Feridas que ocorrem à noite cicatrizam muito mais devagar, porque o relógio interno do corpo humano, que regula o ritmo de cicatrização, funciona melhor durante o dia, disseram pesquisadores nesta quarta-feira (8).
Um estudo publicado na revista científica Science Translational Medicine descobriu que cortes e queimaduras são curados cerca de 60% mais rápido quando a lesão acontece durante o dia do que quando ocorre à noite.
Os pesquisadores dizem que o relógio biológico do corpo, ou ritmo circadiano, é o motivo dessa diferença, porque regula processos fundamentais do corpo, incluindo o sono, o metabolismo e secreção hormonal.
"Esta é a primeira vez que foi demonstrado que o relógio circadiano dentro de células individuais da pele determina o quão efetivamente elas respondem a lesões", disse o autor sênior do estudo John O'Neill, cientista do Laboratório de Biologia Molecular do Conselho de Pesquisa Médica em Cambridge.
"Nós observamos consistentemente uma diferença de cerca de duas vezes na velocidade de cicatrização de feridas entre o dia e a noite do relógio biológico", acrescentou.
"Pode ser que nossos corpos tenham evoluído para se curar mais rapidamente durante o dia, quando os ferimentos são mais prováveis de ocorrer".
O estudo foi baseado em experimentos usando camundongos vivos e células de pele humana em laboratório, e foi corroborado por registros de 118 pacientes com queimaduras de grandes centros médicos especializados da Inglaterra e do País de Gales.
As queimadas noturnas (ocorridas entre 20h00 e 8h00) levaram em média 60% mais tempo para cicatrizar, tendo sido 95% curadas após uma média de 28 dias, disse o estudo.
As queimaduras ocorridas durante o dia cicatrizaram em apenas 17 dias, em média, porque as células da pele se moviam para o local da ferida muito mais rápido durante o dia, para repará-la com proteínas como a actina e o colágeno.
O mesmo processo foi aparente em ratos e células humanas em laboratório, sugerindo que o relógio circadiano interno do corpo é responsável por esse processo.
"Pesquisas mais aprofundadas sobre o vínculo entre os relógios biológicos e a cicatrização de feridas podem nos ajudar a desenvolver medicamentos que previnam a cicatrização defeituosa das feridas ou até nos ajudar a melhorar os resultados cirúrgicos", disse o autor principal do estudo, Ned Hoyle, também do Laboratório de Biologia Molecular.