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O governo decidiu acabar com a cobrança de uma sobretaxa, chamada antidumping, que encarecia a importação de leite em pó da Europa e da Nova Zelândia, que estava em vigor desde 2001. A decisão, publicada na edição da última quarta-feira, 6, do Diário Oficial da União, causou reação das entidades que representam os produtores, que se beneficiavam da barreira tarifária ao produto importado.

A investigação conduzida pela área econômica concluiu que no período analisado, que vai de 2012 a 2017, esses fornecedores internacionais de leite em pó não venderam seu produto a preços abaixo do de mercado, nem isso trouxe prejuízo à produção local.

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Essas são as duas condições básicas para configurar o dumping. Por isso, decidiu-se não prorrogar a sobretaxa, como pedia o setor. A conclusão da Fazenda é que "não é provável" que o problema constatado em 2001 volte a ocorrer.

"Toda a cadeia de produção pode entrar em colapso", disse o presidente da Frente Parlamentar Agropecuária (FPA), deputado Alceu Moreira (MDB-RS). O Brasil possui 1,170 milhão de produtores de leite, a maioria deles agricultores familiares.

Para o deputado, a baixa escala de produção não permite a eles concorrer com os fortes subsídios governamentais pagos pela União Europeia e pela Nova Zelândia. A Frente já incluiu o tema na pauta de sua reunião da próxima terça-feira.

"Não vamos concorrer com os produtores europeus, vamos concorrer com o Tesouro europeu", disse o presidente da Comissão Nacional da Pecuária do Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Pedro Alvim. "Vemos a medida com preocupação."

A análise feita pelo Ministério da Economia, porém, não tratou de subsídios ao produtor europeu, nem dos problemas de competitividade do produto nacional. A avaliação foi feita apenas sobre o dumping, seguindo normas do direito internacional sobre o tema.

Para o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS), integrante da Frente, essa medida não ajuda a criar um clima positivo para as votações de interesse do governo na Câmara. Ele lembra que estão no horizonte temas como, por exemplo, a aposentadoria do setor rural. "Não ajuda", afirmou.

Já o deputado Pedro Lupion (DEM-PR), do mesmo grupo, avalia que as votações da reforma da Previdência não serão contaminadas. Mas acha que a Frente deve se posicionar contra a medida. "O fim do antidumping gera uma insegurança grande no setor de leite, pois o aumento da importação geraria uma queda do mercado", disse.

Os registros do comércio de leite entre 2012 e 2017, porém, mostram que no período o Brasil sequer importou leite em pó da Nova Zelândia. E, da Europa, as compras foram na faixa de US$ 40.000,00 por mês. O leite em pó importado responde por 2,4% do consumo nacional. E, mesmo com o fim da sobretaxa antindumping, continua pagando uma tarifa elevada para ingressar no Brasil: 28%, ante 12% cobrados na média de outros países com perfil semelhante.

Na visão dos produtores, porém, o fim do antidumping deve agravar uma crise que já toma conta do setor. Hoje, os produtores têm dificuldade em competir com o leite uruguaio que era exportado para a Venezuela mas, com a crise lá, foi desviado para o Brasil.

Segundo Pedro Alvim, o embasamento técnico para o fim da taxa foi construído ainda no governo de Michel Temer. O então Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (MDIC) mudou a metodologia de cálculo que vinha sendo aplicada desde 2001 e que levou à prorrogação da taxa ao longo dos anos. A CNA, disse ele, apresentou argumentos contrários à mudança. Mas não foi atendida.

As entidades pressionam a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, para que ela tente reverter a medida.

A presidente Dilma Rousseff disparou na manhã de hoje novas críticas à política monetária de países desenvolvidos, que segundo números do Banco de Compensações Internacionais (BIS) despejaram US$ 8,8 trilhões em liquidez na economia mundial desde o início da crise. De acordo com a presidente, as medidas causam "desvalorização artificial" das moedas, "equivalem a barreiras tarifárias" e geram bolhas e especulação. O assunto, garantiu a chefe de Estado, será tratado hoje com a chanceler da Alemanha, Angela Merkel.

Dilma se mostrou contrariada com os novos números divulgados pelo BIS e disse que não apenas o Brasil, mas todos os países emergentes, o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o próprio BIS estão preocupados com a enxurrada de dinheiro novo no sistema financeiro. "O efeito é internacional, não nacional. Como o mundo é globalizado, quando você tem um nível de expansão desses, se produz dois efeitos: um é a desvalorização artificial da moeda. (...) O outro problema sério é que cria uma massa monetária que não vai para a economia real. O que se produz? Bolha. Bolha, especulação", protestou.

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A "desvalorização artificial" da moeda, segundo a presidente, não tem como efeito ganhos de competitividade das economias domésticas. "O que se está fazendo equivale a uma barreira tarifária. Todo mundo se queixa de barreira tarifária, de protecionismo", acusou.

O tom das reclamações do Brasil cresceu desde a última semana, quando o Banco Central Europeu (BCE) ofereceu mais 530 bilhões de euros em linhas de empréstimo subvencionadas - com juros de 1% e prazo de três anos para pagar. Nos últimos três meses, o total injetado no sistema financeiro da zona do euro pela autoridade monetária chega a 1 trilhão de euros.

Questionada pela reportagem se ao reclamar para a chanceler da Alemanha, Angela Merkel, o governo brasileiro não estava pedindo a intervenção na autonomia do BCE, Dilma respondeu: "Não, sabe por quê? Porque estão interferindo na nossa." "O que o Brasil quer com isso é mostrar que está em andamento uma forma concorrencial de proteção de mercado, que é o câmbio. Não é tarifa; é o câmbio, que virou uma forma artificial de proteção", reiterou.

A presidente também ressaltou que o governo vai tomar medidas e citou o recente aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) como parte da estratégia, mas negou que defenda a quarentena de capital externa. "Somos uma economia soberana. Tomaremos todas as medidas para nos proteger. Vamos ver quais medidas, como essa que tomamos recentemente sobre o IOF."

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