o crescimento da presença feminina nesse meio, alguns festivais vem tentando abrir mais o espaço para essas palhaças, como o ‘Palhaçaria’, encerrado no último domingo (17). “O festival vem como uma mostra dos trabalhos e das pesquisas que vêm sendo feitas por muitas mulheres palhaças, e vem também como um movimento contra esse mercado pequeno para as mulheres, porque o mercado é muito grande para os homens e sempre foi um universo masculino. A mulher palhaça não aparecia, ficava no anonimato”, diz Enne, que é uma das organizadoras.

Com o crescimento da presença feminina nessa área, a artista conta que quis propor uma oportunidade para que houvesse um intercâmbio de conhecimento entre as mulheres palhaças. “Temos uma nuance própria, um humor feminino, não há como negar, então esse foi um jeito de mostrar para o mercado que as mulheres tão ai, fazendo seu trabalho”. 

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