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Nas últimas semanas, a fachada do cinema São Luiz, no centro do Recife, exibe uma programação com cinco filmes brasileiros, sendo três pernambucanos. A sala, que no passado teve uma pegada comercial com lançamentos de blockbusters, já tem um direcionamento mais alternativo há algum tempo. Muitos recifenses, no entanto, se lembram das enormes filas para ver Titanic (1997) ou Paixão de Cristo (2004).

Porém, em 2019, o cinema retomou seus grandes públicos e sessões esgotadas, com filmes produzidos no estado. Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, foi o carro chefe, mas longas como Divino Amor (Gabriel Mascaro), Azougue Nazaré (Tiago Melo) e Recife Assombrado (Adriano Portela) movimentaram a bilheteria.

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“Foi um ano que tivemos destaques. Desde que reabrimos, em 2009, após a reforma, nossa proposta sempre foi atrair um novo público e trazer o ‘povo do shopping’ de volta”, conta Gustavo Coimbra, gestor do São Luiz. “As produções pernambucanas estão cada vez com mais qualidade e reconhecimento das grandes distribuidoras”, completa.

Coimbra faz questão de citar alguns eventos que também atraíram muitas pessoas em 2019: ANIMAGE - Festival Internacional de Animação de Pernambuco, RECIFEST - Festival da Diversidade Sexual e de Gênero, Cine PE, Festival Varilux de Cinema Francês, 8 ½ Festa do Cinema Italiano e o Janela Internacional do Recife. “Por se tratar do último cinema de rua do Recife, ele é um ato de resistência”, diz o gestor.

Além de espaço de exibição, a sala também retomou seu papel social. “Como programador, eu participo da construção da identidade do São Luiz e cinema de rua precisa ter identidade. É um cinema que interage com a cidade, que debate seus problemas. Há 67 anos, ele é um personagem da cidade. Mas isso não foi do dia pra noite, foi construído por todo o pessoal do audiovisual”, conta o programador Geraldo Pinho.

“A produção pernambucana vem atraindo um público cada vez maior. A gente vem observando esse crescimento desde junho e nos impressiona muito. Bacurau, por exemplo, é um fenômeno, está quase com 25 mil espectadores e trouxe pessoas que nunca estiveram no São Luiz”, complementa Geraldo.

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Efeito Bacurau

O longa de ação e ficção científica escrito e dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles arrastou gente por onde passou, mas foi na cidade natal dos seus realizadores que virou fenômeno. O tom social do roteiro e a resistência simbolizada pela sala histórica foi a fórmula perfeita para garantir sessões lotadas.

Segundo Juliano Dornelles, a caráter popular também precisa ser exaltado. “O São Luiz sobrevive por um esforço apaixonado da equipe que trabalha lá e isso precisa ser destacado. O cinema atende um grupo de pessoas que não tem condições de pagar um ingresso de multiplex e isso é muito importante. Isso fez com que Bacurau fosse visto por gente de várias classes sociais. Eu espero que fique pra sempre, pois não dá para medir o valor de um lugar como esse”, conta.

Para o diretor, o trabalho de angariar novos espectadores também movimenta o mercado local. “Acho que não há limite para público. O público de Bacurau foi uma construção de vários anos. Se usar Kleber (Mendonça) como exemplo, os números dos seus filmes foram crescendo numa progressão quase aritmética. Temos que continuar fazendo filmes, o problema é que o país está nessa situação, não sabemos o que irá acontecer. Mas o cinema pernambucano hoje é referência e o público está perdendo o receio de ver filme nacional”, comemora.

O advogado Caetano Bezerra, de 28 anos, por exemplo, foi pela primeira vez ao São Luiz, esse ano, justamente para ver Bacurau. “Eu gostei muito. A qualidade de som e imagem não deixa nada a perder a nenhum cinema maior, e é bem confortável, dentro das limitações de ser um patrimônio histórico. Além de ser belíssimo, do ponto de vista arquitetônico”, elogia.

“No meu ciclo de amizades, sempre há um interesse pelo cinema pernambucano, sobretudo esse ano, com Bacurau e Divino Amor. Mas no meu trabalho, por exemplo, ainda tem um certo preconceito com o cinema local, principalmente entre quem consome muitos filmes de grandes estúdios. Em 2019, Bacurau quebrou um pouco isso, rompendo essas bolhas”, afirma.

Fotos: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

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