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O Grupo Teatral Drama Rasgado faz sua estreia nos palcos de Belém neste fim de semana, com a montagem de “Os Fuzis da Senhora Carrar”. Numa aldeia da Andaluzia, em plena Guerra Civil Espanhola (1936-1939), Tereza Carrar luta contra a pressão de todos para impedir que seus filhos vão para o front, lutar ao lado das tropas do exército republicano contra o golpe militar do general Francisco Franco, que derrubara o governo constitucional. “A posição de Tereza pela neutralidade é exposta como um equívoco diante da inevitável violência da guerra movida pelo capitalismo contra os avanços sociais iniciados pelo governo republicano”, diz Larissa Latif, que interpreta a protagonista.

A pequena tragédia familiar revela o posicionamento do autor de que, diante da injustiça, retirar-se do conflito é ser conivente com o opressor. Ao mesmo tempo, as ideias contrárias às de Tereza, expressas por personagens como seu irmão Pedro e a Sra. Pérez, procuram reforçar o poder da resistência e a esperança na vitória popular em um dos textos mais conhecidos e aclamados do dramaturgo alemão Bertold Bretch. “O texto trata-se de uma pungente metáfora da situação da Espanha, um país rural, mergulhado num conflito muito além das suas forças e dos interesses nacionais, objeto da cobiça de potências estrangeiras”, conforme pontua a diretora do espetáculo Karine Jansen.

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Escrita em 1937, um ano após a morte de Federico Garcia Lorca, o grande poeta e dramaturgo espanhol, uma das primeiras vítimas da violência franquista, "Os Fuzis da Senhora Carrar" pode ser lida como uma ode esperançosa, ainda que melancólica, à liberdade e à luta por um mundo de justiça e solidariedade.

A temporada será de 8 a 30 de junho, aos sábados e domingos, sempre às 19 horas, no espaço artístico alternativo Pérola da Campina, na rua Aristides Lobo, 40; com ingressos no valor de R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada).

Por Lucas Corrêa, especialmente para o LeiaJá.

 

Quando uma obra é considerada clássica, vários temas que podem ser identificados nela se tornam atemporais. Tais temas conseguem transcender o contexto no qual a obra foi lançada e se renovam constantemente. Assim acontece com "A Casa de Bernarda Alba", o último texto escrito pelo escritor espanhol Federico García Lorca, publicado em 1936, que estreia sua segunda temporada nos palcos de Belém, em uma montagem colaborativa entre os alunos dos cursos técnicos de teatro, cenografia e figurino, da Escola de Teatro e Dança da UFPA (ETDUFPA).

Na obra de García Lorca, uma viúva, chamada Bernarda, impõe um rigoroso luto de oito anos na casa onde vive com as cinco filhas, a governanta, uma criada e a mãe, considerada “louca”. A atmosfera de opressão que toma conta do ambiente é atravessada por temas como romance, inveja, intrigas, machismo e o relacionamento instável entre as cinco filhas de Bernarda – mulheres extremamente diferentes entre si. Apesar de viverem em uma casa na qual portas e janelas estão constantemente trancadas, o luto imposto não impede que as filhas de Bernarda alimentem sonhos, desejos de mudar a realidade que as rodeiam e anseiem pela liberdade, segundo Karine Jansen, uma das diretoras da montagem. Tais temas, apesar dos mais de 80 anos de distância entre a publicação da obra e a atual encenação, são extremamente atuais e muito perceptíveis no atual contexto sócio-político.

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O espetáculo, dirigido por Jansen juntamente com Larissa Latif, fica em cartaz de 18 a 20 e 25 a 27 de janeiro (sexta a domingo), no Teatro Universitário Cláudio Barradas, com sessões às 20 horas, com ingressos nos valores de R$ 14,00 (inteira) e R$ 7,00 (meia-entrada).

Por Lucas Corrêa, especialmente para o LeiaJá.

 

A nova edição de "Confesso que vivi", do Nobel de Literatura chileno Pablo Neruda, incorpora um capítulo sobre o poeta espanhol Federico García Lorca e sua homossexualidade, assim como textos inéditos, que somam mais uma centena de páginas à versão original.

São documentos inéditos que apareceram na reforma da casa-museu 'La Chascona', em Santiago, e que se pensava pertencer a Matilde Urrutia, sua última esposa e guardiã do legado do poeta que morreu em circunstâncias ainda não esclarecidas em 23 de setembro de 1973, 13 dias depois do golpe militar de Augusto Pinochet.

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"É muito interessante o que há sobre García Lorca, sobre sua homossexualidade", disse o diretor da Fundação Neruda, Fernando Sáez, à AFP.

A homossexualidade do poeta espanhol estava muito presente neste escrito de Neruda, que se refere ao modo "obscurantista" com o qual América Latina e Espanha na época escondiam "cuidadosamente esta inclinação pessoal de Federico".

Uma nota manuscrita de Matilde explica o motivo pelo qual não foi incluído o capítulo "O último amor do poeta Federico" na versão original de "Confesso que vivi", o livro de memórias do poeta chileno, publicado quase um ano depois de sua morte.

"Foram muitas as vezes que conversamos com Pablo se ele deveria incluí-lo ou não. Ele me disse textualmente: 'O público está suficientemente desprovido de preconceito para admitir a homossexualidade de Federico sem menosprezar o seu prestígio?' Essa era sua dúvida. Eu também duvidei e não o incluí nas memórias. Aqui o deixo, acho que não tenho direito a cortá-lo", explica a nota.

Para Sáiz, o tratamento do tema "é muito esclarecedor para o pensamento de Neruda" e "fala de sua humanidade". A admiração de Neruda pelo autor de "Romanceiro cigano" é patente

Neruda e Lorca se conheceram em Buenos Aires, cidade para onde o chileno foi enviado em 1933 para trabalhar na embaixada do Chile, e onde o espanhol de Granada estreou "Bodas de sangue" no Teatro Maipo no verão deste mesmo ano.

Foi uma amizade à primeira vista fatalmente interrompida pelo fuzilamento de Lorca em 18 de agosto de 1936, no alvorecer da Guerra Civil espanhola.

A nova edição das memórias de Neruda, publicada pela editora Seix Barral, terá cerca de cem páginas a mais e foi preparada entre 2016 e 2017.

Além do capítulo sobre Lorca, a nova edição incorpora escritos sobre o sul do Chile, religião e perfis de poetas como o chileno Pablo de Rokha, incluído na categoria de "inimigos literários" e descrito como cínico, inescrupuloso e chantagista.

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