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As novas baixas na equipe econômica jogam luz sobre o fato de que o DNA do governo Bolsonaro não é "verdadeiramente" liberal, na opinião do ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria Integrada, Gustavo Loyola. Essa é a visão, segundo ele, apenas do núcleo do Ministério da Economia. Com a saída dos secretários Salim Mattar, de Desestatização, e Paulo Uebel, de Desburocratização, a pasta já perdeu cinco integrantes em meio à pandemia, que alterou a situação fiscal do País e vem suscitando debates sobre o aumento permanente de gastos.

"A saída de ambos é um sinal ruim de enfraquecimento do Paulo Guedes. O grande temor no mercado é a saída do ministro da Economia e de uma interrupção das suas políticas econômicas", avalia Loyola. A seguir, os principais trechos da entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast.

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A equipe econômica teve mais duas baixas. O que representa essa debandada?

Acho negativo. A verdade é que está ficando claro que o DNA do presidente Bolsonaro não é verdadeiramente liberal. Eu acho que liberal no sentido econômico é o núcleo do Ministério da Economia e um ou outro integrante espalhado em algum ministério. O DNA de Bolsonaro ainda é bem no estilo desenvolvimentista. Outra questão é a de que a grande reforma dos ministérios feita por Bolsonaro causou uma série de problemas do ponto de vista de funcionamento da máquina pública. Tinha espaço para fazer mais.

A saída de mais dois secretários aumenta a preocupação com a permanência de Guedes?

A saída de ambos é um sinal ruim porque parece um enfraquecimento do ministro da Economia. O grande temor no mercado é a saída de Guedes e uma interrupção das suas políticas econômicas. Vale lembrar que o próprio ministro na terça-feira se referiu a pessoas do governo que querem, por exemplo, desrespeitar o próprio teto de gastos em um momento de situação fiscal bastante delicada. Isso gera grandes dúvidas.

Quais dúvidas?

Será que a política fiscal vai voltar ao normal no ano que vem e teremos austeridade? Ou nós entramos em um novo ritmo de crescimento de gastos e desarranjo fiscal? Vamos lembrar que esse desarranjo fiscal é que foi a ruína do próprio governo da ex-presidente Dilma Rousseff.

E quanto ao teto de gastos? É factível? Quais são os maiores riscos fiscais?

O abandono do teto dos gastos seria desastroso e um péssimo sinal. Eu acho que tem justificativa para o aumento temporário de gastos em 2020. Ninguém é cego à realidade. Agora, a gente tem de entrar em um regime de normalidade no ano que vem. Não dá para ficar criando furos no teto. Se um dia você diz que o teto pode ser excedido com gastos de infraestrutura, no outro dia, será educação, saúde. Sempre tem uma boa justificativa para aumentar gastos em um país que só tem carências em todos os lados. O Brasil é carente de tudo.

Qual a consequência de furar o teto de gastos?

Vai passar claramente uma ideia de que nós podemos ter entrado numa trajetória insustentável da dívida pública. Se houver uma percepção de que isso pode ocorrer, a gente fica na antessala de uma crise econômica. De repente, podemos ter fuga de capitais, aumento da inflação, uma série de desarranjos macroeconômicos. O aumento da incerteza resultante de tudo isso vai deprimir ainda mais o crescimento econômico. Vai ser um quadro dantesco não só para as contas públicas, mas para a economia.

Como o sr. avalia os sinais de retomada da economia?

No curtíssimo prazo, os indicadores de alta frequência têm surpreendido positivamente. Outro aspecto que temos visto é que os programas de transferência de renda do governo têm contribuído para manter a massa de renda, principalmente das famílias de menor renda. Isso contribui para uma menor queda do PIB no segundo trimestre e, portanto, uma manutenção maior da atividade. A recuperação tem acontecido. Agora, qual o fôlego da recuperação é que nós não sabemos. De fato, depois de uma forte queda, a recuperação ocorre, mas e daí? A economia vai voltar a crescer? Tivemos três anos, de 2017 a 2019, com crescimento da ordem de 1% do PIB, que foi insuficiente para recuperar o que tínhamos antes da crise de 2015 e 2016.

Depois do fim desses auxílios do governo, o sr. acredita que a atividade econômica vai passar por uma ressaca?

Sim, porque estão ajudando a manter a renda. Mas a ressaca não será tão grande provavelmente porque, diante da incerteza, houve aumento de poupança das famílias, em estratos da sociedade onde isso é possível, que pode servir de colchão quando os auxílios acabarem. Mas o que a crise de 2015-2016 nos ensina é que a recuperação da economia depende da recuperação do emprego, principalmente dos formais. E, para tal, é preciso recuperar o investimento, que, por sua vez, depende de um quadro econômico mais previsível. Por isso, é necessário não tolerar nenhum tipo de afrouxamento da política fiscal.

O sr. assinou uma carta ao lado de outros ex-BCs e ex-ministros da Fazenda para alertar sobre a questão ambiental. Como o sr. vê a reação do governo Bolsonaro? É efetiva?

É muito cedo para avaliar. Infelizmente, o governo Bolsonaro também não tem DNA ambientalista. Ao contrário, ele vem em tendências fortemente negacionistas. Mas a manifestação da sociedade e das instituições é importante porque limita os danos e, de alguma forma, mitiga um pouco a ausência do governo. O discurso do governo está menos estridente, mas eu ainda não me convenci de que o governo tenha adotado uma política ambiental responsável.

O economista e ex-presidente do Banco Central (BC) Gustavo Loyola afirmou nesta quinta-feira que o índice de difusão da inflação se mantém num nível muito elevado e que a perspectiva inflacionária de 2013 e 2014 "embute a ideia de que 4,5% não é mais a meta buscada". De acordo com Loyola, o governo parece dar-se por satisfeito com a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) abaixo de 6%. "Os instrumentos de combate à inflação estão cada vez mais heterodoxos", criticou. Segundo ele, a política monetária tende a ficar "atrás da curva", entregando "menos do que deveria e mais tardiamente". Loyola prevê que a inflação fique entre 5,8% e 6% pelos próximos anos.

Conforme o economista e ex-presidente do BC, a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de aumentar em 0,25 ponto porcentual a taxa Selic na última reunião foi lida como "dowvish" pelo mercado. "Acreditamos num ciclo de elevação de juros de 100 pontos, insuficiente", afirmou, em evento organizado pela Coface.

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Na análise de Loyola, a ata da reunião, divulgada nesta quinta-feira pelo BC, mostra um ciclo de aperto monetário, mas com muita hesitação. O economista e ex-presidente da instituição financeira afirmou que os canais de transmissão de política monetária do BC estão obstruídos e citou o mercado de crédito e o de câmbio. "Temos parte importante do mercado de crédito no Brasil inelástica à política monetária do BC. O crédito é um canal de transmissão de política monetária que está entupido", afirmou.

Loyola disse que a economia brasileira mostra dados mistos de recuperação e que o governo dá sinais de que não sabe lidar com cenário de baixo crescimento e alta inflação. "Vemos uma postura míope do governo (sobre combate à inflação e estímulo ao crescimento econômico) agravada pela antecipação da corrida presidencial", completou.

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