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De 2011 a 2020, a frequência e a quantidade de queimadas da Caatinga, Mata Atlântica e Amazônia, que não têm condições climáticas que favoreçam o fogo, foi semelhante a dos biomas do Cerrado, Pampa e Pantanal, cujo fogo é um elemento natural. Esse padrão, levantado por pesquisa publicada na revista científica “PeerJ Life & Environment” na terça (25), indica que grande parte dos incêndios, em todos os biomas, são provocados pelo homem e não pelas condições naturais do clima.

Liderado por pesquisadoras das universidades federais da Bahia (UFBA) e do Rio de Janeiro (UFRJ), o estudo investigou a ocorrência de padrões de queimadas nos seis biomas brasileiros, de 2011 a 2020, a partir de dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Elas também fizeram projeções sobre a ocorrência de incêndios nos biomas e sua vulnerabilidade e risco, em 2050 e 2090, a partir das projeções dos efeitos de mudanças do clima do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).

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Apesar de localizada a persistência do fogo em todos os biomas, houve pequenas variações em cada região, o que pode ser atribuído, também, a eventos de incêndios naturais. A Caatinga, por exemplo, foi o bioma com menos recorrência de episódios de queimadas. Isso se explica pelo fato deste bioma ter condições desfavoráveis à propagação do fogo, como a falta de biomassa. As queimadas foram mais persistentes na Mata Atlântica – o que acende um sinal de alerta dos pesquisadores.

Em todos os cenários projetados, a Mata Atlântica é o bioma que apresenta maior risco a incêndios, pois, possivelmente, irá diminuir a sua capacidade de se adaptar ao fogo ao longo das décadas. A Amazônia aparece como mais resiliente ao fogo, em comparação a outros biomas, como a própria Mata Atlântica e o Pampa, que têm mais perda vegetativa e menos áreas de proteção.

A pesquisadora Luísa Maria Diele-Viegas, coautora e líder do estudo, aponta que a principal contribuição do trabalho é de levantar evidências de que o aumento das secas, da temperatura média e a diminuição das chuvas serão propícias para a propagação do fogo com mais intensidade. “Se mantivermos a cultura de atear fogo para abertura de pasto e de áreas de plantio, os incêndios vão ficar cada vez mais incontroláveis”, ressalta.

Um evento que mostra o que pode acontecer com o encontro de ações provocadas pelo homem e condições favoráveis à expansão do fogo, segundo Diele-Viegas, é que queimou mais de 30% do Pantanal em 2019 e 2020. O episódio foi provocado pela falta de chuvas e a baixa umidade do ar na região, devido ao desmatamento da Amazônia. A análise do estudo projeta que secas extremas se tornarão mais frequentes com as mudanças climáticas, o que pode facilitar a ocorrência e propagação de incêndios.

Diante disso, Diele-Viegas acredita que a pesquisa pode embasar políticas públicas para preservar a biodiversidade dos biomas, além de promover medidas de controle e prevenção de incêndios. “É importante, por exemplo, promover educação ambiental para que as pessoas entendam os efeitos negativos de se utilizar esse tipo de método”, aconselha a pesquisadora.

Fonte: Agência Bori

Relatório divulgado nesta segunda-feira (18), aponta que o desmatamento no Brasil cresceu 20,1% em 2021, atingindo 16,5 mil km² em todos os biomas. Em três anos, o Brasil perdeu uma área verde próxima à do Estado do Rio de Janeiro. Na Amazônia, a estimativa é de que sejam derrubadas 18 árvores por segundo. E apenas 27% das áreas desmatadas são alvo de alguma fiscalização.

Os dados são do Relatório Anual de Desmatamento no Brasil, do MapBiomas, iniciativa do Observatório do Clima realizada por uma rede de universidades, ONGs e empresas de tecnologia. "Indicam que há um problema crônico e se agravando em todas as regiões do Brasil", diz Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas.

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Segundo o estudo, 77% da área total desmatada ficava em um imóvel registrado no Sistema Nacional de Cadastro Ambiental Rural. "Em ao menos três quartos dos desmatamentos, é possível encontrar um dono ou responsável", diz. Para ele, é preciso fortalecer ações, como embargar terras com desmate ilegal (o que dificulta o acesso a financiamento), impedir regularização fundiária em áreas com desmate irregular e banir produtos de origem irregular do mercado.

Em dados brutos, a Amazônia é o bioma com maior território afetado: 59% do total. Depois vêm Cerrado (cerca de 30%), Caatinga (7%), Mata Atlântica (1,8%), Pantanal (1,7%) e Pampa (0,1%). Proporcionalmente, tiveram maior alta em um ano a Caatinga (89%) e o Pampa (92%), mas os resultados sobre o primeiro bioma derivam também de melhora na captação de dados.

A agropecuária é o principal vetor de pressão (96,6%) para o desmate. Também há perdas ligadas a garimpo, mineração, expansão urbana e usinas de energias solar e eólica.

Os eventos de maior porte, em mais de 100 hectares (um km²), cresceram 37,8% em um ano. A fins de comparação, o Parque do Ibirapuera tem 1,6 km². "Quando se torna maior, é sinal que a impunidade está perdurando, porque a área maior é mais fácil de detectar e fazer uma ação", diz Azevedo.

Houve desmate irregular em 2,1% das propriedades rurais (134.318 mil). "Os outros 98% não desmatam irregularmente, mas sofrem consequências do mercado, chuva, aumento de preços da energia (causados pelo dano ambiental)", aponta.

Do total desmatado, 5,3% estavam em áreas protegidas, 3,6% em unidades de conservação e 1,7% em terras indígenas. A Área de Proteção Ambiental do Triunfo do Xingu e a Floresta Nacional do Jamanxim, ambas no Pará, são as mais atingidas. Das terras indígenas, 40,5% tiveram ao menos um registro de desmate.

SEM PUNIÇÃO

O estudo diz ainda que a maioria dos casos não tem fiscalização e punição: embargos e autuações federais só em 10,5% da área desmatada, entre 2019 e 2021. A gestão Jair Bolsonaro é alvo de críticas no Brasil e no exterior por enfraquecer órgãos de fiscalização ambiental. Procurado ontem, o Ministério do Meio Ambiente não comentou até 19h30.

Os números são mais positivos se somados ao crescimento de ações em parte dos Estados e Ministérios Públicos, chegando a 27,1% da área desmatada. "Se tem algo de positivo em relatório tão dramático é que ampliaram as ações em Estados, seja porque foram mais transparentes, com mais informações disponíveis, seja por efetivamente começarem a aplicar mais em ações de fiscalização", destaca Azevedo.

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