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A poucas horas do início da votação, o resultado do primeiro turno das eleições presidenciais na França ainda é totalmente incerto. No entanto, teme-se que a possível vitória de candidatos antissistema possa influenciar diretamente a vida de milhares de imigrantes, incluindo brasileiros que moram no país europeu.

Em um ano recorde de candidaturas, os eleitores deverão escolher entre 11 postulantes - um a mais do que em 2012. Contudo, há quatro favoritos que atualmente lideram as intenções de voto: a líder da ultranacionalista Frente Nacional, Marine Le Pen; o representante da direita, François Fillon; o candidato centrista do movimento Em Marcha!, Emmanuel Macron; e Jean-Luc Mélenchon, da esquerda radical.

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Uma das principais promessas de campanha de Le Pen é o combate à imigração, retomando o controle das fronteiras do país. Recentemente, ela prometeu, caso seja eleita, suspender toda a imigração ilegal e impor limites à legal, a fim de conter "uma situação louca e descontrolada". Além disso, a candidata da extrema direita ainda quer aumentar os impostos sobre empresas que contratem trabalhadores estrangeiros.

"Teremos atitudes mais severas do governo francês. Os quatro principais candidatos já se pronunciaram com preocupação em relação aos ataques terroristas provocados por estrangeiros, mas que não têm ligação com brasileiros", explicou à ANSA Clayton Lopes Pegoraro, professor de direito internacional da Universidade Mackenzie.

Segundo ele, em curto prazo, o resultado das eleições "não deve provocar nenhuma mudança referente ao processo e ao tratamento de brasileiros"."O brasileiro, de modo geral, não encontra grandes problemas no exterior para entrada, saída e permanência por causa da própria relação diplomática entre os países", acrescentou.

Independentemente de qual candidato vencer, a mudança no conjunto de regras migratórias da França dependerá da situação econômica do país nos próximos anos, o que poderá resultar em uma redução da mão de obra pesada, que emprega majoritariamente imigrantes.

"As obras em que a gente trabalha têm umas 300 pessoas: dois chefes são franceses, e os outros são todos imigrantes. Essa mulher [Marine Le Pen] não é a favor da imigração legal nem ilegal. Mas, e aí, como vamos fazer? Todos teremos de sair daqui? Francês não trabalha pesado", disse à ANSA o brasileiro Adalberto da Silva Lopes, que mora há 10 anos no país e é responsável por retirar amianto de construções.

Para ele, se os franceses elegerem um candidato com ideologias contra o sistema, haverá grandes problemas para todos que tentam ingressar na nação europeia. "Temos que esperar o resultado porque a gente não pode sofrer antes", acrescentou.

"Nos anos em que estou aqui, o melhor presidente que eu já vi foi o Sarkozy [2007-2012]. Ele diminuiu os impostos, porque aqui o valor é muito alto, mas a vantagem é que a gente paga e vê refletido na saúde, educação, transporte, em avenidas", ressaltou o operário.

Mesmo não havendo dados oficiais precisos sobre o número de imigrantes que moram na França, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que há mais de 28,5 mil brasileiros vivendo no país europeu.

De acordo com o consulado do Brasil em Paris, ainda há um grande número de cidadãos com dupla cidadania, que não aparecem nos registros franceses como estrangeiros. Em entrevista à ANSA, a estudante brasileira Shirley Paiva disse que "não gostava muito de política". "Não acompanhava no Brasil, mas aqui acaba sendo diferente porque não é nosso país", ressaltou ela, que está em Paris há quase um ano e "tem medo do que pode acontecer com os imigrantes brasileiros" caso Le Pen seja eleita.

"Eu fico um pouco apreensiva porque a gente nunca sabe o que pode acontecer. Você sai do Brasil para tentar uma vida melhor, e quando chega a época das eleições aqui dá um pouco de receio.

Nem todos os candidatos são a favor de imigrantes", reforçou a assistente comercial Elizabeth Roche, que mora em Toulouse há cinco anos.

Para o professor Pegoraro, os candidatos de centro seriam os mais adequados, "pelo momento que a França vive e para a manutenção das relações internacionais que o país sempre buscou preservar". Mas a vitória da extrema direita não é vista por ele como prejudicial. "Atualmente, é difícil um país cortar relações com outros. Direita, esquerda, centro, como for. Se fechar o país, todos perdem", finalizou. 

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