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Morreu no Recife, nesta terça (9), Geraldo Pinho, cineasta que atuava como gerente e programador do cinema São Luiz. Ele tinha 70 anos e a causa da morte não foi divulgada. O velório acontece nesta quarta (10), no cemitério Morada da Paz.

Geraldo Pinho era um dos grandes nomes do audiovisual pernambucano. O cineasta foi gestor do Museu da Imagem e do Som de Pernambuco (Mispe) e também trabalhou como programador do Cineteatro do Parque. Desde 2009, ele atuava como gerente e programador do São Luiz, selecionando os filmes que eram exibidos no cinema. 

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O veterano tinha 70 anos e a causa da morte não foi divulgada. Em  nota oficial, o presidente da Fundarpe, gestora do Cinema São Luiz, Marcelo Canuto, lamentou a perda do cineasta. “Ele sempre foi nossa referência, entendia muito da parte técnica de como operar um cinema, além de ser um profundo conhecedor da produção audiovisual do Brasil e ser um importante interlocutor de quem fazia parte da cadeia produtiva do cinema. Lamento demais sua morte e expresso meu pesar aos familiares. Sou muito grato pelo tempo que ele dedicou, não só ao cinema como à cultura pernambucana”.

O velório de Geraldo Pinho acontece  nesta quarta (10), a partir das 8h, no Cemitério Morada da Paz, em Paulista. O corpo será cremado no mesmo local, às 14h.


 

Nas últimas semanas, a fachada do cinema São Luiz, no centro do Recife, exibe uma programação com cinco filmes brasileiros, sendo três pernambucanos. A sala, que no passado teve uma pegada comercial com lançamentos de blockbusters, já tem um direcionamento mais alternativo há algum tempo. Muitos recifenses, no entanto, se lembram das enormes filas para ver Titanic (1997) ou Paixão de Cristo (2004).

Porém, em 2019, o cinema retomou seus grandes públicos e sessões esgotadas, com filmes produzidos no estado. Bacurau, de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, foi o carro chefe, mas longas como Divino Amor (Gabriel Mascaro), Azougue Nazaré (Tiago Melo) e Recife Assombrado (Adriano Portela) movimentaram a bilheteria.

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“Foi um ano que tivemos destaques. Desde que reabrimos, em 2009, após a reforma, nossa proposta sempre foi atrair um novo público e trazer o ‘povo do shopping’ de volta”, conta Gustavo Coimbra, gestor do São Luiz. “As produções pernambucanas estão cada vez com mais qualidade e reconhecimento das grandes distribuidoras”, completa.

Coimbra faz questão de citar alguns eventos que também atraíram muitas pessoas em 2019: ANIMAGE - Festival Internacional de Animação de Pernambuco, RECIFEST - Festival da Diversidade Sexual e de Gênero, Cine PE, Festival Varilux de Cinema Francês, 8 ½ Festa do Cinema Italiano e o Janela Internacional do Recife. “Por se tratar do último cinema de rua do Recife, ele é um ato de resistência”, diz o gestor.

Além de espaço de exibição, a sala também retomou seu papel social. “Como programador, eu participo da construção da identidade do São Luiz e cinema de rua precisa ter identidade. É um cinema que interage com a cidade, que debate seus problemas. Há 67 anos, ele é um personagem da cidade. Mas isso não foi do dia pra noite, foi construído por todo o pessoal do audiovisual”, conta o programador Geraldo Pinho.

“A produção pernambucana vem atraindo um público cada vez maior. A gente vem observando esse crescimento desde junho e nos impressiona muito. Bacurau, por exemplo, é um fenômeno, está quase com 25 mil espectadores e trouxe pessoas que nunca estiveram no São Luiz”, complementa Geraldo.

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Efeito Bacurau

O longa de ação e ficção científica escrito e dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles arrastou gente por onde passou, mas foi na cidade natal dos seus realizadores que virou fenômeno. O tom social do roteiro e a resistência simbolizada pela sala histórica foi a fórmula perfeita para garantir sessões lotadas.

Segundo Juliano Dornelles, a caráter popular também precisa ser exaltado. “O São Luiz sobrevive por um esforço apaixonado da equipe que trabalha lá e isso precisa ser destacado. O cinema atende um grupo de pessoas que não tem condições de pagar um ingresso de multiplex e isso é muito importante. Isso fez com que Bacurau fosse visto por gente de várias classes sociais. Eu espero que fique pra sempre, pois não dá para medir o valor de um lugar como esse”, conta.

Para o diretor, o trabalho de angariar novos espectadores também movimenta o mercado local. “Acho que não há limite para público. O público de Bacurau foi uma construção de vários anos. Se usar Kleber (Mendonça) como exemplo, os números dos seus filmes foram crescendo numa progressão quase aritmética. Temos que continuar fazendo filmes, o problema é que o país está nessa situação, não sabemos o que irá acontecer. Mas o cinema pernambucano hoje é referência e o público está perdendo o receio de ver filme nacional”, comemora.

O advogado Caetano Bezerra, de 28 anos, por exemplo, foi pela primeira vez ao São Luiz, esse ano, justamente para ver Bacurau. “Eu gostei muito. A qualidade de som e imagem não deixa nada a perder a nenhum cinema maior, e é bem confortável, dentro das limitações de ser um patrimônio histórico. Além de ser belíssimo, do ponto de vista arquitetônico”, elogia.

“No meu ciclo de amizades, sempre há um interesse pelo cinema pernambucano, sobretudo esse ano, com Bacurau e Divino Amor. Mas no meu trabalho, por exemplo, ainda tem um certo preconceito com o cinema local, principalmente entre quem consome muitos filmes de grandes estúdios. Em 2019, Bacurau quebrou um pouco isso, rompendo essas bolhas”, afirma.

Fotos: Rafael Bandeira/LeiaJáImagens

São mais de 60 anos de história e resistência. O Cinema São Luiz, na área central do Recife, se afirma como um dos equipamentos culturais mais importantes da cidade, responsável por exibições de clássicos e produções locais, nacionais e internacionais e palco de festivais da sétima arte.  

Neste sábado (11), guiados pelo programador Geraldo Pinho e pelo diretor pernambucano Kleber Mendonça Filho, os visitantes puderam conhecer cada espaço do prédio e suas histórias. “Me pareceu muito natural oferecer esse tour guiado através de Geraldo Pinho, cujo trabalho e personalidade se misturam a história do São Luiz e a exibição cinematográfica da cidade”, explica Kleber Mendonça.

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Os olhares curiosos e ouvidos atentos para cada explicação. "No início, nesse espaço se tinha várias coisas. Era cinema, mas também funcionavam escritórios. Muitas vezes, eu estava vendo um filme e, de repente, passava uma pessoa e eu ficava sem entender nada", relembra Geraldo. Nos andares e salas que formam o São Luiz é fácil perceber as marcas do tempo. Muitos que acompanhavam a visitação nem chegaram a vivenciar as mudanças do espaço.

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Projetista desde 1982, João Bosco Pereira já perdeu a noção de quantos filmes viu, mas relembra que ‘Indiana Jones’ o marcou. Além disso, ele conta que diante das transformações, no que se refere à verticalização da cidade, temia que o cinema não resistisse à especulação imobiliária. “Teve uma época em que várias construções antigas do Recife estavam se transformando em igrejas e prédio. Por um tempo, fiquei pensando que isso iria acontecer. Mas, ele continua aqui dando alegria para todos”. 

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