"Começou a se insinuar. Me recusei várias vezes, até o dia em que me deu um zero na minha primeira prova". Assim como outras estudantes do Gabão, Melania denuncia o "assédio sexual" de professores que utilizam as notas para abusar de suas alunas.
A jovem Melania (nome fictício), aluna da Universidade Omar Bongo de Libreville, lembra o ocorrido com um de seus professores do colégio ocultando o rosto ante a câmera da AFP. Agora diz estar orgulhosa de "ter resistido" ao assédio.
Outra estudante conta sob anonimato que teve que mudar de especialização após se negar a aceitar as insinuações de um professor que tornou sua vida "impossível".
Nas aulas da universidade e das escolas, o tema alimenta rumores há décadas, sem causar nenhum escândalo na opinião pública. O problema é conhecido de todos e já foi objeto de reportagens na imprensa que denunciavam esses professores "predadores".
Valéry Mimba, chefe do departamento de Estudos Ibéricos, fala de "rumores", embora reconheça que "o fenômeno existe".
"Quando a nota de alguma estudante volta a subir, logo se pensa que ela dormiu com o professor", lamenta.
Mas os docentes também acusam estudantes de utilizar meios de pressão para conseguir boas notas.
"Propuseram dormir comigo para que eu aumentasse uma média", se queixa um chefe de departamento sob anonimato.
Para a administração, é difícil demonstrar a existência do assédio sexual por parte dos professores. Para isso, as estudantes teriam que denunciar os fatos aos chefes de departamento, afirmam estes últimos.
"Entendo as estudantes que não se atrevem a apresentar uma denúncia" por medo de represálias, reconhece um professor, que opina que a administração universitária tende a minimizar o fenômeno do assédio sexual.
Franck Matoundou, membro da liga estudantil dos direitos humanos, pede a criação de uma estrutura especializada com o objetivo de quebrar o "tabu" e acabar com o medo de denunciar os abusos.