Os eslovacos escolheram a mudança ao eleger, no sábado (30), a advogada liberal Zuzana Caputova à presidência do país, o que para muitos representa um contrapeso aos populistas no poder.
Caputova, militante anti-corrupção de 45 anos, obteve 58,40% dos votos, segundo os resultados finais, contra o seu rival Maros Šefčovič, comissário europeu apoiado pelo partido no poder Smer-SD.
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Este resultado pode, segundo os analistas, representar um alerta para o Smer-SD antes das eleições europeias de maio e das legislativas do próximo ano.
Imediatamente após a publicação dos primeiros resultados, o primeiro-ministro Peter Pellegrini desejou uma "cooperação construtiva" com a nova chefe de Estado, que por sua vez convocou os eslovacos a se unirem.
"Vamos buscar o que nos une, colocar a cooperação acima dos interesses pessoais", disse ela à imprensa.
Sua vitória prova, segundo ela, que "é possível não ceder ao populismo" e "ganhar a confiança das pessoas sem recorrer ao vocabulário agressivo e aos ataques pessoais".
"Os eslovacos escolheram a mudança e votaram por um estilo político diferente do que vimos até agora", comentou Aneta Vilagi, analista de Bratislava entrevistada pela AFP.
"Estou feliz que a Eslováquia elegeu uma mulher para a presidência. As mulheres estão sub-representadas nas posições de poder, e isso pode começar a mudar agora", declarou Iveta Rabelyova, uma professora de 34 anos.
"Caputova desafia a imagem típica de um político: é uma mulher, é divorciada, é uma novata na política. É com um sentimento positivo que vejo nossos cidadãos escolhendo alguém que destrói todos os estereótipos", acrescentou.
- "Sociedade em mutação" -
Para Vilagi, "o fato de os eslovacos elegerem uma mulher à presidência significa que a sociedade está mudando". Ela estima que a personalidade e o percurso de Caputova jogaram favoravelmente.
"Diria que ela venceu apesar do seu sexo", estimou.
Para o analista Pavol Babos, "o pedido por mudança diz respeito à maneira de exercer o poder representada pela coalizão no poder".
O presidente da Eslováquia não governa, mas ratifica tratados internacionais e nomeia os maiores magistrados. Também é o comandante em chefe das Forças Armadas e dispõe de um direito de veto.
Segundo os especialistas, a eleição da advogada é resultado do descontentamento popular com o poder após o assassinato do jornalista investigativo Jan Kuciak e sua companheira no ano passado.
Kuciak e Martina Kusnirova foram assassinados em casa, em fevereiro de 2018. O jornalista deveria publicar um relatório sobre as relações entre políticos eslovacos e a máfia italiana, e também sobre fraudes nos fundos agrícolas europeus.
A onda de indignação pôs em uma situação difícil o governo do partido Smer-SD e provocou a demissão do primeiro-ministro, Robert Fico, estreito aliado de seu sucessor no cargo, Peter Pellegrini.
Em um país de maioria católica, Caputova não hesitou em se pronunciar abertamente em favor do livre acesso ao aborto e direitos expandidos para casais homossexuais, dizendo que uma criança viverá "melhor com duas pessoas que se amam do mesmo sexo" do que em um orfanato.
Já seu rival defende os "valores tradicionais da família", dirigindo-se aos eleitores "que querem que a Eslováquia continue a ser um país cristão".
De acordo com os resultados publicados pelo Serviço de Estatística, Caputova venceu tanto nas grandes cidades quanto no interior, mais conservador.
Os analistas apontam, porém, uma baixa participação de 41,79%.
"Um baixo comparecimento significa que o eleitorado antissistema e extremista não escolheu um presidente que representasse os seus valores", disse à AFP o analista Grigorij Mesežnikov.
A nova presidente tomará posse em 15 de junho.