O candidato opositor à presidência do Uruguai, Luis Lacalle Pou (centro-direita), chega como favorito à eleição deste domingo (24) no Uruguai, o que pode marcar o fim de 15 anos de governos de esquerda no país.
Líder do Partido Nacional, Lacalle Pou obteve menos votos do que seu adversário da situação, o ex-prefeito de Montevidéu Daniel Martínez, no primeiro turno de outubro. Para o segundo, porém, conseguiu compor uma coalizão de partidos liberais, de direita e esquerda socialdemocrata que agora lidera as pesquisas.
As últimas sondagens dão a Lacalle Pou mais de 50% das intenções de voto, enquanto Martínez, da governista Frente Amplo (esquerda), reúne até 44%.
- Um plebiscito para a esquerda -
Para o cientista político Diego Luján, da Universidade da República, a votação equivale a um plebiscito sobre as conquistas da esquerda.
"Quando há um partido que está no governo durante três períodos [desde 2005] com maioria parlamentar (e) podendo levar sua agenda adiante", sem necessidade de acordos com outras siglas políticas, "os resultados são responsabilidade desse partido", afirmou Luján, na entrevista à AFP.
O pesquisador ressaltou que, "em um sistema de partidos institucionalizado" como o do Uruguai, "com atores estáveis que são sempre os mesmos, as pessoas identificam claramente quem é responsável pela gestão de governo. Então, há uma avaliação" de resultados.
Nas eleições de 2014, com uma economia em crescimento e liderado por um de seus líderes históricos - Tabaré Vázquez, primeiro presidente proveniente de um partido de esquerda no Uruguai -, a Frente Ampla derrotou Lacalle Pou. À época, ele buscava a Presidência pela primeira vez.
A avaliação então "jogava a favor" da esquerda, "porque tinha conquistas para exibir", mas "há poucas conquistas neste terceiro governo", estima Luján.
Em seus dois primeiros governos, a coalizão aprovou emblemáticas leis, como a do aborto (2012), casamento entre pessoas do mesmo sexo (2013) e a pioneira legalização da maconha (2013).
- Insegurança e impostos, temas em jogo
No topo das preocupações dos eleitores está a insegurança crescente. Um país considerado seguro no violento contexto latino-americano, o Uruguai registrou um aumento de 45% dos casos de homicídio entre 2017 e 2018, e esta taxa passou de 5,7 para 8,4 a 100.000 habitantes, entre 2005 e 2015, com a esquerda no poder.
Além disso, a economia se encontra estancada, com o desemprego em torno de 9,5%, em meio às queixas pelo custo das tarifas públicas, combustível e pressão tributária entre empresários e comerciantes.
"O Uruguai não aguenta mais impostos", repete o advogado Lacalle Pou, que se comprometeu não apenas a não elevar a carga tributária, como a gerar US$ 900 milhões de poupança no Estado para baixar o persistente déficit fiscal de 4,9% do PIB.
Já Martínez considera que se deve fazer "o impossível" para não subir impostos, mas não descarta a medida.
E, embora fale de renovação, recorrerá à Velha Guarda da Frente Ampla. Já anunciou que o ex-presidente José Mujica (2010-2015), de 84 anos, será seu ministro da Agricultura, e o atual ministro da Economia, Danilo Astori, de 79, seu chanceler.
A decisão gerou atritos em uma campanha que teve dificuldades desde o começo, quando vários nomes propostos para integrar a chapa presidencial com Martínez terminaram descartados, ou rejeitando o convite.
A Frente Ampla também ficou sem parceiros. Embora mantenha uma parcela de 39% do eleitorado e das cadeiras no Parlamento, perdeu suas maiorias. Nenhum partido do arco opositor lhe estendeu a mão para o segundo turno.
"Três períodos consecutivos com maioria parlamentar lhe foram úteis para não depender de outros partidos", mas isso "foi colocando os partidos de oposição atrás de um discurso cada vez mais de mudança e de alternância", inclusive entre formações que estão nos extremos ideológicos, estimou Luján.
Cerca de 2,6 milhões de uruguaios são esperados nas urnas no domingo. O voto é obrigatório no país. Eleito por maioria simples, o próximo presidente assumirá em 1º de março de 2020 para um mandato de cinco anos.