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Um gene que torna algumas bactérias resistentes a uma família de antibióticos conhecidos como "de último recurso" foi descoberto em pacientes e em animais na China - de acordo com pesquisadores que pedem que se restrinja o uso desses remédios na Medicina Veterinária.

"Nossos resultados são extremamente preocupantes", disse o professor Liu Jian-Hua, da Universidade agrícola de Cantão, principal autor do estudo publicado nesta quinta-feira na revista "The Lancet Infectious Diseases".

O novo fenômeno de resistência diz respeito às polimixinas (colistina e polimixina B), antibióticos usados em último caso para superar as bactérias gram - (como Enterobacter, E. coli, Klebsellia pneumoniae), especialmente em pessoas com fibrose cística, ou em reanimação. Na China, a colistina é largamente usada na Medicina Veterinária.

Foi em exames de rotina realizados em porcos destinados à alimentação que Liu e seus colegas encontraram uma cepa de E. coli resistente à colistina e capaz de se propagar para outras cepas bacterianas. Também encontraram bactérias resistentes a esse antibiótico em cerca de 1.300 pacientes hospitalizados em duas províncias do sul da China - Guangdong e Zhejiang.

Os pesquisadores descobriram que a bactéria E. coli encontrada nos porcos continha um novo gene, o "mcr-1", que pode se replicar e se transferir para outra bactéria facilmente, em especial para a Klebsiella pneumoniae, responsável por infecções respiratórias.

"É provável que a resistência à colistina provocada pelo gene mcr-1 tenha acontecido primeiro em animais, antes de se estender aos humanos", explica o professor Shen Jianzhong, um dos coautores do estudo. A China é um dos maiores produtores e usuários de colistina, sobretudo, em Medicina Veterinária.

Embora a resistência à colistina se limite à China, por enquanto, ela pode alcançar escala mundial, advertem os autores da investigação. Os pesquisadores exigem uma "reavaliação rápida" do uso desse tipo de antibióticos.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) dá dois anos para que governos de todo o mundo estabeleçam planos para combater a resistência a antibióticos, um fenômeno que se transformou em uma "ameaça global". Doenças que eram curadas com relativa facilidade até há pouco tempo podem voltar a matar cerca de 10 milhões de pessoas até 2050 se nada for feito e, nesta terça-feira (26), a agência de saúde da ONU aprovou um plano para tentar reverter essa tendência.

Os dados apontam para um cenário alarmante: pelo menos sete bactérias diferentes, responsáveis por doenças como pneumonia, diarreia ou infecções sanguíneas, começam a ganhar resistência. Ao menos dois produtos usados até hoje já não funcionam em metade da população, entre eles o antibiótico contra infecções urinárias causadas pela bactéria E. Coli.

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Em 2013, a OMS calculava que 480 mil novos casos de tuberculose foram detectados por conta da resistência aos remédios, em mais de cem países. No caso da malária, a entidade considera a resistência como uma "preocupação urgente de saúde pública", diante do impacto em regiões inteiras.

Para a OMS, antibióticos se transformaram no pilar do desenvolvimento da Medicina no século 20. Mas chegou o momento de agir para não perder o que o mundo atingiu. Numa era "pós-antibiótico", a realidade é que muitos morreriam de doenças que já foram controladas.

Pelo plano aprovado, os governos terão até 2017 para desenvolver e mostrar para a OMS que colocaram o assunto como prioridade em suas agendas. A entidade também insiste que o plano precisa tocar não apenas a saúde humana, mas também a animal. Para países com ampla produção de carnes, como o Brasil, a mensagem é clara de que todos os setores terão de agir.

O plano da OMS ainda estabelece cinco objetivos : incrementar a conscientização e o conhecimento sobre a resistência, ampliar as pesquisas pelo setor privado, reduzir as incidências de infecção e otimizar o uso de remédios, principalmente antibióticos.

Pressa

Ao ver aprovado o plano, a diretora da OMS, Margaret Chan, chegou a cantar diante da plenária, comemorando a atitude. Mas para especialistas, as medidas podem estar chegando tarde demais. "Corremos o risco de estarmos agindo tarde ", declarou Sally Davies, conselheira médica do governo britânico e que liderou os debates sobre o plano.

De acordo com ela, 25 mil pessoas já morrem de infecções causados por bactérias resistentes, apenas na Europa. Jim O’Neill, ex-economista chefe do Goldman Sachs, chegou a produzir estudos que indicam que os custos de uma nova geração de bactérias poderiam ultrapassar a marca de US$ 60 trilhões em 40 anos.

Cientistas chilenos estudam "superbactérias" extraídas da Antártica que, por sua resistência a condições extremas, seriam chave para derrubar a crescente resistência aos antibióticos, segundo pesquisa apresentada nesta quarta-feira em Santiago.

Após analisar 80 amostras de solo antártico, extraídas em duas viagens, em 2014 e 2015, foram identificadas mais de 200 bactérias de espécies como Pseudomonas e Staphylococcus, que têm "um amplo potencial de aplicação em medicina", explicou Maria Soledad Pavlov, doutorando em biotecnologia da Universidade Católica de Valparaíso e integrante da equipe de pesquisas.

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Os organismos microbianos que "geram estratégias para competir e sobreviver" ao clima extremo do continente branco seriam a chave para a criação de "antibióticos que tenham capacidades antimicrobianas diferentes das atuais", o que permitiria quebrar a atual resistência de algumas bactérias.

"Estamos tentando gerar um produto biotecnológico interessante a partir destas bactérias antárticas, que possam suprir esta falta severa de antibióticos", disse Pavlov.

Segundo o estudo, o uso excessivo de antibióticos provocou o aparecimento de bactérias multi-resistentes, muito difíceis de controlar com os atuais medicamentos ou antibióticos convencionais.

A pesquisa chilena, desenvolvida com o apoio do Instituto Antártico Chileno (INACH), coletou amostras no arquipélago das Shetland do Sul e em setores continentais da Antártica, próximos às bases chilenas.

Na etapa inicial da pesquisa, Pavlov advertiu que seriam necessários 10 a 15 anos mais de estudos para poder usar o composto antimicrobiano gerado em medicina humana, enquanto que, para utilizá-lo em agricultura, o tempo diminui e seriam suficientes mais cinco anos de laboratório.

A chanceler alemã, Angela Merkel, pediu nesta segunda-feira a todos os países do mundo que ajudem no combate ao uso equivocado de antibióticos, que está aumentando a resistência aos tratamentos e transformando doenças que não eram letais em enfermidades mortíferas.

"É um assunto de importância crucial para a humanidade", declarou Merkel a diplomatas e especialistas reunidos na assembleia anual da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Genebra.

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A chanceler anunciou que a Alemanha já aprovou a aplicação do plano global esboçado pela OMS em abril para enfrentar o problema das crescentes resistências aos antibióticos.

Os serviços de saúde de todo o mundo não atuam de maneira suficiente contra o uso equivocado dos antibióticos, o que aumenta a resistência dos micro-organismos aos medicamentos e provoca mortes por doenças que têm tratamento, advertiu a OMS no mês passado, quando anunciou um programa global de ação para maio.

Merkel também falou sobre a muito criticada resposta da OMS à epidemia de Ebola, que infectou quase 26.800 pessoas e matou mais de 11.000, sobretudo no oeste da África.

A chefe de Governo da Alemanha recordou o papel chave da agência de saúde da ONU, que foi acusada de reagir muito lentamente aos casos de Ebola que começaram a aumentar na Guiné, Libéria e Serra Leoa no primeiro semestre de 2014.

Mas opinou que as estruturas descentralizadas da OMS devem ser "mais eficientes" para assegurar uma reação mais rápida na próxima vez.

A crescente resistência dos micróbios aos antibióticos se tornou uma ameaça em escala planetária, considerada muito séria pelas autoridades sanitárias que, como a Organização Mundial de Saúde (OMS), multiplicam as advertências e os planos de ação.

Um novo sinal de alerta foi lançado nos Estados Unidos, onde o organismo federal da saúde (CDC, na sigla em inglês) estimou que a resistência das bactérias aos antibióticos provoca "pelo menos 23 mil mortes" a cada ano, quase tantas quanto as vítimas por armas de fogo.

"Se não ficarmos atentos a isso, muito em breve estaremos na primeira era de pós-antibióticos", na qual os medicamentos milagrosos do século XX não serão mais eficazes, advertiu em setembro passado, o diretor do CDC, Tom Frieden.

"É um grande problema!", declarou à AFP o professor Patrice Courvalin, que chefia o Centro Nacional de Referência da Resistência aos Antibióticos no renomado Instituto Pasteur de Paris. "O problema não é só não poder mais tratar uma doença, mas ter de deixar para trás, de um dia para o outro, entre 20 e 30 anos de avanços médicos", explicou o cientista.

A descoberta dos antibióticos representou, entre 1930 e 1970, um avanço incrível materializado em uma maior expectativa de vida e em muitos êxitos cirúrgicos. No Reino Unido, a principal conselheira governamental para a Saúde, Sally Davies, fala da resistência aos antibióticos como de uma ameaça global comparável ao terrorismo, ou ao aquecimento global.

No entanto, esse fenômeno é algo natural: o aparecimento, por meio de um processo de seleção, de cepas mutantes de bactérias que se tornaram "insensíveis" aos medicamentos. As infecções não respondem mais aos medicamentos disponíveis, o que leva a doenças com tratamentos mais longos para sua eventual cura, um risco maior de contágio, mais custos econômicos e, sobretudo, um risco maior de mortalidade.

A tuberculose é a doença infecciosa mais emblemática no desafio provocado pela resistência aos medicamentos. Quase 5% dos casos recentes foram provocados por variações do bacilo de Koch "multirresistentes", insensíveis a dois antibióticos: a isoniazidia e a rifampicina.

Algo ainda mais grave: o aparecimento de uma tuberculose "ultrarresistente", também refratária aos antibióticos de último recurso. Esses casos já representam 10% dos de tuberculose resistente.

"Em algumas partes do mundo já não dispomos quase de antibióticos (eficazes)", alarma-se o professor de Microbiologia Timothy Walsh, da Universidade de Cardiff (Gales), citando Índia, Paquistão, Sudeste Asiático e algumas regiões da América Latina.

As resistências microbianas não são exclusividade dos países pobres. A multiplicação, nos hospitais de países ricos, de infecções hospitalares entre pacientes com imunidade baixa, como as provocadas pelo "Staphylococcus aureus", é uma prova disto.

Para a OMS, o uso "inapropriado" de antimicrobianos é a primeira causa de resistência: nos países pobres, porque às vezes as doses administradas são muito fracas e, ao contrário, nos ricos, porque podem ser excessivas.

A França, por exemplo, é o terceiro consumidor europeu de antibióticos, após ter sido o primeiro durante muito tempo. O hábito de muitos médicos de receitá-los inutilmente para combater doenças de origem viral recuou, mas 20% dos medicamentos que ocupam as prateleiras das farmácias do território francês são antibióticos.

Também é uma realidade que nas fazendas do mundo ocidental a metade dos medicamentos antimicrobianos é destinada aos animais de criação para aumentar seu rendimento em carne. "Essas práticas contribuem para aumentar a resistência a organismos como as salmonelas, que podem ser transmitidos ao ser humano", destacou a OMS.

A OMS vem desenvolvendo desde 2001 uma "estratégia" para limitar e controlar as resistências em nível mundial. Nos Estados Unidos, a agência que regula os produtos sanitários e os alimentos, a FDA (na sigla em inglês), busca convencer a indústria farmacêutica a eliminar "alguns" antibióticos usados na criação de gado.

Na Europa, a Comissão Europeia implantou em 2011 um plano contra a resistência, que tem como um dos objetivos estimular a pesquisa sobre o tema. Mas, segundo o especialista Olivier Patey, "os grandes laboratórios não estão motivados" a desenvolver produtos desse tipo.

A "fagoterapia", que usa vírus para matar bactérias específicas, poderia ser a grande solução para o programa europeu anti-resistência. Bruxelas financiou em 2013 um primeiro projeto, denominado "Phagoburn", para testar dois produtos à base de "vírus bacteriófagos" contra bactérias resistentes, presentes nos ferimentos de pacientes com grandes queimaduras.

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