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“E tua fruta vai rolando/ Para os nossos alguidares/Tu te entregas ao sacrifício/Fruta santa, fruta mártir/Tens o dom de seres muito/Onde muitos não têm nada/Uns te chamam açaizeiro/Outros te chamam juçara”. Os versos do músico e compositor paraense Nilson Chaves descrevem a importância do açaí na alimentação e economia de Belém do Pará.

Os benefícios do fruto são tão vastos que já chegaram na Engenharia. Os professores da Universidade da Amazônia (UNAMA) Mike da Silva Pereira e Emerson Cardoso Rodrigues estão desenvolvendo pesquisas junto a uma equipe de seis alunos sobre “Concreto permeável feito com semente de açaí”, o que poder ser mais uma arma para evitar os alagamentos recorrentes na capital paraense. Os resultados já estão sendo publicados, inclusive fora do país.

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O engenheiro civil Mike da Silva Pereira explica que o concreto permeável já existe no mercado, porém, o projeto em andamento substitui o seixo pelo caroço de açaí.

“O trabalho propõe a utilização do material in natura, sem custo de beneficiamento. Evitamos com que o caroço de açaí seja depositado como lixo urbano, é uma tentativa sustentável de empregar um elemento tão comum na nossa culinária, no ramo da engenharia. O caroço de açaí adicionado ao concreto torna a impermeabilidade muito maior, o que pode evitar os nossos tão conhecidos alagamentos”, explica o professor.

Resultados

A equipe conta com quatro alunos, Izabelle Amaral e Fernanda Viana, do 9º semestre, e Rodrigo Ferreira e Roberto Silva, do 7º semestre. Os primeiros resultados do projeto já foram apresentados no 3º Congresso Luso-Brasileiro de Materiais de Construção Sustentáveis, realizado em fevereiro de 2018, em Coimbra (Portugal).

“Foi uma experiência engrandecedora para a nossa futura profissão, pois apresentamos estes trabalhos para mestres e doutores da engenharia. Percebemos que a ideia foi bem aceita, elogiada e recebemos algumas críticas construtivas para a melhoria da nossa pesquisa”, avalia o futuro engenheiro Rodrigo Ferreira.

Por Camille Nascimento da Silva, especial para o LeiaJá

Fruto típico da região amazônica, o açaí é um dos alimentos principais na mesa dos paraenses. Conhecido por ser muito nutritivo, o açaí é fonte de renda para centenas de famílias no Estado do Pará, movimentando mais de R$ 3 bilhões por ano, e já ganhou o mundo. A exportação fortalece a economia regional.

O que poucos sabem é que até o caroço do açaí pode ser reaproveitado, em vez de ir para o lixo. O aproveitamento dos caroços gera novos produtos e ajuda na preservação do ambiente urbano.

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Na capital paraense alguns pesquisadores já desenvolvem trabalhos que fazem o reaproveitamento do caroço do açaí, como é caso do agrônomo Sérgio Gusmão, que há 35 anos atua na área de agricultura orgânica e produção de hortaliças pela Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra). O pesquisador explicou como é feito o aproveitamento dos caroços em hortas. De acordo com ele, apesar de ter um baixo valor nutricional, o caroço do açaí assume um papel muito importante na produção de compostas orgânicas. "Esse material decomposto torna o solo de melhor qualidade até para o desenvolvimento das plantas. Isso é uma vantagem muito grande, porque a cidade de Belém tem um volume significativo na produção de caroços", informou.

De acordo com Sérgio Gusmão, a reutilização do caroço do açaí também ajuda na preservação de espaços urbanos. "Os caroços de açaí podem, dentro do sistema de produção urbana e periurbana de hortaliças e plantas, estar participando mais ativamente desse processo, pois não é destinado a poluentes e o aproveitamento do caroço do açaí também evita outros problemas que ele poderia causar em ambientes urbanos", afirmou o pesquisador.

Um outro uso para o caroço do açaí é na produção de produtos tecnológicos. A engenheira química Carmen Dias, que coordena um grupo de pesquisa no Laboratório de Engenharia Mecânica da Universidade Federal do Pará (UFPA), informou que é possível utilizar o caroço do açaí ou endocarpo (parte interna do fruto) para criar novos produtos. De acordo com a pesquisadora, o objetivo das pesquisas é transformar o açaí em uma base de biorrefinaria. “A proposta de criação de compósitos a partir da fibra do açaí nasce da necessidade de ampliar a agroindústria do açaí e reduzir seus resíduos, ao mesmo tempo em que promovemos o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis”, disse.

Segundo Carmen Dias, durante a produção do suco do açaí se obtém uma quantidade muito grande de massa biológica que pode servir para vários processos e, por esse motivo, foram desenvolvidos três equipamentos para se obter as frações do caroço de açaí no Laboratório de Engenharia Mecânica da UFPA. "A primeira máquina que desenvolvemos aqui seca e separa o caroço do açaí em três frações: borra, fibra e semente. Depois disso temos outras máquinas que dão sequência a esse trabalho e saem ainda fazendo separações, depois disso passando por processos químicos de onde são gerados muitos produtos", contou.

Miroslawa Luczynski, engenheira sanitarista e que integra o corpo docente da Universidade da Amazônia (Unama), explicou que em sua pesquisa de mestrado a reutilização do caroço de açaí foi utilizada para transformação de energia. Segundo ela, a partir da pesquisa vários resultados foram obtidos. "Primeiro, para chegarmos e afirmar que o caroço do açaí tem um potencial energético nós tivemos que ir atrás e cadastrar pontos de coleta. Então fizemos todo um mapeamento dentro de Belém. Após isso fomos para as pesquisas, onde foi comprovado que o açaí tem um grande potencial energético, tem as suas particularidades e além desse potencial energético ele pode ser reutilizado para outros fins", informou Miroslawa. Confira, no vídeo abaixo, mais informações dos pesquisadores.

Com apoio de Jhonatan Rafael.

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