Tópicos | Conselho Universitário da UFPE

Em reunião realizada nesta segunda-feira (26), o Conselho Universitário da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) manifestou-se, publicamente, contrário ao Programa Institutos e Universidades Empreendedoras e Inovadoras – Future-se. A proposta, apresentada pelo Ministério da Educação (MEC), pretende dar mais autonomia financeira às instituições de ensino, possibilitando, inclusive, intervenções de empresas privadas.

A Universidade, em sua posição, destaca que valoriza os seus princípios constitucionais, se comprometendo com os interesses democráticos do Brasil. “Dentre os quais se destacam os da autonomia universitária, do caráter público, gratuito e de qualidade do ensino superior, da admissão por concurso público, da diversidade do conhecimento e da pluralidade de ideias”, defendeu a UFPE.

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Segundo a instituição de ensino, o Future-se não mostra de maneira clara e transparente as atividades de gestão que poderão ser repassadas para organizações sociais, assim como as diretrizes da política de internacionalização. Para a UFPE, o programa também não é claro sobre a escolha dos fundos de investimento.

“A UFPE já possui experiência de boas práticas de governança, empreendedorismo, inovação e internacionalização, aliada às várias formas de parcerias com todos os setores da sociedade, sempre norteada pelo interesse público e o debate plural de ideias. Entende a Universidade que, ao remeter pontos relevantes para posterior regulamentação do Ministério da Educação, o projeto enfraquece o debate público sobre o tema e desconsidera a competência privativa do Congresso Nacional de aprovar as diretrizes da educação nacional, conduzindo a um modelo de excessiva centralização de poderes no âmbito do Ministério”, argumentou a Universidade.

O Conselho Universitário diz ainda que o programa visa transferir a gestão dos recursos financeiros das instituições de ensino a uma organização social, escolhida pelo próprio MEC, “permitindo-se entrever que essa entidade atuará, ainda, na gestão de pessoas, bens e serviços das instituições de ensino”. “Essa organização social, inclusive, poderá ser escolhida sem prévia chamada pública, prevendo-se a contratação de entidade que já desenvolva projetos junto ao Ministério da Educação”, acrescentou o Conselho.

O ministro da Educação Abraham Weintraub, por sua vez, defende que o Future-se tem um caráter inovador. “O que a gente está propondo é uma reformulação profunda. O objetivo realmente é colocar o Brasil no patamar que estão os outros países. Estamos trazendo as melhores ideias. Será que dá certo no Brasil? Sim, dá certo! É um marco de uma mudança estrutural que a gente precisa atingir”, disse o ministro durante o lançamento do programa.

Confira, a seguir, a posição na íntegra divulgada pela Universidade Federal de Pernambuco:

Conquanto a Universidade Federal de Pernambuco nunca tenha se furtado ao diálogo interinstitucional, acerca de sua participação em projetos de interesse público e no debate sobre os meios de se aumentar a sua eficiência administrativa, suas decisões permanecem pautadas pelos estritos termos da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 1988. A UFPE analisará, à luz dos seus princípios, a versão que será enviada ao Congresso Nacional.

 

O art. 207 da Carta Magna é explícito ao assegurar às Universidades “autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial”. Esta prerrogativa não é um fim em si mesmo, mas um meio de se preservar a pluralidade de ideias, o livre pensar, o desenvolvimento científico e tecnológico, sem as amarras que lhes foram impostas no passado recente, nos anos da ditadura.

A autonomia universitária é uma garantia estabelecida em prol de toda a sociedade brasileira e não algo de que as Universidades possam livremente dispor.

Por tais motivos, a Universidade Federal de Pernambuco entende que não lhe cabe, em hipótese alguma, renunciar à sua autonomia, repassando a sua gestão administrativa e orçamentária a uma entidade alheia à comunidade acadêmica.

Repudia a Universidade, inclusive, a possibilidade de escolha de organizações sociais sem prévia chamada pública, além da possibilidade de pagamento de remuneração aos diretores dessas organizações. Essas mudanças seguem na contramão do decidido pelo Supremo Tribunal Federal e desnaturam a própria razão de ser dessas entidades sociais, pensadas como reunião de pessoas que desejam, voluntariamente, trabalhar em prol do interesse da coletividade. Caso aprovadas as alterações, recursos públicos poderão ser destinados ao pagamento desses diretores, escolhidos diretamente pelo Ministério da Educação, sem concurso público, sem prévia licitação, sem qualquer procedimento capaz de preservar a moralidade e a impessoalidade administrativas.

Embora textualmente se diga que a assinatura do contrato de gestão dependerá da anuência da universidade ou instituto, a Universidade Federal de Pernambuco alerta a comunidade, com ênfase aos seus representantes no Congresso Nacional, acerca dos riscos advindos desse projeto. A experiência brasileira demonstra o risco concreto de, caso aprovado o programa, em seguida proceder-se ao tratamento desigual entre as instituições aderentes e não aderentes, inclusive mediante o contingenciamento de seus recursos orçamentários. A proposta de projeto de lei, como está apresentada, contraria os princípios da autonomia universitária e o compromisso de democratização do ensino superior.

A Universidade também se opõe à securitização do seu patrimônio imobiliário, vez que subordiná-lo à lógica e aos riscos do mercado financeiro não condiz com as finalidades constitucionais das instituições de Ensino Superior. Expressa, por fim, a sua perplexidade com a proposta de se permitir aos hospitais universitários a celebração de convênios com operadoras de planos privados de saúde. Esse modelo, adotado no passado, marcou-se pelo tratamento diferenciado concedido aos pacientes dos planos de saúde, em detrimento da população mais necessitada, razão pela qual foi proscrito pelo Sistema Único de Saúde. A aprovação do projeto, neste item, representaria um evidente retrocesso nas políticas de atenção à saúde no país.

Em síntese, a Universidade Federal de Pernambuco permanece aberta ao diálogo, sobretudo no que tange a iniciativas que permitam ampliar o aporte financeiro e aperfeiçoar a gestão administrativa, no âmbito das instituições de ensino superior, e esclarece as razões pelas quais se opõe à atual versão do Programa Institutos e Universidades Empreendedoras e Inovadoras – Future-se.

Estava marcada para a manhã desta sexta-feira (2) a realização da reunião do Conselho Universitário da UFPE (Consuni) que iria alinhar o novo estatuto da Universidade. Estavam mobilizados para o encontro técnicos e estudantes pertencentes a movimentos estudantis da instituição. 

A reunião contaria com a presença de até cinco representantes de cada segmento – professores, técnicos e estudantes. Cada grupo teriam direito a 10 minutos para se pronunciar. Apesar de já haver essa informação, uma confusão foi iniciada entre técnicos e estudantes e a segurança universitária. 

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De acordo com o Sindicato dos servidores Técnicos Administrativos da Universidade Federal de Pernambuco (Sintufepe), através da sua rede social, a segurança universitária, sob ordens da reitoria, agrediu técnicos e estudantes da universidade que exigiram participar da reunião do Consuni. Por conta da confusão formada, o encontro foi cancelado.

De acordo com a assessoria da UFPE, uma parcela de alunos quis entrar no evento e então foi vetada pela segurança. Por conta disso, deu-se início a confusão. O reitor da instituição, Anísio Brasileiro, chegou a conversar com os manifestantes por cerca de 1h30, no entanto, os alunos ocuparam o prédio e ainda estão acampados lá. Além disso, foi afirmado que o grupo quer que a UFPE homologue a proposta sem nenhuma alteração ou negociação.

Consuni – Durante a greve dos técnicos, que já dura mais de cem dias, foi elaborado um texto que cobra melhorias de trabalho e a reformulação do estatuto alinhada à realidade atual da instituição e dos funcionários. Então a reunião pedia a homologação do texto aprovado pelo Congresso Estatuinte. A cobrança dessa decisão é feita desde o início da greve.

 

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