O escritor colombiano Gabriel García Márquez, falecido nesta quinta-feira (17) aos 87 anos, influenciou inúmeros escritores de todo o mundo, que tiveram como modelo sua recriação poética da realidade, além de sua visão mítica da infância e de sua terra natal.
Fora do âmbito hispano-americano, Gabriel García Márquez “teve uma grande influência sobre diversos escritores que confessaram seu deslumbramento ao lê-lo, e essa impressão se propagou para todo o planeta”, declarou à AFP Claude Durand, que o apresentou à França ao traduzir "Cem anos de solidão" no simbólico ano de 1968.
##RECOMENDA##“Os filhos da meia-noite”, um dos primeiros livros do britânico de origem indiana Salman Rushdie, mistura de mito, fantasia e vida cotidiana, não existiria se não houvesse antes "Cem anos de solidão", consideram muitos críticos. Seu estilo foi considerado uma espécie de "realismo mágico", próximo ao do colombiano.
"Com certeza, compartilhamos muitas coisas, mas não apenas ele e eu, e sim muitos escritores. Somos de uma mesma família", a do realismo mágico, explicou há alguns anos o autor de "Versos satânicos". "O que admiro em García Márquez, o que me parece extraordinário em seu jeito de escrever, é que ele vê o mundo como uma aldeia", acrescenta Rushdie.
Bem longe da Colômbia, o chinês Mo Yan, consagrado em 2012 com o prêmio Nobel de Literatura, teve García Márquez como referência. "Ele leu e releu 'Cem anos de solidão' em sua tradução para o chinês", explicou à AFP uma de suas tradutoras para o francês, Chantal Chen Andro.
"O realismo mágico de Mo Yan está relacionado com o do escritor colombiano e com o de William Faulkner, outra de suas influências, quando aborda temas como a infância e sua terra natal, primeiro de maneira realista e, depois, dando asas a sua imaginação, assim como faz García Márquez ao descrever Macondo", seu povoado imaginário, acrescentou.
Faulkner inspirou García Márquez, que falava também de sua paixão por autores como Cervantes e Rabelais, por poetas como Rimbaud e cantores franceses como Leo Ferré e George Brassens. Em Teerã, capital do Irã, outro dos livros de García Márquez, “Notícia de um sequestro”, publicado em 1996, transformou-se em best-seller da noite para o dia.
A razão para isso foi uma mensagem atribuída ao opositor Mir Hossein Mussavi, em prisão domiciliar desde 2011: “Digo àqueles que quiserem entender a minha situação. Leiam ‘Notícia de um sequestro’, de Gabriel García Márquez”.