Um coronel da reserva do Exército indicado assessor da Casa da Moeda do Brasil pelos generais do governo do presidente Jair Bolsonaro (PL) cultiva uma relação de confiança mútua há duas décadas com Fabrício Queiroz, de acordo com o The Intercept Brasil. Fabrício Queiroz é acusado de operar o esquema milionário das rachadinhas do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o filho 01 do presidente.
O coronel Washington Luiz Lima Teixeira é a primeira relação entre um militar do alto escalão do governo Bolsonaro com Queiroz. As relações entre eles vão de venda de imóvel e uma procuração em que o coronel Teixeira deu a Queiroz para operar as suas contas bancárias pessoais na Caixa Econômica.
##RECOMENDA##O coronel é assessor da presidência na Casa da Moeda desde novembro de 2020, com salário bruto de R$ 22 mil mensais. De acordo com o militar, ele foi escolhido diretamente pelo presidente da empresa, o vice-almirante da reserva da Marinha, Hugo Cavalcante Nogueira.
A ligação entre Teixeira e Queiroz está documentada em cartórios do Rio de Janeiro. De acordo com o Intercept, eles analisaram 15 documentos e o mais intrigante é uma procuração assinada em novembro de 2009 pelo coronel a Queiroz de “amplos poderes” para operar suas contas bancárias pessoais. A procuração ainda é válida a julgar pela ausência de registros de seu cancelamento.
Registrado no 8º Ofício de Notas, no Centro do Rio de Janeiro, o documento formaliza que o coronel Teixeira e a sua mulher, Ana Maria Medeiros Teixeira, nomearam Fabrício Queiroz como procurador de ambos “junto e perante a Caixa, em quaisquer de suas agências e departamentos”.
O acordo permite que Queiroz acompanhe e dê andamento “a processo habitacional, podendo abrir, movimentar e liquidar contas, tomar ciência dos despachos, cumprir exigências, juntar e retirar documentos, requerer, recorrer, concordar e ajustar condições do mútuo, pagar taxas de serviços, assinar os contratos necessários, ajustar preços, prometer comprar, comprar”.
Além disso, a documentação permite saques bancários e assinaturas de cheques das contas do coronel Teixeira. Queiroz também ganhou o direito de usar como garantia para empréstimos “o imível situado na rua Baronesa”.
O imível se trata de um apartamento em Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, uma região controlada pela milícia e que pertencia ao coronel, segundo a mídia de jornalismo independente. O imível foi vendido ao ex-assessor de Flávio Bolsonaro em uma transação que se prolongou por 19 anos e só teve desfecho quando surgiram as primeiras reportagens sobre o escândalo das rachadinhas, em dezembro de 2018.
Atualmente, quem vive no apartamento é Débora Melo Fernandes, ex-esposa de Queiroz, segundo ele informou ao Intercept. No entanto, o registro geral do imóvel ainda consta no nome de Teixeira como proprietário do apartamento, como informa o registro geral do imóvel, consultado no dia 28 de março no ofício do 9º Ofício de Registro de Imóveis do Rio.
Quando a procuração foi assinada, em dezembro de 2009, Teixeira era militar da ativa no Exército e Queiroz operava o esquema das rachadinhas no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, segundo denúncia apresentada em outubro de 2020 pelo Ministério Público estadual. Os promotores acusam a organização criminosa comandada por Flávio a desviar e lavar dinheiro público em compra de imóveis em nome do político. No entanto, ele e Queiroz negam.
Funcionários da Caixa, que não quiseram revelar a identidade ao Intercept, falaram que o único procedimento necessário em caso de transferência do financiamento seria a aprovação do cadastro de Queiroz no banco. Eles também dizem que a procuração com amplo poderes é desnecessária e raramente vista em situações como essa. O caminho mais fácil seria estabelecer uma procuração com fim específico, como a transferência do imóvel.