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O desemprego tem sido uma das pautas mais abordadas ultimamente. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nos últimos dois anos, o número de brasileiros desempregados quase dobrou. São 12,3 milhões de pessoas sem trabalho. Um recorde desde 2012, quando o IBGE começou a fazer a pesquisa. A grande questão é que com as demissões a pressão sobre quem ainda está contratado aumenta. Os profissionais acabam acumulando as atividades dos ex-colegas, tendo que dar conta de todo trabalho e ainda precisam conviver com o medo de também ser demitidos.

Adilson Silva trabalha como mecânico de refrigeração e reclama do excesso de atividades no trabalho. “Após a demissão de um colega da equipe e de nenhuma nova contratação, meu serviço aumentou. Hoje, além das minhas funções, faço a parte administrativa de relatórios, compras de peças, solicitação de materiais, atendimentos em outras empresas do grupo e etc”, comenta o profissional. O salário também é uma das reclamações do mecânico. “Fui contratado para uma função, agora faço mais de cinco. Já o salário diminuiu em relação ao que recebia quando entrei”. 

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Para a Coordenadora de Recursos Humanos da Espro, Karla Lopes, é muito comum que as empresas exijam mais de seus funcionários e a pressão aumente, isso é uma tendência natural da crise. “A partir do momento que se tem uma demanda de profissionais maior fora do mercado, os que estão dentro consequentemente ficam muito mais pressionados. Isso acontece porque os gestores não querem perder o ritmo do trabalho da empresa. Então, eles privam os funcionários mais antigos e os que se esforçam mais para não comprometer os serviços da companhia. É o famoso profissional faz tudo. Ele até pode ter sido contratado para algo objetivo, mas provavelmente é um dos profissionais que os gestores sabem que vai executar qualquer função”, explica a consultora que trabalha na área há mais de 15 anos. 

Medo do desemprego

Aprender novas atividades e conseguir administrá-las não é o único desafio dos empregados. Além da grande cobrança, o medo de ser demitido tem afetado o trabalho desses profissionais. Em dezembro de 2016, esse medo ficou em 64,8 pontos no índice da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Desde 1996, o resultado não tinha sido tão alto. O indicador vai de zero a cem pontos e, quanto mais alto, maior é o temor. 

Às vezes por medo de perder o emprego, o funcionário se coloca numa posição de capaz, que pode dar conta de tudo, e isso pode ser um problema, diz Karla Lopes. “Nem todo mundo tem habilidades para lidar com diferentes tarefas simultaneamente. A flexibilidade das pessoas que conseguem fazer rotinas simultâneas é muito difícil. Esse funcionário fica tão ocioso que acaba aceitando imposições para poder se manter dentro do mercado”. Ela ainda complementa: “É preciso ter muito cuidado com esse aumento de atividades e cobrança a cima dos limites, isso pode ter consequências no futuro. Não somos só trabalho. Acredito que a população tende a ser uma população doentia por conta dessas pressões”. 

Danos na saúde física e mental

Independentemente da função, todo mundo já se queixou de dores no corpo por conta do trabalho, do estresse e de muito esforço. O mecânico Adilson comenta que depois que suas funções aumentaram, ele sente fortes dores nas costas, nos braços e nas pernas. “Além do cansado físico, chego em casa estressado”.

Em entrevista ao LeiaJá, a fisioterapeuta Rebeka Borba, membra da Comissão de Fisioterapia do Trabalho do CREFITO-1 (Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da 1ª Região), afirma que é importante que as empresas invistam em programas de prevenção e promoção da saúde do trabalhador que envolvem ginástica laboral, pausas no trabalho e programa de qualidade de vida, que visam prevenir doenças como tendinite, queimores nas articulações, dormências e cansaço. 

“No começo essas doenças podem não parecer graves, mas se não tratadas, podem causar até invalidez. A sobrecarga de atividades (movimentos repetitivos, a falta de pausa para descanso, entre outras) favorec o adoecimento e esse adoecimento pode levar a incapacidade total", esclarece a fisioterapeuta. 

Porém, além dos danos na saúde física, existem os danos na saúde mental. Um dos maiores sintomas e o mais conhecido é o estresse. O estresse profissional acontece por vários motivos, inclusive pela dificuldade de equilibrar as demandas, pelas cobranças, pelo falta de relacionamento interpessoal, entre outras.

De acordo com a professora do curso de psicologia da Faculdade Estácio, Quitéria Lustosa, o excesso de trabalho não é sinônimo de qualidade e atrapalha a saúde mental do funcionário. “O estresse é natural, mas pode também ser evitado. O brasileiro precisa se reorganizar, tentar equilibrar as demandas, e tentar encarar a crise como uma oportunidade. Se você olhar como uma função momentânea e ter flexibilidade, as coisas ficam mais fáceis”, revela. 

Já o medo do desemprego pode causar ansiedade, falta de sono e pesadelos. E a longo prazo, doenças como falta de autoestima, fobia social e depressão. “É preciso que o empregado invista em coisas que motivem a autoconfiança. Invista em networking e mostre disposição”, acredita a psicóloga.

Como gerir com o aumento das atividades

“A partir do momento que eu tinha uma programação de atividades e dupliquei, ou aumentou o número de funções, eu preciso gerir o meu tempo. É necessário se organizar, planejar. Procure coisas que ajudem na sua rotina, faça um checklist, comece a usar uma agenda (seja ela virtual ou física)”, aconselha a consultora de RH Karla Lopes. Ela ainda alerta que as responsabilidades dentro da rotina profissional podem prejudicar seu desempenho e imagem. “Se as atividades são novas, o funcionário deve ter uma comunicação com o chefe sempre constante. Caso você não esteja dando conta do trabalho, sinalize ao seu supervisor antes que as coisas desabem e você se dê mal”. 

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