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Não parece exagero dizer que plataformas de streaming e redes sociais mudaram nossa maneira de consumir música. Quando popularizaram o videoclipe, lá no princípio dos anos 1960, os Beatles mal poderiam vislumbrar que o auge daquele formato se daria no século 21, quando áudio e imagem selaram um casamento feliz e sólido. O ano de 2020, no entanto, trouxe o que talvez seja a primeira grande crise para esse matrimônio. A pandemia do novo coronavírus confinou músicos e videomakers em suas casas, por conta das medidas de prevenção à contaminação do vírus, obrigando a produção e a criatividade dos artistas a irem além.

E foram mesmo. Presos em suas casas, artistas têm usado das estratégias mais mirabolantes - às nem tão mirabolantes assim - para continuarem criando sem deixar nenhuma das etapas do trabalho de lado. A quantidade de videoclipes lançada no período da quarentena é uma prova de que o ‘novo’ modelo de consumo da música tem força, e ela é suficiente para driblar até as distâncias físicas e geográficas, sem falar nas dificuldades práticas do processo criativo. 

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Reprodução/Facebook

Mayara Pera já fazia de seu lar um espaço de criação desde 2017. Com os dois filhos ainda bem pequenos à época, essa foi a solução que a cantora encontrou para dar continuidade ao trabalho ao passo que se dedicava à maternidade. No entanto, a quarentena se instalou justamente no momento em que a artista havia decidido entrar em estúdio e não só a gravação de um disco sofreu alterações como a parte imagética de seu trabalho também. 

“Palhaço tinha um destino totalmente diferente antes da quarentena. Fechei com uma pequena equipe para produção do clipe, fiz um roteiro com sua maioria cenas externas , o que no momento que a gente vive seria impossível fazer essas gravações na rua”. Palhaço é o último single lançado por Mayara (no dia 13 de junho), e  chegou devidamente acompanhado de um clipe. A produção sofreu uma reformulação em virtude da pandemia, mas acabou também trazendo um novo tom à criação da artista.

Em meio às reflexões acerca do desenrolar da crise de saúde no mundo e de como ela própria lidaria com a situação, Pera passou cerca de 30 dias maturando o seu fazer artístico. Ela diz que, embora tenha atuado sozinha, esse trabalho foi o resultado de várias pequenas parcerias que se deram em conversas com colegas de profissão e pessoas que compõem sua equipe, como Pedro Gonçalves, seu figurinista. “Como artista, esse momento tem sido uma escola. Me lembro que tava querendo tempo pra  conseguir produzir as coisas sem a correria dos shows e dos compromissos sociais, hoje eu tô com esse tempo, tirei os dias de hoje pra aprender, e para compreender, porque além da música ser um trabalho, é um sentimento, é um ser espiritual pelo qual tenho bastante devoção”.

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Para Mayara, trabalhar ‘sozinha’, confinada em sua casa, tem sido uma rica experiência que além de provar sua própria capacidade tem feito com que ela também reveja a importância do coletivo em suas produções. “Acho que o mais importante nesse processo é a gente entender que é bom demais trabalhar com uma equipe que tem suas funções delegadas e que o trabalho em equipe vai sair muito mais massa, mas a gente também precisa saber que se por algum momento, esse trabalho em equipe não seja possível, temos a capacidade de botar a cabeça pra funcionar e fazer também, porque é o que a gente tem pra hoje e isso é um exercício importante pra nossa capacidade cerebral”.

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O multiartista caruaruense Gabriel Sá também está aproveitando a quarentena para se dedicar aos videoclipes. Durante este período, a impossibilidade de juntar as pessoas e se deslocar por grandes distâncias, fez o cantor se debruçar em trabalhos possíveis de serem desenvolvidos com o  mínimo de participações externas possível. 

Para a produção do clipe de Ser Negro, Gabriel apostou no formato lyric video, em parceria com Jackson Freire, mas também não abriu mão de uma produção que desse ao tema a visibilidade que merece. “A questão (era) mostrar o negro em várias formas, o negro em totalidade de suas belezas, que todo negro tem sua beleza. Por vezes todo mundo acha que ser preto é todo mundo igual, mas existem diferenças assim como qualquer ser humano, existe negro gordo, baixo, alto, de todas as formas como qualquer ser”.

Tentando atender aos protocolos de segurança relativos ao coronavírus, Gabriel contou com apenas uma pessoa para captar as imagens e oito no elenco do vídeo. “Foi bem corrido. Uma pessoa chegava, gravava 30 minutos, a gente higienizava tudo e assim foram com as oito”. O clipe de Ser Negro foi lançado no dia 29 de maio, em comemoração ao aniversário de 34 anos do artista e suas duas décadas de carreira. Mas os fãs  também foram levados em conta na hora de decidir a data de lançamento do trabalho: “Para não deixar o público ocioso por conta de tanto atraso do disco Pássaro Mensageiro - que já era pra tá saindo no começo do segundo semestre -, (foi) pra não deixar o público esperando”. 

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Da quarentena para a vida

Mayara e Gabriel são artistas de estilos bem diferentes, mas ambos têm a mesma opinião quanto a importância dos videoclipes, sobretudo em um período tão atípico quanto esse de quarentena. “Sem previsão de show, a maneira que o artista tem de permanecer ativo é produzindo não somente canções, mas as imagens. Isso vem sendo algo tão forte, que muitas vezes a gente prefere fazer uma chamada de vídeo do que uma chamada de telefone e isso não é diferente com relação ao que a gente consome musicalmente”,  diz a cantora. 

Apostando nisso, Mayara já tem engatilhados outros dois clipes, um com previsão de lançamento ainda para 2020 e o outro para o próximo ano. Além disso, seu canal no YouTube conta com várias outras produções, todas feitas em casa e segundo ela, para “maratonar”. 

Divulgação

Gabriel também acredita que a força dos videoclipes ganhará impulso no pós-quarentena. “A gente sabe que o quanto a música com a imagem hoje em dia ela tem mais acesso.  Acho que agora é que vai fortalecer esse tipo de presença no nosso trabalho porque as pessoas já vinham com esse hábito, você soltar só a música ela tem um alcance e quando você solta com uma imagem a gente alcança outro nível”. O artista já  tem uma série de produções pensadas para os próximos meses. Em julho e agosto chegarão outros dois lyric videos e a previsão do músico é que o disco Pássaro Mensageiro seja lançado no final de 2020. 

 

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