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Com colaboração de Renato Torres

A cidade de Salvador, na Bahia, tem vivido um fenômeno incomum nas últimas semanas. No centro histórico da cidade, a população vem sendo atacada por morcegos -  mais de 30 pessoas foram mordidas. As causas dos ataques ainda estão sendo investigadas. Entretanto, os indícios apontam que há intervenção humana no ocorrido.

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Para o doutor em Biologia e professor do Departamento de Zoologia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Enrico Bernard, é possível inferir a participação humana no desequilíbrio. Uma pesquisa recente realizada por Bernard no Parque Nacional do Catimbau, caatinga de Pernambuco, revelou que a espécie de morcego Diphylla ecaudata, popularmente conhecida como morcego-vampiro-de-pernas-peludas, passou a se alimentar de sangue humano – antes, a  alimentação do animal era exclusivamente de aves.

Apesar das diferenças nos casos de Salvador e Pernambuco, Bernard visualiza a provável influência do homem em ambas. “No caso de Catimbau, essa redução de presas [as aves] se deu muito pela caça e pela alteração do ambiente natural. No caso de Salvador, as cidades estão ocupando os espaços naturais e várias dessas construções oferecem abrigo para morcego”, explica o professor.

Para o biólogo, é preciso que a discussão sobre a intervenção no meio ambiente seja mais presente. “Todas essas questões precisam ser discutidas, a perda da área natural e como isso afeta os humanos. Tem que se discutir como interagir com a fauna, como conviver com os animais”, complementa. 

A equipe do LeiaJá.com foi até Salvador conhecer de perto o problema. No vídeo abaixo, a Prefeitura de Salvador comenta a campanha que tem sido feita para a vacinação de animais e o que acontece com os morcegos capturados. A reportagem também foi à Rua dos Ossos, no centro histórico, o local onde mais ataques foram registrados.

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Recife

Enrico Bernard visualiza uma intervenção descontrolada no espaço natural no Recife e em Pernambuco. Entretanto, reforça que não há motivos para a população entrar em pânico e começar a temer os morcegos.

“O que aconteceu em Salvador não quer dizer que vai acontecer aqui, pode ser algo de um bairro só ou de uma área dentro de um bairro”, justifica. O especialista destaca também que Recife ainda tem muitas áreas verdes e animais de tração, que acabam sendo preferência dos morcegos.

Ele ainda acrescenta que há espécies que são beneficiadas com a urbanização. “Você tem uma fauna de morcegos que é capaz de sobreviver dentro de cidades e algumas espécies são favorecidas, por exemplo, pela iluminação pública, que atrai insetos. Também existe grande número de espécies que não toleram urbanização. Você tem dois lados: favorecidas pela urbanização e prejudicadas”, disse Bernard. 

Deixar a população em pânico pode se reverter em grandes prejuízos. A avaliação do professor é que a primeira consequência quando ocorrem casos como o de Salvador é que a população começa a matar os animais. O Coordenador do Centro de Controle de Zoonoses de Salvador, Aroldo Carneiro, diz não ter recebido informações do tipo na capital baiana, mas o centro já foi acionado nas últimas semanas por causa de animais encontrados mortos.

Segundo Enrico Bernard, isso é muito ruim porque "os morcegos prestam serviços ambientais super importantes para a gente e para um grupo rico de espécies. Existem mais de 180 espécies de morcego no Brasil e só três se alimentam de sangue, sendo que duas são raras e praticamente não ocorrem dentro de cidades. Todo um conjunto de espécies acaba pagando pelo descontrole de uma espécie". 

Os morcegos participam da polinização de plantas utilizadas na produção de bebidas como tequila e marguerita – por isso o símbolo da Bacardi é um morcego. O mamífero também poliniza a planta da castanha do baru e há várias espécies de cacto na caatinga que são exclusivamente polinizadas por tais animais. 

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