Os líbios celebram nesta quarta-feira o 10º aniversário da revolução que derrubou Muamar Khadafi em 2011 e que, desde então, deixou o país afundado em uma guerra civil.
Um acordo político assinado em 5 de fevereiro provocou, no entanto, a esperança de pacificação do país, que conta com as maiores reservas de petróleo do continente africano.
Nas principais cidades da Tripolitânia, a grande região oeste, as autoridades locais planejam várias cerimônias, com discursos, música e fogos de artifício.
O líder do Governo de Unidade Nacional (GNA), Fayez al Sarraj, reconhecido pela ONU, acompanhou na terça-feira à noite (16) na Praça dos Mártires de Trípoli a cerimônia que acendeu a tocha para as celebrações oficiais.
Apesar das restrições sanitárias contra a covid-19, centenas de pessoas compareceram ao evento com bandeiras e cantaram músicas patrióticas.
As principais celebrações acontecerão nesta grande esplanada no coração da capital, antes chamada "Praça Verde" e onde Khadafi gostava de pronunciar discursos.
Na terça-feira também foi organizado um primeiro desfile militar em Tajura, nas proximidades de Trípoli.
Nos últimos dias, a capital do país, que tem quase metade da população líbia, passou por reformas, e as ruas receberam faixas, arcos luminosos e decorações.
As fachadas das casas foram pintadas e equipes da Companhia Nacional de Obras Públicas reforçaram os sinais de trânsito nas ruas e substituíram os semáforos.
Nas esquinas, os vendedores ambulantes oferecem balões com as cores nacionais e a bandeira da independência da Líbia de 1951, assim como a bandeira berbere, emblema cultural e identitário de parte da população líbia.
As autoridades do leste do país, região controlada pelo marechal Khalifa Haftar, não anunciaram nenhum evento, nem mesmo em Benghazi, berço da revolução e segunda maior cidade do país do norte da África.
- "Catástrofe" -
"Sair para celebrar o aniversário da revolução seria uma loucura, porque esta revolução foi uma catástrofe que desperdiçou anos de estabilidade", afirmou Jamis Al Sahati, ativista radicado em Cirenaica, a grande região leste do país.
Dez anos depois da revolução e da intervenção de apoio da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), que terminou em outubro de 2011 com a morte do "Guia" Khadafi, a Líbia permanece dividida entre dois poderes antagônicos e sofre com a interferência estrangeira.
"Ainda não se fez justiça para as vítimas de crimes de guerra e graves violações de direitos humanos, incluindo assassinatos, desaparecimentos forçados, torturas, deslocamentos forçados e sequestros cometidos por milícias e grupos armados", lamentou na terça-feira a organização de defesa dos direitos humanos Anistia Internacional.
O dia a dia dos líbios foi marcado durante anos pela falta de dinheiro e de gasolina, por cortes de energia elétrica e por uma inflação galopante.
Instalado em Trípoli em 2016 após a mediação da ONU, o GNA tem o forte apoio da Turquia.
O governo opositor, liderado por Haftar e estabelecido em Cirenaica, tem o apoio dos Emirados Árabes Unidos, do Egito e da Rússia.
Após o fracasso da ofensiva de Haftar para tentar controlar Trípoli em 2020, foram registradas várias tentativas de mediação. A ONU conseguiu em outubro um acordo de cessar-fogo que, ao contrário dos anteriores, é respeitado.
As negociações entre as forças líbias nos últimos meses terminaram em um acordo para a organização de eleições presidenciais em dezembro de 2021.
Em 5 de fevereiro, foi designado um governo de transição, liderado pelo primeiro-ministro interino, Abdul Hamid Dbeibah, e um Conselho Presidencial transitório encabeçado por Mohamed al Menfi.