Roma (AE) - O novo primeiro-ministro da Itália, Enrico Letta, anunciou seu governo neste sábado, um gabinete bipartidário de políticos e especialistas, cujo trabalho será tirar o país de uma recessão econômica profunda e introduzir mudanças institucionais importantes, como a reforma da lei eleitoral.
Letta anunciou seu novo gabinete depois de três dias de negociações frenéticas, que se seguiram à sua nomeação como primeiro-ministro indicado na quarta-feira. O gabinete, que deve ser empossado amanhã, precisa ganhar um voto de confiança em ambas as casas do Parlamento - votos que devem vir no início da próxima semana.
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Nos principais postos estão Fabrizio Saccomanni, vice-presidente do Banco da Itália, que será o ministro da Economia, e Enrico Giovannini, diretor da agência de estatísticas Istat, que assumirá como ministro do Trabalho. Saccomanni é próximo do presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi. Emma Bonino, ex-comissária europeia, será ministra das Relações Exteriores e o atual ministro para Assuntos Europeus, Enzo Moavero Milanesi, permanecerá no cargo.
Em um sinal da natureza bipartidária do novo governo, Angelino Alfano, chefe do partido Povo da Liberdade, do ex-premiê Silvio Berlusconi, será o vice-primeiro-ministro.
Letta, de 46 anos, já foi ministro em três ocasiões e é muito respeitado na Europa. O gabinete contará também com rostos novos, como o de Cecile Kyenge, que se tornará a primeira pessoa negra a ocupar um ministério na Itália, e de Flavio Zanonato, o prefeito esquerdista de Pádua, o centro das pequenas empresas que formam a estrutura industrial do país.
O exercício de equilíbrio de Letta - a Itália não tem uma grande coalizão do tipo desde 1946 - é uma última tentativa para evitar que o país volte às urnas após o resultado inconclusivo das eleições gerais realizadas em fevereiro. Na ocasião, os votos ficaram divididos entre o Partido Democrático, de centro-esquerda, o Povo da Liberdade e o Movimento Cinco Estrelas, do ex-comediante Beppe Grillo. Com um nova votação, a Itália estaria sujeita a mergulhar numa crise política que provavelmente não seria perdoada pelos investidores internacionais e poderia comprometer o acesso do país aos mercados de bônus soberanos.
"Nosso país e a Europa não podiam esperar mais" para a formação de um governo, comentou o presidente italiano, Giorgio Napolitano após Letta anunciar seu gabinete.
A tarefa de Letta não será fácil e são muitos e grandes os desafios que ele enfrentará. A força de seu governo - ou seja, a clara exclusão da antiga e ainda influente guarda política do país - também é uma desvantagem. Berlusconi e políticos esquerdistas de longa data ainda têm campo de manobra em seu partidos e podem acabar minando o novo governo, em especial na hora de votar questões sensíveis, como um polêmico imposto sobre propriedades.
"Este é um governo jovem, qualificado e com boa química política. Muitos são de uma geração que não adota a política de confrontação e guerra civil que marcou a era de Berlusconi", diz Marcello Sorgi, editorialista do jornal La Stampa. "Mas essa é também a maior fraqueza do novo governo."
Outro problema, segundo Sorgi, tem a ver com as divisões dentro do Partido Democrático de Letta, cujos esforços de formar um governo desde fevereiro trouxeram à tona grandes divergências entre facções em conflito. Pier Luigi Bersani, que liderou o partido até as eleições, renunciou recentemente após a legenda falhar também na eleição de seu candidato a presidente.
Além disso, a coalizão de Letta vai enfrentar forte oposição no Parlamento dos representantes do Movimento Cinco Estrelas, de Grillo. A aliança, que conquistou um quarto dos votos nas eleições, tem levantado muitas das antigas frustrações dos italianos, principalmente dos mais jovens, com a classe política do país e seus excessos. Em seu blog, Grillo chamou a nova coalizão de "obscena".
Já a situação econômica da Itália é uma das mais graves em décadas. Embora suas contas fiscais estejam em melhor forma do que as da maioria dos países avançados, a taxa de desemprego local atingiu o recorde de 11,7% em janeiro e a dívida pública italiana, em 126% do Produto Interno Bruto (PIB), há anos é vista com muita preocupação pelos parceiros da zona do euro. O maior problema, como disse Saccomanni na semana passada durante as reuniões do Fundo Monetário Internacional (FMI) em Washington, é o crescimento fraco da economia. Só as políticas do novo governo podem cuidar disso. As informações são da Dow Jones.