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O "Ocean Viking", um navio de resgate da ONG europeia SOS Méditerranée, resgatou outros 88 migrantes no mar nos últimos dias, depois de ter socorrido 44 pessoas na última quinta-feira, disse a organização no domingo.

Com um total de três operações desde quinta-feira, com quatro barcos resgatados, o "Ocean Viking" ajudou 132 pessoas no total, entre elas 9 mulheres e 40 menores, informou um porta-voz da SOS Méditerranée.

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Esses resgates, que ocorreram principalmente em uma zona de busca e salvamento perto de Malta, na costa da Líbia, incluíram três barcos de madeira e um de fibra de vidro, que tinham sido infiltrados por água e combustível.

Entre os resgatados estão líbios, sudaneses do sul, egípcios, gambianos, tunisianos e sírios.

Em 1º de maio, o "Ocean Viking" desembarcou na Sicília, na Itália, 236 migrantes resgatados do Mediterrâneo.

Depois, o navio passou várias semanas em um dique seco em Nápoles para fazer reparos.

Recentemente, a ONU solicitou que a Líbia e a União Europeia (UE) reformem suas operações de busca e resgate no Mediterrâneo, alegando que suas práticas atuais privam os migrantes de seus direitos e dignidade, quando não os levam à morte.

Desde o início de 2021, 866 migrantes perderam a vida tentando cruzar o Mediterrâneo para chegar à Europa, segundo dados da Organização Internacional para as Migrações (OIM, uma agência da ONU).

A SOS Méditerranée afirma, por sua vez, ter ajudado mais de 30.000 pessoas desde fevereiro de 2016, primeiro com o navio "Aquarius" e depois com o "Ocean Viking".

Dois sírios, ex-membros do serviço secreto do regime de Bashar Al Assad, foram acusados de crimes contra a humanidade na Alemanha, anunciou nesta terça-feira (29) o Ministério Público Federal.

A decisão abre caminho para o primeiro julgamento no mundo de autoridades sírias pelos abusos cometidos sob o regime de Assad desde que o início do conflito no país, em 2011, informou a ONG alemã ECCHR, que prevê que a audiência aconteça no início de 2020.

Ambos, apresentados pela imprensa como Anwar Raslan e Eyad al Gharib, foram detidos em fevereiro, de acordo com o escritório do MP na cidade de Karslruhe (sudoeste).

No mesmo dia das detenções, um terceiro suspeito, também sírio, foi detido na França, afirma o comunicado do MP.

Os dois homens detidos na Alemanha, sobretudo Anwar Raslan, são suspeitos de desempenhar um papel ativo em uma prisão de Damasco em que foram cometidos atos de tortura.

Anwar Raslan comandava a prisão, na qual, segundo o MP, ao menos 4.000 pessoas sofreram torturas do fim de abril de 2011 ao início de setembro de 2012.

"Pelo menos 58 personas morreram em consequência dos abusos", afirmou o Ministério Público.

Anwar Raslan, ex-integrante da direção do serviço secreto sírios, desertou do regime de Assad en 2012 e entrou na Alemanha, como refugiado, dois anos depois.

Ainda chocado com sua repentina expulsão da Turquia, Mohammad Hassan espera na fila do posto de fronteira no norte da Síria em guerra, preocupado com o destino que o espera em seu país natal.

"Eu não conheço mais nada deste país", resume o jovem de 22 anos com o rosto triste, vestindo uma jaqueta preta e boné.

Após cerca de sete anos no exílio, foi enviado de volta no final de julho - com apenas o que tinha na mochila - para a Síria que ele havia deixado quando era adolescente.

Dezenas de outros na mesma situação aguardam no posto fronteiriço de Bab al-Hawa, forçados a abandonar a vizinha Turquia por causa de uma operação em Istambul contra aqueles que as autoridades turcas descrevem como migrantes "irregulares".

Sem poder se defender ou explicar seu caso, o jovem irá para Idlib, província do noroeste da Síria dominada por jihadistas e alvo diário de bombardeios. Idlib escapa ao controle do regime sírio.

"Minha família está em Aleppo, mas não posso ir para lá", diz ele, enquanto a segunda maior cidade da Síria, a apenas algumas dezenas de quilômetros de Bab al-Hawa, é controlada pelo regime.

Os jovens sírios que retornam para casa temem ser alistados para o serviço militar obrigatório e ser enviados para a frente de combate. Também temem as prisões arbitrárias denunciadas pelas ONGs.

A guerra na Síria, que começou em 2011 depois da sangrenta repressão a protestos pró-democracia pelo regime de Bashar al-Assad, já provocou mais de 370.000 mortos e deslocou mais da metade de sua população.

Com mais de 3,5 milhões de refugiados, a Turquia recebe mais sírios deslocados pelo conflito do que qualquer outro país do mundo.

- "Eles mentiram" -

Hassan vivia em Istambul, mas sem o devido visto. Desde 12 de julho, as autoridades turcas prendem em massa imigrantes estrangeiros "irregulares" na cidade, num contexto de crescente sentimento antimigrante.

Mais de 6.000 pessoas, incluindo sírias, foram presas em duas semanas, segundo o governo.

O ministro do Interior, Süleyman Soylu, negou que os sírios estão sendo deportados para o seu país, assegurando que são enviados para campos de refugiados e que alguns optam por voltar voluntariamente.

As ONGs, no entanto, acusam as autoridades de forçar centenas de sírios a assinar documentos certificando que estavam retornando voluntariamente.

"A Turquia diz que ajuda os sírios que querem voltar voluntariamente ao seu país. Mas ameaça prendê-los até que concordem em voltar. Forçá-los a assinar documentos e libertá-los em uma zona de guerra não é voluntário ou legal", acusou Human Rights Watch.

Hassan viveu essa experiência. Em várias ocasiões, tentou regularizar sua presença em Istambul, obtendo o "documento de proteção temporária", mas as autoridades "pararam de entregá-los aos sírios", diz.

Ele acabou sendo preso. Depois de mais de uma semana na prisão, recebeu documentos para assinar. Foi dito a ele que era para ficar legalmente na Turquia. "Eles mentiram para nós", diz o jovem.

"No dia seguinte, nos colocaram em ônibus e nos mandaram de volta para a Síria".

Na quinta-feira, a oposição síria no exílio afirmou ter recebido garantias das autoridades turcas de que não haveria deportações.

- Sem família -

Mas as expulsões são diárias, principalmente para os sírios que entraram ilegalmente na Turquia, disse o porta-voz do posto de fronteira de Bab al-Hawa, Mazen Allouche.

Desde o início de julho, mais de 4.400 sírios foram repatriados.

Na sala de chegadas em Bab al-Hawa, Louai Mohamed, de 23 anos, também está chocado com sua partida inesperada, após ter sido transportado para a fronteira no meio da noite.

"Eu não sei como vou começar uma nova vida aqui", diz o jovem, que retorna pela primeira vez à Síria em quatro anos.

Vivendo em Antalya, no sul da Turquia, onde trabalhava em um restaurante, foi preso quando acompanhava um amigo ferido no hospital depois de uma briga com turcos.

"Eles nos trouxeram ao posto", diz ele, assegurando que foi transferido para um centro de detenção onde já havia cerca de 350 estrangeiros, incluindo afegãos. Ele vai tentar chegar a sua cidade natal de Minbej (norte).

Se encontrar um emprego lá, terá que viver longe dos seus parentes. "Minha família não está na Síria", diz ele. "Dois dos meus irmãos ainda moram na Turquia".

Cerca de 300 sírios acusados de pertencerem ao grupo Estado Islâmico (EI) foram libertados, anunciou a administração semi-autônoma curda na Síria, indicando que a medida afeta aqueles que "não têm sangue nas mãos".

Sua libertação, no sábado (2) à noite, ocorreu após um pedido dos líderes tribais e representantes locais, informou a adminitração curda em um comunicado.

Não é a primeira vez que as autoridades curdas realizam tais solturas, mas "desta vez trata-se de um número grande", disse, neste domingo (3), o diretor do Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH), Rami Abdel Rahman.

"Todos os prisioneiros foram libertados no sábado", indicou à AFP.

De acordo com o comunicado curdo, "283 homens suspeitos de pertencerem ao EI, mas cujas mãos não estão manchadas de sangue, foram libertados".

"Eles se afastaram do [bom] caminho um dia, violaram as tradições da nossa sociedade síria, infringiram a lei. Mas, mesmo se afastando [do caminho], continuam a ser os nossos filhos sírios, e nós devemos estender a eles a mão da fraternidade e misericórdia", acrescenta o texto.

As libertações ocorreram em várias regiões controladas pelos curdos no norte e nordeste da Síria, em Manbij, Raqa e na província de Deir Ezzor, aponta o comunicado, publicado no site das Forças Democráticas Sírias (FDS), na linha de frente da luta contra o EI na Síria.

Em um campo de deslocados no norte da Síria, dezenas de adultos e adolescentes se reúnem para ver as transmissões do Mundial da Rússia em uma grande barraca equipada com projetores.

Desde 14 de junho é o mesmo ritual. Em um acampamento da cidade de Ain Issa, 50 km de Raqa, a ex-"capital" do grupo Estado Islâmico, os torcedores de futebol se reúnem para ver os jogos e fugir do calor.

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Depois de sete anos de guerra, o Mundial representa um breve alívio para suas preocupações e o dia a dia no acampamento.

A barraca para as transmissões das partidas foi montada por iniciativa de uma associação de caridade local.

"É uma iniciativa muito boa poder assistir o Mundial em um acampamento. Permite atenuar o mal-estar", afirma Abdullah Fadel al Obeid, um ex-jogador de futebol.

"A gente se diverte acompanhando as partidas. Todo mundo gosta de esporte", acrescenta, o sírio de cerca de 30 anos e que fugiu há mais de um ano de Maskana, subúrbio de Aleppo, quando o regime sírio lançou uma ofensiva contra os jihadistas do EI.

- Coisa de infiéis -

Abddulah Fadel al Obeid conta como em sua localidade natal os jihadistas prendiam os jogadores alegando que o futebol era uma "tradição própria dos infiéis".

"Graças a Deus, nos livramos disso e podemos ver as partidas em liberdade. Apesar das circunstâncias difíceis, estamos felizes", comenta.

Torcedor da equipe egípcia "Faraós", ele lamenta a derrota do Egito ante o Uruguai (1-0) e a ausência do craque Mohamed Salah, ídolo no mundo árabe. "Eles o estão guardando para a próxima partida", afirma.

O entusiasmo é a única coisa que alegra este acampamento sem decorações esportivas e onde estão abrigados 13.000 deslocados, segundo a ONU.

Na barraca, os filhos se sentam junto aos pais, alguns sobre almofadas, outros em cadeiras improvisadas.

Do lado de fora, Maabad al Mohamad, de 23 anos, comenta que este Mundial acontece em um momento extremamente difícil de sua vida.

O rapaz vive no acampamento há mais de um ano, depois de ter fugido de Raqa, sua cidade natal.

"Sentimos falta de nossos amigos, da animação de vermos as partidas juntos", lamenta.

Maabad se recorda do Mundial do Brasil-2014, que acompanhou em sua cidade. Na ocasião, os membros do EI regularmente faziam batidas nos bares e obrigavam os torcedores de futebol a volta para casa.

"A guerra nos tirou tantas coisas boas, como o esporte", lamenta o torcedor incondicional da seleção brasileira.

Com mais de 350.000 mortos, o conflito sírio começou em 2011 com a repressão de manifestações pacíficas, se tornou cada vez mais complexo com múltiplos atores e potências estrangeiras intervindo militarmente no país.

Milhões de sírios tivem de se exilar.

- Tédio total -

Abdullah Abdel Baset, 47 anos, é fanático por futebol e está ativamente envolvido na vida esportiva dos jovens do acampamento de deslocados sírios, onde formou várias equipes.

A instalação de um videoprojetor preenche, segundo ele, o vazio e o tédio e permite "esquecer alguns de seus problemas".

Mas o entusiasmo deste ano não é o mesmo dos Mundiais anteriores, lamenta.

"Antes havia um grande entusiasmo, mas agora as pessoas quase não aplaudem, a não ser que se marque um gol", explica.

"A guerra afetou esta geração, privando-a dos esportes por sete anos", acrescenta.

Mas Abdullah conserva um pouco do otimismo para o futuro. "Esperamos ver o próximo Mundial em nossas casas".

A Jordânia anunciou neste domingo (7) que aceitou um pedido da ONU para facilitar o fornecimento de ajuda humanitária a dezenas de milhares de sírios bloqueados em uma zona desértica na fronteira entre os dois países.

O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores, Mohamed al-Kayed, detalhou que esta operação aconteceria somente uma vez e a ajuda seria entregue do território jordaniano com a ajuda de uma grua.

Mas não deu detalhes sobre o tipo de ajuda nem a data que pode ser entregue.

Segundo a ONU, entre 45 mil e 50 mil refugiados, majoritariamente mulheres e crianças, vivem perto do bloqueio de Rukban, no território sírio.

A situação humanitária piorou consideravelmente nesta área desde um atentado suicida em junho de 2016, realizado pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI) contra o Exército jordaniano, que perdeu sete soldados.

Depois do atentado a Jordânia fechou a sua fronteira com a Síria, declarando-a "zona militar", e proibiu temporariamente a passagem de qualquer ajuda para campos precários.

Em outubro, a Jordânia pediu que as ajudas destinadas a esses refugiados passassem pela Síria.

"Em Rukban tratam-se de cidadãos sírios em terra síria, portanto é a Síria que deve assumir esta responsabilidade, não a Jordânia", declarou o ministro de Relações Exteriores jordaniano, Aymane Safadi.

Mais de 650 mil pessoas estão registradas na agência da ONU para os refugiados (Acnur) na Jordânia, país que compartilha 370 quilômetros de fronteira com a Síria. Mas as autoridades jordanianas calculam seu número em um milhão.

Mais de 600.000 sírios deslocados em consequência da guerra retornaram para suas casas entre janeiro e julho de 2017, anunciou a Organização Internacional para as Migrações (OIM).

Um total de 84% dos 602.759 sírios eram deslocados internos, que deixaram suas cidades mas não haviam abandonado o país, informa um comunicado da OIM.

Os demais 16% são sírios que buscaram refúgio em países fronteiriços, como Turquia, Líbano, Jordânia e Iraque, e retornaram ao país, indicou a OIM.

Em 2016, metade dos retornos aconteceu na província de Aleppo e este ano se observa a mesma tendência.

De acordo com a OIM, 67% dos deslocados que retornaram para suas casas desde o início de 2017 o fizeram na província de Aleppo (405.420 pessoas), 27.620 em Idlib, 45.300 em Hama, 21.346 em Raqa, 21.346 nos subúrbios de Damasco e 27.861 no restante do país.

Mais de seis milhões de sírios continuam deslocados no país e mais de cinco milhões se encontram refugiados no exterior, recordou a OIM.

Fotos de refugiados sírios vestindo lingerie estão circulando nas redes sociais. As imagens foram feitas por soldados turcos que obrigaram os homens a vestir as roupas femininas e posar ao lado de veículos militares. O jornalista turco Ahmad Alkhatib foi quem descobriu e publicou as imagens. Em um post no Twitter, também foi divulgado um vídeo da ação dos militares.

"Mais uma vez, soldados turcos insultam alguns dos sírios que tentam entrar na Turquia. Os sírios continuam sendo humilhados", escreveu Alkhatib em sua postagem. As imagens mostram três homens jovens usando soutiens e calcinhas enquanto os soldados os ameaçam com fuzis, pedindo para que parem de chorar e perguntando se eles ainda vão voltar a Turquia.

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Temendo um incidente diplomático internacional, o governo turco se manifestou rapidamente nas redes sociais, divulgando imagens da ajuda humanitária que o país dedica aos sírios e confirmando, em comunicado oficial, a informação antecipada pela imprensa da Síria de que os três soldados foram presos e que “esse tipo de comportamento não é tolerado no exército daquele país”.

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As Nações Unidas advertiram nesta terça-feira sobre a situação "desesperadora" dos refugiados sírios, um dos aspectos abordados pela conferência de dois dias organizada entre a ONU e a União Europeia (UE) em Bruxelas para discutir o futuro da Síria e a ajuda internacional.

"A situação está ficando vez mais desesperadora", disse em um comunicado o alto comissário da ONU para os refugiados, Filippo Grandi, que celebrou as doações "já realizadas", mas advertiu que "elas não respondem na realidade às necessidades".

As agências da ONU para os Refugiados (ACNUR) e para o Desenvolvimento (PNUD) indicaram que a ONU recebeu apenas 433 milhões de dólares dos 4,63 bilhões considerados necessários para ajudar em 2017 os cinco milhões de refugiados que vivem no Egito, Iraque, Jordânia, Líbano e Turquia.

"Sem fundos adicionais, todas as áreas serão limitadas neste ano", alertam no comunicado. De acordo com Grandi, "já estamos vendo crianças que não podem ir à escola, famílias que não podem ter acesso a um refúgio adequado ou cobrir suas necessidades básicas".

A ajuda da ONU também serve para atender aos cerca de 4,4 milhões de habitantes dos países vizinhos, cujas vidas são afetadas pela presença de um grande número de refugiados. "A história é a mesma em toda a região", disse Helen Clark, administradora do PNUD.

Esperava-se que a conferência, à qual foram convidados mais de 70 países e organizações internacionais, servisse para fazer um balanço sobre as promessas e doações feitas pela comunidade internacional em fevereiro de 2016 durante um encontro similar em Londres. Na época, foram prometidos cerca de 11 bilhões de dólares em ajuda e 41 bilhões de dólares em empréstimos com taxas de juros reduzidas e a vários anos.

Mas a ONU fechou o ano de 2016 sem financiamento para quase a metade de seus programas relacionados ao conflito sírio, que descreveu como "a pior catástrofe provocada pelo homem desde a Segunda Guerra Mundial". Nas cidades sitiadas, os poucos hospitais que resistiram aos bombardeios, ou nos campos de refugiados nos países vizinhos, as necessidades são enormes.

Para 2017, as Nações Unidas calculam que precisarão de 8,1 bilhões de dólares, 4,7 bilhões dos quais seriam destinados aos refugiados sírios e às comunidades dos países da região que os acolhem.

Além disso, a União Europeia (UE) espera que a conferência também seja útil para as negociações entre a oposição e o regime sírio, sob os auspícios da ONU, discutindo as possíveis ações para reconstruir a Síria.

Embora a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, tenha admitido há alguns meses que conversar sobre o pós-guerra na Síria poderia parecer um pouco "surreal", afirmou na segunda-feira que estas negociações "não começarão até o início de uma transição política."

Com seu minúsculo tórax aberto, Amena, 9 meses, espera por uma cirurgia de alto risco. Ela é um dos pequenos refugiados sírios que o cardiologista libanês Isam al-Rasi salva toda semana, apesar da falta de recursos para as operações.

"Vi bebês morrer quando seu pai buscava ajuda para coletar fundos para a operação", conta, visivelmente emocionado, o dr. Rasi, o cirurgião cardíaco pediátrico mais conhecido do Líbano. Apesar de sua pesada agenda e um hospital de Beirute, o médico dedica um dia por semana para operar crianças refugiadas sírias ou palestinas no Hospital Hamud, sul do Líbano.

Ele geralmente não aceita pagamento para tentar reduzir os custos da operação para pais sem recursos e foragidos da guerra em seu país. "Isso faz parte do nosso dever, não da nossa profissão. Se há um bebê que tem que ser operado, ele vai ser operado", enfatiza. Agora ele se ocupa de Amena al Helou, que nasceu com o coração com um único ventrículo.

O silêncio em torno do pequeno corpo coberto pelo lençol verde só é quebrado pelo som dos bips do equipamento que controlam as funções vitais da menina. Na sala de espera, os pais de Amena, Jalil e Amira, esperam ansiosos pelo resultado da operação da menor de seus seis filhos.

Eles estão refugiados no Líbano desde 2013 e Jalil, de 39 anos, sustenta sua família trabalhando na agricultura. A família teve de se endividar para pagar a cirurgia.

''Soma exorbitante''

O hospital Hamud oferece aos refugiados tarifas reduzidas nas operações. A ONU banca 75% dos custos, mas as famílias têm que encontrar ainda os 1.800 euros restantes, uma quantia incompatível com seu rendimento.

"Pedi dinheiro emprestado a diferentes pessoas, meu irmão, meu primo, outros familiares", explicou Jalil. "O difícil será devolver, não sei como vamos fazer. Mas não há outra opção. É o ser mais precioso que tenho", acrescentou.

Mais de um milhão de sírios se refugiaram no Líbano desde o princípio da guerra em 2011. O pequeno país de quatro milhões de habitantes tem dificuldades para fazer frente a essa afluência. A Agência da ONU para os Refugiados (ACNUR) fez um apelo para reunir os 134 milhões de dólares para cobrir os gastos do hospital de refugiados no Líbano em 2016, mas so conseguiu 36 milhões.

Hoje em dia, a ONU só consegue cobrir 50% das necessidades em termos de saúde dos refugiados sírios no Líbano, lamenta Michael Woodman, médico e chefe da saúde pública da ACNUR. A situação revolta o dr. Rasi. "Não se pode pedir a um pai que vive numa barraca de campanha que pague 2.700 euros por uma operação, uma soma exorbitante", critica.

Depois de operar Amena co sucesso, o médico atende Ali, um menino de 18 meses que tem problemas de respiração. Ele também nasceu cm um único ventrículo, mas teve que esperar três meses para operar, sofrendo com uma infecção pulmonar.

"A operação atrasou porque tivemos de achar dinheiro", explica o pai, Ahmed Hasun, 29 anos e originário da província de Idlib, no norte da Síria.

A União Europeia anunciou nesta quinta-feira uma ajuda de 348 milhões de euros a 1 milhão de refugiados sírios que vivem na Turquia mediante cartões de pagamento pré-pagos, que lhes permitirão escolher seus gastos a cada mês.

O objetivo é "responder às necessidades essenciais" destas populações em "alimentação, alojamento e educação", destacou em uma coletiva de imprensa Christos Stylianides, comissário europeu de Ajuda Humanitária. O sistema, que já é aplicado em outras regiões do mundo, é "revolucionário", disse o comissário, que o apresentou sob o nome "Rede de Segurança Social urgente".

Três milhões de sírios estão refugiados na Turquia. A UE prometeu em novembro de 2015, após um acordo com a Turquia, uma ajuda de 3 bilhões de euros para enfrentar a crise migratória. Mais de 90% dos refugiados sírios na Turquia vivem disseminados entre a população, e apenas uma pequena minoria permanece em campos.

Com este cartão social pré-carregado terão "a dignidade de escolher" em que poderão gastar o dinheiro, explicou. Bruxelas também apresentou a operação como uma forma de "incentivar" a economia local. A Turquia já tem em andamento um sistema de "bônus" de consumo para os mais pobres.

Os primeiros pagamentos serão realizados em outubro, até cobrir um milhão de refugiados no primeiro trimestre de 2017, disse o comissário.

O Papa Francisco almoçou nesta quinta-feira (11) com um grupo de 21 refugiados sírios que vivem em Roma e que se alojam na sede da associação católica Comunidade de São Egídio, indicou o porta-voz do Vaticano, Greg Burke.

Os convidados são as famílias levadas para a Itália depois da visita, em abril passado, do papa na ilha grega de Lesbos, local emblemático do drama dos refugiados do Oriente Médio tentando chegar à Europa.

Uma das famílias viajou a bordo do avião papal e a outra chegou da Grécia em meados de junho. "Tanto os adultos quanto as crianças tiveram a oportunidade de falar com Francisco e contar sobre o inicio de sua nova vida na Itália", contou Burke em um comunicado.

As crianças presentearam o papa com um caderno com seus desenhos e Francisco deu a elas brinquedos e outros presentes. O papa Francisco defende repetidamente a acolhida de refugiados pela Europa, mesmo que boa parte dos europeus se sintam reticentes em fazer isso.

Yusra Mardini nadou por sua vida quando fugiu da Síria, e, hoje, nada por uma medalha no Rio de Janeiro. Juntamente com Rami Anis, ela representa os refugiados na natação olímpica.

O motor do bote inflável no qual cruzava da Turquia para a Grécia com 30 pessoas a bordo parou de funcionar e os deixou à deriva no Mediterrâneo. Por três horas e meia, ela, sua irmã, Sarah, e outra mulher se revezaram em turnos para empurrar a embarcação até um local seguro.

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A vida levou-a para a Alemanha, e de lá... ao Rio.

No dia 5 de agosto, com "orgulho, felicidade e frio na barriga" levará a bandeira da primeira equipe de refugiados do COI (Comitê Olímpico Internacional), acompanhada de Anis, seu amigo de infância, e outros oito atletas sem pátria.

Mas longe da cruel realidade que os obrigou a abandonar seu país, Yusra, como todos chamam esta menina de apenas 18 anos, e Rami, de 25, preferem ver adiante.

"Prefiro falar de campeonatos, do futuro, de esperança", disse Rami, que deixou Aleppo, sua cidade natal, em 2011, quando os sequestros e atentados se tornaram recorrentes. Hoje ele vive na Bélgica.

"Somos seres humanos que perdemos nosso lar e estamos reconstruindo nossas vidas (...). Muitas coisas aconteceram, mas em algum momento tenho que seguir em frente", completou Yusra.

Síria sem futuro

Ambos disputarão as mesmas provas: 100m borboleta e livre.

As chances de medalha são mínimas, mas ainda assim não deixaram de treinar duro duas vezes ao dia na piscina do Parque Aquático no Rio.

"As piscinas estão excelentes, vimos campeões mundiais, olímpicos, é uma grande honra, estou muito feliz de estar aqui, tem sido uma experiência maravilhosa", expressou ela.

"É um sonho de infância, todo atleta sonha com isso", disse Rami, que ao abandonar a Síria foi para Istambul morar com seu irmão, mas acabou deixando a Europa porque na Turquia não o permitiram competir profissionalmente.

Primeiro foi para a Grécia e depois para a Bélgica. Nunca pensou que não voltaria para casa.

Os horrores da guerra não permitia a esses dois jovens vislumbrarem o tão sonhado futuro.

"Tinha uma vida normal, não havia tiroteio ou bombardeios (onde vivia), ia para a escola, ia nadar, mas no final para que, não havia futuro, saiba que não iria chegar a um nível olímpico", expressou Yusra, que não perdeu nenhum parente no conflito, mas dois amigos nadadores foram mortos.

Gratificante

Os dois têm em comum uma família de nadadores. A principal influência de Rami, por exemplo, é seu tio Majad, que o estimulou a seguir o caminho das piscinas.

O pai de Yusra era treinador e sua irmã também nada, ainda que hoje treine com o alemão Sven Spannekrebs que, como ela, estreia nos Jogos Olímpicos sem representar seu país.

"É até mais gratificante, acredito", disse à AFP.

A menina, muito eloquente e com inglês fluente, chegou a representar a Síria em um campeonato de piscina curta em Istambul, quando tinha 14 anos. Rami o fez em 2009 e 2011 no Campeonato Mundial.

Agora com a Equipe Olímpica de Refugiados (ROT, em inglês) estampada no gorro, como se sentiria ao competir contra uma síria que represente o país?

"Não vou pensar em quem estará do meu lado, ou qual é sua nacionalidade, a única coisa que vou pensar é em como vou nadar", lançou.

E não terá com o que se preocupar: os dois nadadores sírios na Rio-2016 - Jouma Baean e Al-Barazi Azad - competem em provas diferentes.

Nostalgia

Na Vila Olímpica, Yusra confessou que espera conhecer o tenista espanhol Rafael Nadal - ele "me encanta", admitiu maliciosa - junto, é claro, de seu ídolo Michael Phelps.

Se Phelps irá tirar uma foto com esses meninos? Em 2009 disse ao nadador sírio que não, durante um Campeonato Mundial. "Mas não foi só comigo, não tirou com ninguém. (Ele) é um modelo e espero que dessa vez eu consiga a minha foto", afirmou.

O campeão olímpico chegou ao Rio na terça-feira (2).

Entre risos, lágrimas e objetivos desses 10 atletas, a nostalgia nunca deixa de bater à porta.

"Realmente sinto falta de Damasco, espero voltar um dia, sinto falta de tudo. Não quero que os sírios se deem por vencidos, espero que se lembrem de mim, que sigam seus sonhos", concluiu.

Funcionários de entidades humanitárias dizem que não há comida e pouca água para os 64.000 refugiados sírios presos no deserto desde que a Jordânia selou sua fronteira na semana passada, em resposta a um ataque suicida.

Abeer Etefa, do Programa Mundial de Alimentos, disse neste domingo que um fechamento prolongado "poderia colocar a vida dos sírios presos em risco". Os refugiados que vivem em acampamentos de fronteira têm contado com entregas de comida e água a partir do território jordaniano, mas o país afirmou que a agências internacionais devem encontrar alternativas.

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A Jordânia fechou as fronteiras depois que um ataque suicida matou sete soldados jordanianos última terça-feira. Desde então, apenas dois carregamentos de água chegaram para os refugiados. Etefa diz comida foi distribuída pela última vez há duas semanas. Ela diz que o PAM compreende as preocupações de segurança da Jordânia, mas espera que a fronteira seja reaberta. Fonte: Associated Press

A Turquia se viu abalada nesta quinta-feira com uma revelação de uma série de supostos abusos sexuais cometidos contra crianças sírias em um campo de refugiados considerado exemplar pelas autoridades turcas.

Um agente de manutenção do campo de Nizip, situado na província de Gaziantep (sudeste), próximo da fronteira síria, está sendo acusado de ter violentado pelo menos oito crianças sírias entre 8 e 12 anos no ano passado, informou a agência de imprensa Dogan.

A agência do governo turco a cargo de situações de emergência (AFAD), que gerencia o acampamento onde vivem 10.800 pessoas, indicou em um comunicado que "acompanhava de perto" o caso.

Vários dirigentes europeus, entre eles a chanceler alemã, Angela Merkel, e o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, visitaram há um mês o campo vizinho, Nizip II. Tusk elogiou a ação da Turquia, "o melhor exemplo para o mundo da forma como se devia tratar os refugiados".

O Partido Republicano do Povo (CHP), principal formação da oposição, pediu a abertura de uma investigação parlamentar e enviará na sexta-feira uma delegação ao campo de Nizip, indicou no Twitter Veli Agbaba, secretário-geral adjunto.

Segundo o jornal Birgün, o agente, detido em setembro, é suspeito de ter estuprado trinta crianças, ainda que a maior parte das famílias não tenha denunciado por medo de serem expulsas. A promotoria pede 289 anos de prisão.

O homem está sendo acusado de ter atraído as supostas vítimas à área dos banheiros, onde as teria violentado em troca de algo entre 1,5 e 5 libras turcas (o equivalente a 0,45 centavos de euros a 1,50 euros), segundo Dogan.

"A AFAD está tomando medidas para evitar novos incidentes desse tipo", indicou a agência no comunicado.

A Turquia acolhe oficialmente três milhões de refugiados, incluindo 2,7 milhões de sírios, três quartos dos quais vivem fora dos acampamentos.

Em sua visita à ilha grega de Lesbos, Francisco deu uma lição ao mundo ao levar consigo três famílias de refugiados sírios, no total de doze pessoas, para que iniciem vida nova sob a proteção do Vaticano. "Francisco nos salvou a vida", afirmaram.

"Ele é nosso salvador. Ficaremos à altura desta oportunidade", acrescentaram.

As três famílias, muçulmas e em situação regular, que viajaram com Francisco no avião, passaram sua primeira noite hospedados na Comunidade católica de São Egídio, no bairro romano de Trastevere.

Em um gesto desafiador do pontífice em relação à Europa, Francisco reconheceu ante a imprensa que "é uma gota no mar, mas, depois desta gota, o mar não será mais o mesmo", citando madre Teresa, durante o voo de volta de Lesbos.

Francisco, neto de migrantes italianos, contou que a ideia lhe foi sugerida há uma semana por um colaborar.

"Havia também duas famílias cristãs, mas os papéis não estavam prontos. Para mim, todos os refugiados são filhos de Deus", insistiu.

Depois de sua chegada à Roma, os refugiados sírios agradeceram ao papa "a sorte que deu a eles, com seu gesto de esperança que tanto os comoveu", segundo informou o jornal La Stampa.

Se no início pensavam em ir para a Alemanha ou o norte da Europa, agora se sentem totalmente agradecidos pelo gesto do Papa. "Somos os convidados do papa, ele nos salvou e devolveu a vida".

"Vimos amigos e parentes morrerem sob os escombros, fugimos porque na Síria não tínhamos qualquer esperança", explica Hassan, engenheiro originário de Damasco, acompanhado por sua esposa, Nour, e seu filho de dois anos.

"Em Lesbos, compreendemos que estávamos bloqueados em um lugar de onde não poderíamos sair, em uma prisão", lamentou-se. Até o dia em que chegou o Papa, "nosso salvador", segundo ele.

"Esperamos que a opinião pública na Europa compreenda nossas razões e que e o gesto do Papa tenha suas consequências na política em relação aos refugiados", declarou, por sua vez, Nour ao jornal La Repubblica.

- O dom do Papa -

Wafa, junto a seu marido Osama e seus filhos Masa e Omar, de 8 e 6 anos, descreve os contínuos bombardeios que viveu nos últimos meses.

"Desde então, meu filho Omar fala muito pouco, nenhuma palavra sai de sua boca, está encerrado em um silêncio impenetrável", conta a mãe, visivelmente triste.

Em Lesbos, "os dias eram longos até que Francisco nos devolveu a vida".

Ramy, um professor de 51 anos, explica que fugiu de Deir Ezor, uma província controlada pelo grupo Estado Islâmico (EI), com sua esposa Suhila e seus três filhos - Rashid e Abdelmajid, de 18 e 16 años, e a pequena Al Quds, de 7 anos. Depois da destruição de sua casa, decidiram ir embora.

"Somos gratos ao Papa, estaremos à altura desta oportunidade que ele nos deu e do dom que nos proporcionou", declarou ao La Stampa. Ele admitiu não saber se sua vida deve recomeçar na Europa ou talvez um dia possam voltar para uma Síria sem guerra e violência.

Com estas novas famílias, o Vaticano, que tem 1.000 habitantes, abriga 20 refugiados. Se os 300 milhões de europeus fizessem a mesma coisa, 6 milhões de refugiados seriam acolhidos.

No final do ano passado, o Papa convidou a todas as paróquias da Europa a abrigar uma família de refugiados, um pedido a que muitos não responderam devido à crescente desconfiança em relação aos muçulmanos.

O papa Francisco pediu ao mundo e, sobretudo, à Europa, para que responda de maneira "digna de nossa humanidade comum" à crise migratória, durante uma visita ao campo de Moria, na ilha de Lesbos, antes de embarcar de volta a Roma com doze refugiados sírios muçulmanos.

"Somos todos migrantes", disse o Papa, em uma oração comum com o patriarca de Constantinopla Bartolomeu e Ieronymos, o arcebispo ortodoxo de Atenas e de toda a Grécia, pouco antes de concluir sua visita ao campo.

O Papa quis ir além das palavras e dar o exemplo. "Como sinal de acolhida aos refugiados, ele retornou a Roma acompanhado no mesmo avião por três famílias de refugiados, doze pessoas, das quais seis menores de idade", segundo o porta-voz da Santa Sé, o padre Federico Lombardi.

Esses refugiados chegaram em solo grego antes da entrada em vigor, em 20 de março, de acordo entre a União Europeia e a Turquia que permite a expulsão de migrantes. Uma maneira de evitar uma intervenção muito política, enquanto que de acordo com Lombardi, a visita à Lesbos foi "estritamente humanitária e ecumênica, não política".

A acolhida "ficará a cargo do Vaticano. A hospitalidade inicial será garantida pela Comunidade de São Egídio", uma organização católica italiana, informou Lombardi.

O Papa chegou no final da manhã deste sábado neste campo onde 3.000 pessoas, incluindo muitas mulheres e crianças, estão bloqueadas, à espera de serem reenviadas para a Turquia e a seus países de origem.

'Migrantes são pessoas'

"Queridos amigos, quero dizer que vocês não estão sozinhos (...). Não percam a esperança!", declarou o Papa, dirigindo-se aos refugiados e migrantes em Moria, sobre quem ele enfatizou o sofrimento e a incerteza "face ao que o futuro reserva".

"Que todos os nossos irmãos e irmãs deste continente, como o Bom Samaritano, venham ajudá-los no espírito da fraternidade, solidariedade e respeito pela dignidade humana que marcou sua longa história", acrescentou, em uma repreensão implícita a vontade das autoridades europeias de reenviar esses migrantes à Turquia.

Não podemos esquecer que "os migrantes, antes de serem números, são pessoas", ressaltou.

Francisco, acompanhado pelo patriarca Bartolomeu e o patriarca Ieronymos, passou uma hora no campo, cumprimentando, abençoando e recebendo com carinho os desenhos de várias crianças.

"Viemos aqui para atrair a atenção do mundo sobre esta grave crise humanitária e pedir por sua resolução", acrescentou o pontífice.

"Freedom" (liberdade) gritou a multidão, que o recebeu com cartazes de "Help" (ajuda).

"Abençoe-me", soluçou um migrante ajoelhado diante do Papa.

"Aqueles que têm medo de vocês não olharam em seus olhos (...) não viram os seus filhos", acrescentou o patriarca de Constantinopla, e "o mundo será julgado sobre a maneira como tem os tratado".

Antes de almoçar com alguns refugiados no campo, os três prelados também assinaram uma declaração conjunta pedindo ao mundo para mostrar "coragem" para enfrentar esta "crise humanitária colossal".

Os exilados de Moria estão detidos em condições denunciadas como miseráveis por ONGs, após o endurecimento europeu frente ao êxodo iniciado em 2015 de pessoas que fogem de guerras e da pobreza.

Uma situação marcada pelo fechamento da rota dos Balcãs e pelo acordo UE-Turquia.

A visita do Papa à ilha de Lesbos, porta de entrada dos migrantes na Europa, visa insistir em uma mensagem de solidariedade e acolhida, que ainda encontra dificuldades para superar as tensões xenófobas.

O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, ecoou essa mensagem durante uma breve entrevista depois da chegada do Papa, criticando "alguns parceiros europeus que, em nome da Europa cristã, elevaram muros altos".

Após um minuto de silêncio, os três líderes cristãos lançaram coroas de flores no mar, em memória das vítimas.

Desde o início do ano, 375 migrantes, em sua maioria crianças, morreram afogados tentando a travessia, somando-se aos milhares de mortos em 2015.

Essas tragédias diminuíram consideravelmente desde a entrada em vigor do acordo UE-Turquia, uma vez que as chegadas nas ilhas gregas baixaram de milhares por dia para algumas dezenas atualmente.

Neto de imigrantes italianos, o Papa intensificou o seu posicionamento em favor da acolhida dos refugiados e migrantes.

Poucos meses depois de sua eleição, Jorge Bergoglio havia visitado a ilha italiana de Lampedusa, principal porta de entrada para os migrantes, para criticar a "globalização da indiferença" às tragédias migratórias.

O secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, afirmou nesta quarta-feira (30) em Genebra que a crise dos refugiados sírios exige "um aumento exponencial da solidariedade mundial".

"Estamos aqui para responder à maior crise de refugiados e deslocados de nosso tempo (...) Isto exige um aumento exponencial da solidariedade mundial", declarou na abertura de uma conferência para buscar países de recepção aos refugiados.

O secretário-geral destacou que pelo menos 480.000 sírios, ou seja, 10% dos refugiados e deslocados que fugiram do conflito na Síria, precisam de um país de acolhida nos próximos três anos. "Os vizinhos da Síria demonstraram uma hospitalidade excepcional", disse. O Líbano, recordou, recebeu mais de um milhão de sírios, a Turquia mais de 2,7 milhões e a Jordânia mais de 600.000.

Um relatório divulgado na terça-feira pela ONG britânica mostrou que os países ricos receberam apenas 67.100 refugiados sírios, o que representa 1,39% do total. "Quando se administra bem, a acolhida de refugiados é uma vantagem para todos", disse Ban.

Os refugiados "aportam novos talentos e novas experiências a uma mão de obra que envelhece", completou. Ban recordou que a ONU busca uma solução política para o conflito que provocou mais de 270.000 mortes desde 2011.

Os países ricos acolheram apenas uma pequena parcela dos quase cinco milhões de refugiados procedentes da Síria, indicou a ONG britânica Oxfam em um relatório divulgado nesta terça-feira (29). No texto, a ONG pede aos países ricos que façam um esforço e que aceitem pelo menos 10% dos 4,8 milhões de refugiados sírios registrados na região.

Hoje, os países ricos reinstalaram apenas 67.100 pessoas, ou 1,39% dos refugiados, segundo a organização. A Oxfam publicou seu informe na véspera de uma conferência internacional promovida pela ONU em Genebra, quando os países têm de prever lugares para reinstalar os refugiados sírios.

A grande maioria permanece nos países próximos quando o conflito chega a seu sexto ano. O objetivo da conferência da ONU é conseguir "compartilhar a responsabilidade global" derivada da crise dos refugiados, provocada pela guerra nesse país. Já são mais de 270.000 mortos.

Segundo a Oxfam, apenas três países ricos - Canadá, Alemanha e Noruega - fizeram mais do que lhes cabia em matéria de acolhida permanente de refugiados. Outros cinco países - Austrália, Finlândia, Islândia, Suécia e Nova Zelândia - também se comprometeram a fazer 50% mais do que sua parte. Já os 20 países restantes examinados pela Oxfam estão abaixo das expectativas.

Os Estados Unidos se comprometeram com 7% dos quase 171.000 considerados sua parte. Até agora, o governo americano reinstalou 1.812 refugiados sírios e indicou que assumirá mais 10.000. Holanda também beira os 7%; Dinamarca, 15%; e Grã-Bretanha, 22%, segundo a Oxfam.

De acordo com a diretora da Oxfam, Winnie Byanyima, "os países com economias fortes, serviços eficazes e infraestruturas desenvolvidas, podem reinstalar de imediato meio milhão de refugiados, se assim decidirem". Byanyima destacou que, no Líbano, um em cada cinco habitantes é um refugiado sírio e, na Jordânia, um em cada dez.

Mais da metade dos sírios foi forçada a abandonar suas casas desde março de 2011, quando o governo de Bashar al-Assad reprimiu manifestantes brutalmente, dando início à guerra civil. Nesta terça-feira, a ONU pediu à Turquia que abra suas fronteiras a dezenas de milhares de sírios que fogem da ofensiva lançada pelo Exército de Al-Assad, com apoio da Rússia, contra os rebeldes da região de Aleppo (norte).

Em 12 de janeiro, a ONU contabilizou 13,5 milhões de pessoas afetadas, ou deslocadas pela guerra, de uma população total de 23 milhões de habitantes no início do conflito). De acordo com a ONU, 486.700 pessoas vivem em regiões cercadas pelo Exército, ou pelos rebeldes. Dezenas já morreram por desnutrição, ou por falta de assistência médica.

Duas ONGs relataram, nesta terça, que mais de um milhão de sírios vivem em 46 localidades sitiadas - a maioria, pelo governo e por seus aliados. No exterior, o número de refugiados sírios beira os 4,7 milhões. "É a população de refugiados mais importante para um único conflito em uma geração", alertou em julho de 2015 o alto comissário da ONU para os refugiados, Antonio Guterres.

A maioria dos refugiados se encontra nos países vizinhos da Síria, em especial, na Turquia, com entre 2 e 2,5 milhões, e no Líbano, com 1,2 milhão, mais de um quarto da população deste país.

Na Jordânia, 630.000 conseguiram abrigo, segundo a agência da ONU para os refugiados (Acnur), e mais de um milhão, de acordo com o governo jordaniano. No Iraque, haveria pelo menos 225.000 refugiados sírios, e 137.000 no Egito.

Nesses países, a maioria dos refugiados vive em condições precárias, com problemas de saúde e em meio a tensões com as comunidades locais. Além disso, é cada vez maior o número de refugiados que tentam chegar à Europa, recorrendo a traficantes de pessoas. Segundo a Europol, cerca de um milhão de imigrantes, principalmente sírios, iraquianos e eritreus, chegaram ao "Velho Continente" em 2015.

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