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Em continuidade ao seu tour pelo continente europeu, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou, nesta quinta-feira (18), do seminário “Cooperação multilateral e recuperação regional pós-Covid-19”, promovida pelo Common Action Forum (CAF), na Casa América da capital espanhola, Madri. Na fala, o petista enfatizou a importância de reconhecer a desigualdade como um vírus tão mortal e ainda mais antigo que a Covid-19. Falou sobre uma aliança global em combate à fome e alfinetou o acúmulo de riquezas por parte dos mais ricos.

“A pergunta que precisa ser feita é a seguinte: 'Para qual normal a humanidade deseja voltar?' A verdade é que muito antes do primeiro caso de Covid-19, o mundo já estava doente, vítima de um vírus igualmente mortal chamado desigualdade. A desigualdade está na raiz de incontáveis mortes que acontecem ao redor do mundo. Inclusive quando o atestado de óbito informa como causa da morte a Covid-19. A desigualdade mata todos os dias”, disse o líder militante.

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Lula lembrou o estudo da Organização Não Governamental Oxfam, divulgado em janeiro de 2020, e que expôs que a parcela dos 1% mais ricos do mundo detêm mais do dobro da riqueza possuída por 6,9 bilhões de pessoas e que os 22 homens mais ricos do mundo acumulavam mais dinheiro do que todas as mulheres da África.

“De lá para cá, a desigualdade cresceu. Em plena pandemia, os bilionários ficaram bilhões de dólares mais ricos. Ao mesmo tempo, os pobres atingiram um nível tão devastador de pobreza, que precisarão de uma década e meia para recuperar o que perderam e voltar à pobreza inicial”, continuou.

O ex-presidente também alertou para o problema da fome: "Não existe vacina contra a fome, e não foi preciso inventá-la para livrar o Brasil desse flagelo. Bastou vontade política para implementar medidas tão simples quanto revolucionárias, a exemplo do Bolsa Família, considerado o maior programa de inclusão social do mundo".

Lula ainda argumentou que o problema com o financiamento da segurança alimentar não é falta de recursos, mas de interesse. “Os países ricos investiram quase 2 trilhões de dólares para salvar o sistema financeiro durante a crise de 2008. Os Estados Unidos gastaram 8 trilhões de dólares nas suas guerras no Oriente Médio. Ou seja, recursos financeiros existem. Infelizmente, não vemos a mesma generosidade quando se trata de salvar o planeta do aquecimento global, combater a crescente desigualdade e eliminar a miséria no mundo", disse.

Leia os trechos finais do discurso:

“Quero terminar dizendo que não estamos sozinhos. Somos muitos. Vários de nós estamos reunidos aqui nesta Casa, neste exato momento, buscando soluções para a reconstrução do planeta pós-Covid-19. Reconstruir o planeta significa construirmos juntos um novo normal.

Precisamos encontrar alternativas para a geração de emprego em meio a transição causada pela digitalização do trabalho, que tem gerado desemprego em massa, perda de direitos trabalhistas, empobrecimento e exaustão física e mental.

Esse desafio precisa ser encarado por todos: governos, sindicatos, centrais sindicais, universidades. Para que voltemos a gerar empregos em quantidade suficiente, com salários dignos e garantia de direitos trabalhistas. Para que o trabalhador seja tratado como pessoa, e não como um algoritmo descartável.

Precisamos mudar nossa relação com o meio ambiente e proteger a natureza. Cuidar do nosso planeta deve ser compromisso de todos os governos, sobretudo dos países ricos, que se industrializaram há mais tempo. Mas muitos deles se recusam a cumprir as metas de redução de emissão de gases poluentes, tornando-se cúmplices de uma tragédia ambiental da qual talvez não haja retorno.

Temos que impulsionar a transição energética e ecológica, desenvolver novas formas de produção e consumo ambientalmente sustentáveis. E os investimentos nessa direção, podem ser oportunidades de novos empregos, novas tecnologias, com mais desenvolvimento científico e impulso à inovação.

Esses grandes desafios não serão solucionados pelo sistema criado após a Segunda Guerra Mundial. Como ocorreu depois de outras grandes crises, é necessário reconstruir as instituições internacionais sobre novas bases.

É urgente convocar uma conferência mundial, com representação de todos os Estado, e participação da sociedade civil, para definir uma nova governança global, justa e representativa.

Somos partes de gerações e gerações de jovens que alimentaram o sonho de mudar o mundo. Mas mudar o mundo não pode ser apenas um sonho de juventude, que vamos esquecendo com o passar do tempo e a chegada da maturidade.

Mudar o mundo deve ser sempre a nossa profissão de fé, a própria razão para existirmos e nos lançarmos a uma luta árdua e permanente, da qual não poderemos jamais descansar.

Nosso maior alento é a certeza de que a construção de um outro mundo é perfeitamente possível, porque já fomos capazes de construí-lo. Um mundo mais sustentável, menos desigual, mais justo, mais solidário e mais feliz.

É este o novo normal que desejamos. E que vamos construir juntos.

Muito obrigado”.

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